2015-06-01
Não ter cópias de segurança dos nossos conteúdos digitais é estar à procura de problemas que podem custar tempo e dinheiro.
Há um mito urbano que conta que em 1895, no Ohio (EUA), havia apenas dois automóveis e que, mesmo assim, conseguiram colidir um com o outro. A moral desta história é que a lei de Murphy (“se algo pode dar errado, dará”) não conhece fronteiras e não faz distinções.
Assim, qualquer actividade que crie e faça uso de conteúdos digitais e tenha acesso a eles a partir de um dispositivo de armazenamento, não pode ter como certo que o disco rígido que contém esses mesmos conteúdos se vai manter seguro indefinidamente.
Hoje em dia, os discos possuem uma grande capacidade e podem arquivar inúmeros ficheiros de vídeo, áudio, projectos concluídos, material por editar e outros conteúdos, mas estes ficheiros podem ficar corrompidos ou danificados ou perdidos se o disco rígido avariar ou começar a funcionar de forma defeituosa. Um qualquer acontecimento imprevisto pode causar danos físicos num disco: a unidade entrar em contacto com líquidos (água, por exemplo) ou sofrer um sobreaquecimento interno, uma simples oscilação de energia na alimentação do mesmo ou um curto-circuito, são muito comuns para serem negligenciados. Um choque mecânico, como uma queda, pode ainda provocar a perda dos dados, o que se pode traduzir em tempo e dinheiro perdido para tentar a recuperação, se é que tal seja possível. Quanto mais próximo estivermos de um deadline para a entrega do trabalho, mais critico se torna o problema, pois pode não tratar-se apenas de perder tempo, mas sim de suportar prejuízos graves como a perda de um cliente ou mesmo o pagamento de indemnizações. Tudo isso pode ser evitado se mantivermos cópias de segurança dos nossos conteúdos digitais.
A um nível mais básico, a simples duplicação dos conteúdos dá-nos uma segunda versão dos mesmos e pode ser realizada apenas numa questão de minutos.
Estão hoje disponíveis várias soluções tecnológicas que podem salvaguardar os nossos dados, em segurança e ao abrigo de um qualquer acidente ou imprevisto:
O Método Interno - Solução RAID (Redundant Array of Independent Disks)
A solução RAID constitui-se como um meio de criarmos um subsistema de armazenamento composto por vários discos individuais, com a finalidade de obter maior segurança e/ou desempenho. Com o intuito de protegermos os nossos dados podemos fazer uso de três formas distintas de RAID:
1ª) RAID 1 (Mirror) - Recorrendo ao RAID 1 podemos criar uma cópia do disco original num outro disco rígido interno ou externo. Para o conseguir, são utilizadas várias unidades de disco rígido, de preferência com a mesma capacidade de origem (é comum e desejável fazer uso de discos da mesma marca e modelo). Por exemplo, se considerarmos a solução Lacie 2big Thunderbolt, um dos discos rígidos (com capacidade de 2TB) é espelhado num segundo disco de 2TB dentro da caixa.
Isso significa que, em vez de se ter 4TB de espaço livre para usar (resultante da soma dos 2 discos de 2TB existentes no Lacie 2big Thunderbolt), ficamos apenas com 2TB.
Adicionalmente, a velocidade de leitura/gravação do disco é inferior à velocidade conseguida na configuração em que os discos surgem como unidos (esta configuração é denominada de RAID 0, ou Stripe e não oferece a possibilidade de backup, mas apenas um aumento de performance na sua velocidade de leitura/escrita. Adicionalmente, os discos rígidos devem oferecer determinadas características para serem usados em RAID, sendo determinante o seu nível de desempenho e fiabilidade num ambiente de utilização intensiva.
O RAID 0 trata, basicamente, todos os discos rígidos como se fossem um só, aumentando a velocidade geral de leitura/escrita do sistema mas, por outro lado, não oferece protecção contra acidentes ou falhas nas unidades usadas. No caso do RAID 1 são necessárias duas unidades configuradas em espelho. Os mesmos dados são gravados em simultâneo nas duas unidades independentes.
2ª) RAID 5 - Esta solução fornece velocidade e redundância na escrita dos ficheiros, usando cerca de um terço do espaço livre do disco para enviar dados de paridade para as unidades (uma pequena quantidade de dados que matematicamente representam uma maior quantidade do original).
Esta solução requer um mínimo de três discos rígidos e oferece um desempenho superior, já que os dados estão a ser lidos/escritos em múltiplos discos em simultâneo.
