2018-04-09
Texto: Carlos A Henriques
Das 444 sessões propostas para os 6 dias do evento optámos nos dois primeiros pelas 12 conferências dedicadas ao Futuro do Cinema, as quais ocorrem no espaço partilhado pela SMPTE (Society of Motion Pictures and Television Engineers) e pela NAB (National Association of Broadcasters), esta última a organizadora do evento global, remontando o mesmo a 1923, cuja realização contou com a cidade de New York como ponto de partida.
Todos os temas aqui abordados resultaram dos ventos de mudança anunciados o ano passado, só que agora com um trilho melhor delineado e já com algumas certezas como, por exemplo, o fim da projecção a favor dos ecrãs electrónicos nas salas de Cinema.
No primeiro painel de comunicações a proposta foi: “Getting Ready for Next Generation Cinema”, tendo participado no mesmo Ronan Boitard (Barco), Gary Feather (NanoLumens) e Jon Karafin (Light Field Lab).
A Barco continua a apostar na filosofia da projecção, apresentando 3 cenários possíveis no que respeita à quantidade de luz reflectida pela superfície dos ecrãs, respectivamente: 100 Nits (P3), 250 Nits (Rec. 2020) e 500 Nits (Rec. 2020), quando confrontada com a inevitabilidade de as imagens a partir de agora passarem a apresentar, na grande maioria, a característica HDR (High Dynamic Range).
Dada as várias modalidades HDR, assim como os múltiplos tipos de projectores, o problema da distribuição terá que entrar com tal facto em consideração, o que irá implicar novos procedimentos na fase de pós-produção, ou seja, actuação a nível do gamut cromático e respectivo volume, na gama dinâmica das imagens, no gamut de amostragem das imagens, assim como na própria eficiência da codificação.
A problemática da projecção com HDR
É nossa convicção que a projecção cinematográfica tem os dias contados, sendo tal facto justificado pelo movimento nesse sentido verificado durante o ano de 2017, assim como as duas comunicações que se seguiram, a primeira da responsabilidade da empresa NanoLumens, a qual preconiza o aparecimento dos ecrãs electrónicos do tipo LED/OLED/QLED, tendo os mesmos várias vantagens sobre a projecção tradicional, mesmo a baseada em LASER.
Segundo afirmou Gary Feather (NanoLumens), os LED não são reflectores como os ecrãs baseados em projecção, mas sim emissores de luz, podendo apresentar qualquer área desde os 2 metros quadrados aos 4.000, em superfícies planas ou curvas e serem usados em espaços com muita luz ambiente ou em salas às escuras, apresentam uma luminância de pico normalmente de 1.000 Nits (numa gama dos 700 aos 6.500 Nits), assim com um bit depth de 8, 10 ou 12 bits, para já.
O ano passado a Samsung apresentou aquele que poderá ser considerado o primeiro ecrã electrónico, prevendo-se para 2021 que as actuais 165.000 salas de Cinema no mundo passem a 200.000, das quais 150.000 serão electrónicas.
Ecrã electrónico. O futuro imediato das salas de Cinema
Fora do âmbito deste painel, a Sony apresentou na sua Conferência de Imprensa, no dia 8, o primeiro e gigante ecrã electrónico da marca vocacionado para o Cinema do futuro imediato, ou seja, o seu Crystal Light Emitting Diode, o qual deixou os convidados menos crentes a pensarem na mudança de discurso a partir de agora, pois a qualidade da imagem, com uma resolução de 8K, sobre o desfile das Escolas de Samba no Brasil, respeitante ao Carnaval do Rio de Janeiro de 2018, foi no mínimo excepcional, e isto num ambiente luminoso de um stand de feira.
CLED -Crystal Light Emitting Diode (Sony)
Voltando ao painel anterior, um novo “problema” se levanta aos Donos das salas de Cinema, assim como aos Distribuidores, às empresas de Pós-Produção e, em primeiro lugar, às empresas Produtoras, pois uma nova tecnologia começa a ter “pernas” para avançar, ou seja, a baseada no chamado princípio Light Field, no qual qualquer ponto de luz de uma qualquer imagem se irradia em todas as direcções.
A comunicação do evento (Jon Karafin)
Jon Karafin, da empresa Light Field Lab, foi a grande vedeta da sessão ao destruir todos os conceitos anteriormente apresentados, dando ao Cinema um novo tratamento, tanto no acto de captação como no do visionamento em sala ou em ambiente familiar, levando o espectador a ter uma posição dentro de cada cena a visionar e não ter mais o comportamento de um espectador passivo que olha para um ecrã onde tudo acontece. Em termos domésticos a promessa indica 2019 como o ano em que será apresentado o protótipo de toda a filosofia aqui discutida.
A Light Field no seu esplendor
Pela importância do tema, voltaremos mais tarde numa peça dedicada exclusivamente ao mesmo, o qual, estamos certos, irá despertar nos nossos Leitores uma curiosidade aumentada e com o apetite de viajarem a Las Vegas na próxima edição da NAB, ou, então, irem a Amesterdão, cinco meses mais tarde, para assistirem às demonstrações na IBC (International Broadcasting Convention).
Segundo Jon Karafin a filosofia Light Field corresponde ao primeiro passo do Cinema rumo à verdadeira Holografia, na qual as imagens reproduzidas serão equivalentes aquelas que se nos deparam diariamente na nossa vida normal.
Progresso das imagens cinematográficas
Nas restantes Conferências vários temas foram realçados, o que nos levará num futuro próximo a uma dissecação não só necessária como fundamental para se entender, de facto, o que está a mudar no Cinema para além das questões tecnológicas.
Há, contudo, um aspecto sobre o Cinema do Futuro que não pretendemos deixar para mais tarde, o qual tem a ver com um outro tema onde se discutiu a chamada “Gen Z (nascidos entre 1995 e 2015)-The YouTube Generation”, em que uma jovem estudante, Helen Ludé, da USCenter Trainment Technology, com apenas 15 anos de idade, apresentou o resultado de um estudo levado a efeito na sua Escola denominado “Post-Millennial Media and Cinema Habits”, cujos resultados deixaram um auditório, maioritariamente ocupado por Mestres do Cinema, muito apreensivo sobre o tipo de Cinema que se está a fazer no mundo e qual o rumo que o mesmo deve tomar.
Helen Ludé
Este é outro tema que merece um maior desenvolvimento e espaço para uma reflexão sobre o Cinema que se faz e o que deve ser feito em Portugal, para se evitar o risco de as salas de Cinema ficarem, definitivamente, entregues “às moscas”.
Sobre a Conferência de Imprensa da Sony, voltaremos à mesma na próxima peça.
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