2019-05-07
Texto: Nunes Forte
O Rádio Clube Português, que fez história no panorama radiofónico nacional, começou por ser um pequeno posto emissor identificado pela sigla CT1DY a que foi acrescentada em 1930, embora por pouco tempo, a designação Rádio Parede.
Em 1931 designava-se CT1GL - Rádio Clube da Costa do Sol e nesse mesmo ano passou a ser conhecido por CT1GL – Rádio Clube Português.
Na sequência da Revolução de 1974, e por lá terem sido divulgados os comunicados do Movimento das Forças Armadas, o RCP usou durante algum tempo a designação de Emissora da Liberdade.
Em 1975, como outros rádios, o RCPfoi nacionalizado passando a ser identificado por RDP – Rádio Comercial.
Quando em 1993 foi privatizado assumiu apenas a designação de Rádio Comercial, mantendo-se nos estúdios da rua Sampaio e Pina, onde ainda hoje funciona.
Entretanto nos anos 90, a família Botelho Moniz, antiga proprietária do Rádio Clube Português, procurou relançar a marca RCP através de duas rádios locais, uma em Lisboa outra no Porto, mas o projeto não resultou.
Em 2003, o grupo Média Capital fez igualmente uma tentativa para fazer renascer o RCP através de alguns dos seus antigos emissores, onde emitiram o Correio da Manhã Rádio e Rádio Nostalgia, entre outros, mas essa iniciativa também não teve êxito.
A história do RCP está recheada de peripécias. Logo no início da sua atividade, em 15 de setembro de 1935, um incêndio destruiu parte das instalações e dos equipamentos da estação na Parede, mas a solidariedade dos ouvintes e, sublinhe-se, o apoio de outras estações emissoras, como a própria Emissora Nacional, que desenvolveram ações como espetáculos de solidariedade, permitiu que a 26 de setembro desse mesmo ano a estação voltasse a emitir.
Instalações RCP na Parede
Pouco tempo depois e provavelmente pelo apoio radiofónico dado a Franco na Guerra Civil de Espanha a sede do RCP foi de novo destruída, dessa vez por uma bomba.
Uma medida do Estado Novo que afetou o RCP, e todas as outras emissoras existentes, algumas deixaram mesmo de existir, foi a proibição, através de um decreto do ministro Duarte Pacheco, da publicidade radiofónica, com o pretexto de que a mesma contribuía para a especulação comercial, medida que durou cerca de ano e meio, terminando em fevereiro de 1936.
Os programas infantis tornaram-se logo no início dos mais populares da estação. Aos domingos às 20,30 e durante meia hora estava no ar O Senhor Doutor, emissões muito bem organizadas e com um elenco que se tornou famoso, a pequenina Mimi Extremadouro, Branca Garcia, Henrique Samorano, José de Oliveira Cosme e José Castelo.
Em O Senhor Doutor revelaram-se nomes como, entre outos, os de Odette de Saint-Maurice, Carmen Dolores, Jorge Alves e Artur Agostinho. São dessa época inicial também programas que ficaram famosos como a orquestra Aldrabófona, os Serões de Arte e os relatos desportivos, o primeiro dos quais terá sido em 1933 de um jogo de futebol entre as seleções de Portugal e da Hungria.
Nesse tempo algumas reportagens diretas também marcaram a programação da estação, como o casamento real em Londres do duque de Kent com a princesa Marina da Grécia.
No início dos anos 60 os estúdios do Rádio Clube Português da Parede foram transferidos para Lisboa, onde foram construídas várias cabinas de emissão e gravação, inovando tecnologicamente e vendendo espaços a produtores independentes que também ajudaram a dinamizar a estação.
Régie 4 do RCP com Carlos Carrilho
Em agosto de 1963, o Rádio Clube Português introduziu profundas alterações no seu funcionamento, com o início da emissão contínua 24 horas diárias e com a autonomização do FM, emitindo programação própria, e assim justificando o slogan: Sempre no Ar, Sempre Consigo.
Dos pioneiros do RCP recordam-se Jorge Alves, que depois se transferiu para a Emissora Nacional, onde fez carreira como locutor e sonorizador e Mary que começou em 1936 e continuou ao serviço até quase ao fim da sua longa vida.
O Passatempo APA que chegou a produzir espetáculos de variedades foi um dos grandes programas da estação, como o Talismã de Armando Marques Ferreirae Gilberto Cotta que em 1952 inaugurou o horário matinal. Nesse programa foi criada a personagem do Sr. Messias e transmitido um Folhetim de Manuela Reis, que era também a única intérprete fazendo as vozes de todas as personagens.
A Onda do Otimismo que no seu início era animada pelas vozes de Artur Agostinho(até ficar exclusivo da Emissora Nacional) Etelvina Lopes de Almeida e Fernando Pessa, posteriormente teve as colaborações de Henrique Mendes, Maria Helena e Isabel Wolmar.
Zequinha e Lelé
Ficaram também famosos os Companheiros da Alegria de Igrejas Caeiro, com os diálogos do Zequinha e Lelé com Vasco Santana e Irene Velez,O Casal Caeiro dá-lhe uma Ajuda, Perfil de um Artista, etc.
Meia-Noite e Sintonia 63 de António Miguel foram também programas que marcaram uma época. Entre os locutores Julieta Fernandes e Aurélio Carlos Moreira.
À hora do almoço os Parodiantes de Lisboade Ruy e José Andrade lideraram o interesse dos ouvintes durante anos e foram os produtores do programa noturno PBX, realizado por Carlos Cruz e Fialho Gouveia.
Quando o Telefone Toca por Matos Maia alcançou enorme popularidade, justificando edições semelhantes noutras estações.
Matos Maia e António Miguel
Entre os programas publicitários destaque-se a originalidade de José de Oliveira Cosme com o programa A Vida é Assim, onde durante cerca de 30 minutos havia sempre uma história diferente envolvendo a publicidade que surgia naturalmente.
Uma das principais intérpretes era Maria Olímpia, filha do autor, que se tornou conhecida no munda das canções como Verónica. Após a morte do pai e para completar os contratos Verónica ainda realizou alguns episódios, convidando para intérprete Nunes Forte.
Mary, Nunes Forte e Odette de Saint-Maurice
Além da emissão contínua em onda média o Rádio Clube Português apostou na FM(Frequência Modulada), com melhor qualidade técnica e programação própria.
Joel Nelson com vários programas, e mais tarde com Espaço 3, conquistou enorme popularidade e o Em Órbita Iniciado em 1 de abril de 1965, ganhou o prémio internacional Onda 67.
A grande imagem de marca do RCP foi a informação dirigida por Luís Filipe Costa, que com Júlio Isidro e Joaquim Furtado, criou um novo estilo de informação condensada e que conseguia fazer passar nas entrelinhas muitas notícias que a censura proibia.
Luís Filipe Costa