Amesterdão, o Centro da Europa
2017-09-20
Texto: Carlos A Henriques
A entrada do Digital nas lides televisivas implicou o recurso a um novo local para a realização da IBC dado que Brighton não dispunha de um espaço próprio, sendo os múltiplos stands espalhados por quatro hotéis à beira-mar, assim como a resposta dos hotéis locais não ser suficiente para o número de participantes que de edição em edição aumentava drasticamente.
A ideia da escolha assentava em cinco pressupostos:
1. O mais central da Europa possível;
2. Espaço suficiente para futuro acréscimo do número de expositores;
3. Salas próprias para Conferências, Workshops e Masterclasses;
4. Auditório com dimensões razoáveis para demonstrações de sistemas de projecção e de áudio;
5. Oferta hoteleira sem quaisquer restrições.
O Centro de Exposições de Amesterdão, mais conhecido por RAI, dada a sua localização e infra-estruturas respondeu na perfeição ao pretendido, o que implicou a mudança, em 1992, da IBC de Brighton para esta bonita cidade holandesa, mantendo a periodicidade bianual, tal como aconteceu nos seus últimos anos no Reino Unido.
Contrariando as tradicionais datas de realização em Setembro, por questões de disponibilidade da RAI, a primeira edição holandesa teve lugar durante o mês de Julho.
Mudança para Amesterdão
O IBC Award passou a designar-se John Tucker Award prestando-se, assim, uma homenagem a um dos fundadores do evento, tendo sido criado, também o prémio para a apresentação do melhor stand tomando este a designação de Prémio John Etheridge, outro dos fundadores.
John Tucker
Em 1994 foi outro ano muito importante na vida da IBC pois foi a partir daqui que o evento voltou às suas origens em termos de periocidade, ou seja, passou a ser de novo anual e em Setembro, devendo-se tal facto a grandes desavenças entre os Expositores e a organização da ITS (International Televisian Symposium), Simpósio Internacional que se realizava nos anos ímpar na Suíça (Montreux), em alternância com a IBC. A ITS ainda se realizou em 1995, como habitualmente em Junho, mas foi um tremendo fracasso, o que conduziu à sua suspensão.
Digital Video Broadcasting-Satellite
Estamos em 1995 e eis que se dá inicio às transmissões de Televisão Digital, via satélite, formato DVB-S (Digital Video Broadcasting-Satellite), ficando a dever-se tal facto ao Canal Plus.
O formato 16:9 viu na edição de 1996 da IBC o despertar dos canais de Televisão para os seus benefícios. A Europa já tinha tido um experiência falhada com o famigerado PAL-Plus, o qual, por ter sido um dos maiores embustes criados pela Comissão Europeia afastou os bem intencionados com estes novos ventos de mudança. Entretanto os EUA iniciaram as emissões formais de Televisão Digital, e, como consequência, a Alta Definição e este novo formato widescreen.
HDCam
Como nota de especial destaque para a edição de 1997 há a considerar o lançamento, por parte da Sony, do seu formato de registo digital, o HDCam.
Em 1998 os Prémios IBC passaram a ter o seu dia de gala precisamente aos domingos e convidados muito especiais, razão pela qual a apresentação passou a designar-se por Sunday Spectacular sendo os primeiros convidados o tenor Russel Watson e a cantora pop Louise.
Ikegami EditCam II (HL-57)
Em 1999 a Ikegami apresentou uma camcorder, a EditCam II (HL-57), a qual fazia o registo das imagens e sons em hard disk, com a capacidade de 120GB, pois o lançamento da 1ª versão, a EditCam I, em 1995, tinha sido uma aposta falhada porque desfasada no tempo, pois com excepção da Avid com o seu CamCutter, mais nenhum fabricante estava em condições de apresentar equipamentos compatíveis com este novo formato.
O Cinema passou a ter um tratamento especial a partir da IBC 2000, dada a evidência da produção em formato Digital, dado que a grande maioria da pós-produção já o era, o que levou a Organização a dedicar um dia inteiro a este fenómeno com debates e projecções de alto nível técnico na chamada IBC Big Screen.
A Europa arrancou, finalmente, em 2004, com as emissões em HD, isto depois das experiências em 2002 com a DVB-T (Digital Video Broadcasting-Terrestrial), a nossa conhecida TDT (Televisão Digital Terrestre). A IBC desse ano, tanto a nível de Conferências como na Exposição de equipamentos, deu ao evento o necessário destaque.
O aparecimento do iPhone foi o grande tema da edição de 2007, prevendo-se, então, o desenvolvimento futuro das comunicações e contribuições televisivas naquilo que hoje se designa por MOJO (MObile JOurnalism), do qual as cadeias de Televisão actuais não abdicam por razão alguma.
O 3D andava no “ar”, nas Conferências, na Exposição, nas conversas de corredor e nas expectativas que James Cameron tinha anunciado no ano anterior durante a realização da NAB, ou seja, a rodagem do Avatar totalmente em 3D com estreia agendada para Portugal a 17 de Dezembro de 2009. A IBC não quis ficar fora da onda e proporcionou aos participantes a primeira ligação 3D live com Hollywood numa entrevista conduzida no Big Screen com Jeffrey Katzenberg, um especialista nestas matérias, durante a cerimónia de atribuição dos Prémios deste ano.
Foi ainda em 2008 que o canal de Televisão Pública Japonesa, a NHK, fez uma demonstração do seu sistema Super Hi-Vision, por alguns apelidado de 8K na época, com uma transmissão live a partir da Tower of London via fibra óptica.
O som, ligeiramente arredado destas andanças, viu abrir-se uma grande oportunidade em 2010 com a apresentação formal do formato Dolby 7.1 a que se seguiu a projecção do filme Toy Story 3. Foi um sucesso tremendo.
Pelo empenhamento da Dolby em toda a sua actividade ao serviço do desenvolvimento dos sistemas processadores de áudio e de som, foi-lhe atribuído o Prémio de Excelência de 2017.
Laboratório de ensaios da Dolby
Will.i.am do grupo musical Black Eyed Peas e Director Criativo de Inovação da Intel, fez, em 2012, uma Keynote brilhante sobre o processo que implantou na empresa no sentido de dar aos criativos o incentivo para que o trabalho destes resultasse em pequenas peças nas quais a imaginação fosse o papel principal das mesmas.
A concretização de um sonho de Ang Lee de realizar um filme 3D, a 120 imagens por segundo e por olho, com a resolução 4K, HDR, Projecção a LASER e som de outra galáxia, ou seja, com a característica Dolby Atmos, levou a Amesterdão, em 2016, este realizador de Taiwan, radicado nos EUA, para falar do seu último filme “Billy Lynn‘s Long Halftime Walk”. A sua simplicidade e saber deixou os participantes no encontro sem palavras e a admirar um pouco mais esta figura espantosa.
Em 2017, entre os vários temas em discussão há um que se destaca, que o mesmo é dizer, a filosofia de transporte e encaminhamento de sinais baseada no IP, assim como a VR e a AR, isto sem se falar nas resoluções Ultra Alta Definição, a UHD-1 e a UHD-2, e as várias soluções 360°. Pode acompanhar a cobertura da edição deste ano durante as próximas semanas no nosso site.
E em 2018 o que é que nos reserva a IBC?
Esta é a história condensada da IBC, ficando, desde já, a promessa de em trabalhos futuros nos dedicarmos em cada peça a cada uma das edições ao longo destes 50 anos.