3ª) RAID 0 + 1 - Fazendo uso dos conceitos atrás abordados, resta-nos descrever uma solução que compreende duas configurações distintas de RAID numa solução única que oferece performance e segurança dos dados lidos/escritos.
Ao Juntar numa mesma solução o RAID 0 (Stripe) e o RAID 1 (Mirror) aumentamos significativamente a performance de leitura/escrita prevenindo a perda de dados ao configurar um segundo RAID 0 (Stripe) que é um espelho do primeiro.
Soluções por Software
O facto de todos os discos estarem juntos numa única caixa significa que qualquer tipo de “ataque” que possa suceder a uma unidade (como um vírus, uma sobrecarga eléctrica, etc.), tem o potencial de atingir todos os discos de uma só vez. Se isso vier a ocorrer e um disco ficar inoperante, há uma série de cenários, algo limitados, que nos permitem tentar salvar os nossos dados.
Caso o dano seja informático, há ferramentas de reparação por software que podem e devem ser experimentadas. Há vários softwares disponíveis no mercado que não exigem conhecimentos avançados de programação ou engenharia, e de custo relativamente económico - cerca de 100€.
Para Mac há a considerar o Alsoft DiskWarrior (OS X 10.3.9-10.9), que repara a estrutura de uma unidade para que os arquivos possam ser acedidos novamente. O File Scavenger Data Recovery Utility para PC (Windows 7/8, XP, Vista....) faz uma optimização dos recursos, bem como os procedimentos para reparação das falhas e erros do disco.
Se uma unidade falhar, como resultado de um dano físico do disco, a recuperação de dados é muito mais difícil mas, ainda assim, possível. Esta opção apresenta-se-nos como o último recurso, caso não tenhamos outras cópias do conteúdo da unidade, sendo o custo cobrado pelas empresas que se especializam nestes serviços muitas vezes exorbitante, dependendo da urgência e complexidade método de recuperação do disco rígido danificado.
A solução de armazenamento externo
Um outro método para copiar os conteúdos requer o uso de armazenamento que está fisicamente separado do sistema onde o original está localizado. O método mais simples é o de ligar um disco rígido externo ao computador e copiar todos os conteúdos para a nova unidade, seja através da simples acção de copiar/colar ou através do uso um programa para fazer a cópia da unidade. Estes programas podem ser configurados para copiar arquivos seleccionados ou fazer cópia de todo o disco rígido. Exemplos de programas são Carbon Copy Cloner para Mac’s e o FolderClone para PC’s. O disco rígido externo pode depois ser removido do computador e ser colocado num local seguro até que seja de novo necessário.
Armazenamento Óptico - Blu-ray
As unidades ópticas têm a vantagem de usar discos de gravação óptica que fazem com que o armazenamento seja fácil de manter por vários anos. Estes discos podem ser armazenados sem considerações muito especiais, requerendo-se, naturalmente, algum cuidado com as condições meteorológicas extremas a que este possa estar sujeito ou à natural deformação pela acção de um peso que seja colocado sobre os discos. Os discos Blu-ray que actualmente oferecem maior capacidade podem chegar aos 50GB. As unidades de gravação e leitura Blu-ray vêm na maioria das configurações actuais dos computadores e há, ainda, modelos internos e externos que estão disponíveis a preços acessíveis, tanto para PC’s como para Mac’s.
Armazenamento na Nuvem (Cloud)
Outra opção é armazenar os conteúdos online. Há empresas que fornecem estes serviços por uma taxa mas, independentemente do custo, o processo básico é o de que os arquivos são enviados para um servidor seguro onde são armazenados (como num disco rígido do computador). A vantagem é que o conteúdo está a salvo de qualquer evento que possa ocorrer localmente, tal como uma falha do disco rígido, um incêndio ou outro sinistro. As desvantagens incluem a possibilidade de um desastre no local do servidor, de piratas invadirem a sua privacidade e do facto do tempo de carregamento poder ser muito longo e, por esse motivo, desencorajar backups regulares.
Não obstante, o armazenamento na nuvem pode e deve ser visto como um dos muitos métodos para salvaguardar os nossos conteúdos. Não há uma única solução de cópia mas sim um conjunto vasto de soluções que nos permitem ter os nossos dados a salvo. Pese embora todas as soluções apresentadas, continua a haver uma falha que será sempre fatal - não encontrarmos disponibilidade e/ou tempo para salvaguardar os nossos dados em segurança.
No próximo artigo falaremos de sistemas de backup de grande capacidade, o LTO (Linear Tape Open) e o ODA (Optical Disk Archive).
Fonte: Image_In Video Concepts