2015-04-11
Nas últimas décadas tudo mudou nos nossos computadores. Os ecrãs. Os componentes internos. O tamanho, o peso, os materiais e o software em si.
Mas uma coisa permaneceu da mesma forma desde os primórdios: as ferramentas que usamos para controlá-los. Então, é até um pouco estranho que nos esforcemos para acabar com elas.
No início, duas formas competiam para definir como falaríamos com computadores. De um lado, as linhas de comando e a interface gráfica. Do outro, o sistema que nos dava um ecrã que parecia uma área de trabalho e arquivos que pareciam pequenas pastas, que poderiam ser navegadas pelo uso do teclado e do rato.
A segunda opção venceu e, desde então, é ela que reina como principal forma de comunicarmos com um computador.
Mas, ao longo dos últimos cinco anos as coisas mudaram. Chegaram os ecrãs sensíveis ao toque (touch screen) e as formas de interacção gestual como o Leap Motion.
Recentemente a HP (Hewllett Packard) apresentou o Sprout, um computador que consiste num monitor touchscreen, uma câmara RealSense 3D, um projector e um pequeno tapete sensível ao toque para dar muitas opções de interacção.
E todos eles têm o mesmo objectivo: acabar com o teclado e com, o rato.
O Sprout é um conjunto interessante de sistemas que juntos sugerem para onde a computação está a caminhar, mas não é um produto finalizado, é uma experiência com novas formas de interacção, com interfaces baseadas em gestos, toques ou voz.
Não há como negar que o toque é maravilhoso para usos específicos, como ecrãs móveis que estão perto do nosso corpo. A interacção gestual é igualmente sensacional, especialmente para acções orgânicas como realidade virtual, exploração de modelos 3D, sendo as possibilidades de uso infinitas.
No entanto, estas formas de interacção não são apropriadas para muitos outros cenários. Elas ainda são imprecisas. Exigem, ainda, um esforço adicional para tarefas específicas relativamente ao teclado e ao rato.
Em alguns casos, dão-nos muita flexibilidade e controlo sobre algo que deveria ser simples, funcionando melhor o teclado e o rato. Noutros casos ainda não nos dão controlo suficiente. Não são, definitivamente, substitutos para todas as interfaces que usamos hoje.
Então de onde surgiu todo esse ódio ao teclado e ao rato?
Talvez tenha a ver com a forma como imaginamos o futuro e a forma como ele é apresentado em filmes e programas de Televisão.
Basta pensar nos filmes Relatório Minoritário (Minority Report) ou Homem de Ferro (Iron Man), onde Tony Stark navega usando apenas as mãos. Fomos seduzidos pela ideia de ambientes imersivos e que não exigem esforço. E, como resultado, os filmes que assistimos influenciam a forma como pensamos que a tecnologia deveria ser.
O que imaginamos ser o melhor nem sempre é o melhor.
Acontece que os seres humanos não são muito bons a prever quais as acções que serão mais rápidas – temos dificuldade em dizer a diferença entre uma interface que parece ser mais rápida e aquela que de fato é mais rápida.
Em 1989, o especialista em interação humanos/computadores Bruce Tognazzini relatou que utilizadores tinham dificuldade ao discernir qual a forma de interacção que era, de fato, a mais rápida.
Mesmo que os utilizadores pensassem que digitar comandos no teclado era mais rápido do que usar o rato, o oposto mostrou ser verdade – pensar num comando de teclado exige o que ele chama de “alto nível de funcionamento cognitivo”, e isso não é necessário no rato. “Os utilizadores atingiram um aumento significativo de produtividade com o rato apesar da própria experiência subjetiva”, disse Tognazzini.
Então, o que pensamos que pode ser um método moderno e rápido de interacção nem sempre se compara com o que realmente é mais rápido. Em certa medida, isso explica por que estamos tão ansiosos por entrar definitivamente na era do toque e dos gestos, mesmo que nossos dedos sejam menos precisos que os ratos.
No final das contas, faz muito mais sentido pensar num futuro com múltiplas formas de interacção. Computadores que incorporam o Leap Motion provavelmente fazem mais sentido do que algo totalmente sensível ao toque ou a gestos como o Sprout.
Fonte: Image_In Video Concepts