2015-08-04
Texto: Carlos A Henriques
A ideia do transporte para as salas de Cinema de estímulos para cada um dos sentidos de que os seres humanos são portadores já não é nova, como as imagens em movimento, de inicio a preto-e-branco, o som monofónico, a cor, as imagens widescreen, o 3D, o som estereofónico, o som surround (5.1 e 7.1), o sensurround, ou seja, o efeito em que era transmitido movimento na cadeira do espectador de acordo com a cena a visionar, fumos, bolas de sabão e outras, assim como borrifos de água em cenas do foro aquático ou fumos no caso de incêndios.
Todas estas experiências foram feitas em algumas salas de Cinema em Portugal, na grande maioria com sucesso total, contudo, a do movimento da cadeira, o sensurround, teve em 1974, enquanto novidade, um enorme sucesso, tendo sido apresentados apenas dois filmes, ambos no Cinema Tivoli, em Lisboa, o “famoso” “Earthquake” e “A Batalha de Midwai”, contudo foi abandonado em todo o mundo devido ao facto de se terem verificado uma série de derrocadas em salas nos EUA, dado que o sistema implicava, a trepidação da estrutura do edifício onde se procedia ao visionamento.
Sensurround-Esquema de Princípio
O “segredo” do sensurround residia na utilização de um sistema infra-sonoro, ou seja, de colunas assentes no piso da sala de visionamento as quais forneciam, com maior ou menor intensidade, ondas com uma frequência de 3 ciclos por segundo (3Hz), que o mesmo é dizer, com um comprimento de onda relativamente elevado, as quais não são audíveis pelo ser humano, mas são sentidas por este face à trepidação que provocam, tal como acontece num terramoto verdadeiro.
Na fase de pós-produção do filme, para além da edição da imagem e respectivos efeitos visuais, assim como do som, os estúdios tinham uma nova tarefa que era o de editarem as trepidações de acordo com o desenrolar das história no ecrã.
Jogando com a frequência atuava-se na velocidade de trepidação das cadeiras, enquanto que com maior ou menor intensidade do infrassom, o movimento da cadeira era mais ou menos profundo.
Estas informações eram impressas numa banda à margem dos fotogramas, junto à banda sonora, e lidas de um modo idêntico ao verificado com o som de cena, só que o encaminhamento era feito, não para as colunas sonoras tradicionais que equipam os cinemas mas para uma grande caixa infra sonora assente no chão na parte traseira da sala, fazendo-se, deste modo, a transmissão das ondas infra sonoras à estrutura do edifício.
Sistema 4DX
Face aos problemas levantados pelo sensurround e seu abandono prematuro, a empresa Sul Coreana “CJ 4DPLEX”, do consagrado “CJ Group”, desenvolveu um sistema baseado num princípio completamente diferente e muito mais seguro, ou seja, em alternativa ao movimento da estrutura do edifício o 4DX, foi este o seu nome de batismo, recorre a cadeirões especiais, constituídos por quatro cadeiras individuais, movidos por motores elétricos sempre que se pretende o efeito de movimento e trepidação.
Dado que cada cadeirão atua de um modo isolado dos restantes, é possível ativar apenas os que correspondem ao grupo da fila dos bilhetes vendidos, ou, em alternativa, através de um detetor na base do acento o qual dá indicações de acionamento sempre que alguém se senta, podendo cada um fornecer movimento, borrifo de água, fumo, brisa marítima, ventos ciclónicos e tudo mais que o filme implica.
Esta tecnologia foi empregue comercialmente pela primeira vez em 2009 em Seoul, na Coreia do Sul, na estreia do filme “Viagem ao Centro da Terra”, o qual, entre outras características, apresentava-se como sendo um filme 3D. Seguiram-se outros países como a Bulgária, Brasil, Chile, China, Colômbia, Croácia, Indonésia, Israel, Hungria, Japão, México, Peru, Polónia, República Checa, Rússia, Tailândia, Taiwan, Ucrânia e muitos outros, tendo alcançado em 2013 um número significativo de cadeirões, ou seja, cerca de 37.000, em 27 países e 100 cidades. Para 2015 estão previstas 300 salas disponíveis.
O uso do sistema 4DX implica investimentos de grande porte devido a várias razões como, por exemplo, o peso de cada cadeirão (constituído por quatro cadeiras individuais) ser cerca de 300Kg, pelo que a construção das salas de Cinema terá que entrar em consideração com tal fato, assim como fazer face às trepidações, vibrações e movimentos do mesmo, para além dos restantes apetrechos, como reservatórios de aromas, água, fumos e respectiva tubagem, para além do controlo electrónico ser totalmente automático.
Numa sala normal cada assento custa, em média, 150€, pelo que uma sala com 400 lugares corresponderá a um investimento de 60.000€, enquanto que o custo de um cadeirão ronda os 5.000€, o que fará com que o custo total, para o mesmo número de lugares, fique pela módica quantia de 500.000€ (Meio milhão de Euros).