A Televisão a Cores
2017-03-14
Texto: Carlos A Henriques
O fim da II Guerra Mundial, em 1945, trouxe consigo, para além da tão desejada paz, uma série de desenvolvimentos tecnológicos resultantes da necessidade por parte dos envolvidos no conflito em darem uma resposta concreta à inovação apresentada pelo inimigo.
A Televisão e os televisores, graças ao desenvolvimento dos tubos de raios catódicos utilizados nos sistemas de RADAR usados na detecção de aviões e artilharia pesada, beneficiaram imenso com esse legado, ao ponto de em 1949 ter havido uma série de experiências com o modo de captação e reprodução de imagens electrónicas a cores, as quais permitiram, finalmente, em 1954, ai sim, já com um sistema minimamente fiável, o arranque da Televisão a Cores nos EUA (Sistema NTSC), tendo tal tecnologia só chegado à Europa em 1967 (Sistema PAL e SECAM).
Evolução dos televisores até à cor
Dado que nesta série de peças apenas tratamos da evolução tecnológica dos televisores, deixamos para outra secção os aspectos relacionados com a captação e transmissão das imagens a cores, apesar da grande aproximação entre os conceitos empregues num e noutro lado da “barricada”, que o mesmo é dizer, a necessária complementaridade de processos para um fim comum, ou seja, a reprodução fiel, quanto possível, da “verdade” cromática presente no plateau nos ecrãs dos televisores.
A TVC (TeleVision Colour), ou seja, a Televisão a Cores, foi tentada em muitos países e em épocas muito remotas relativamente ao verdadeiro lançamento do chamado televisor a cores, concretizado nos EUA em 1954, no dia 1 de Janeiro, pela RCA (Radio Corporation of America), com a transmissão da “Tournment of Roses Parade”.
Contudo a CBS (Columbia Broadcasting Systems) fez a primeira emissão experimental a 19 de Agosto de 1949, tendo ganho, então, a corrida à RCA por decisão da FCC (Federal Communications Commission).
Cedo se concluiu que o sistema preconizado pela CBS era mau, pois aliado ao facto de a qualidade das imagens ser muito má o sistema era incompatível, que o mesmo é dizer, as emissões a cores não podiam ser vistas nos televisores até então existentes, ou seja, a P/B, cerca de 10 milhões, só nos EUA, assim como não garantia a recompatibilidade nos televisores desenvolvidos, pois estes não tinham a capacidade de reproduzirem de um modo conveniente, a preto-e-branco, uma emissão feita com as características baseadas no preto-e-branco.
Televisor CBS (1953)
Apesar do arranque das emissões regulares a cores se terem iniciado em meados dos anos 50’, do século passado, a massificação dos televisores a cores só se verificou a partir do início dos anos 60’, isto nos EUA, Japão, Canadá e México, devendo-se tal facto ao elevado custo dos televisores, cerca de 1.000U$D, uma pequena fortuna para a época, enquanto na Europa o arranque só se verificou em 1967 com dois sistemas, o SECAM (SEquential Couleur À Mémoire) de origem francesa, desenvolvido por Henry de France e o PAL (Phase Alternating Line) desenvolvido na Alemanha por Walter Bruch.
Em todos os sistemas de Televisão a Cores os televisores utilizados, considerando apenas a fase electrónica, recorreram ao chamado princípio da mistura aditiva de cores, o qual se baseia em três cores, ditas primárias, respectivamente, Vermelha (R-Red), Verde (G-Green) e Azul (B-Blue).
Tubo de raios catódicos tricolor
Na luta pelo pódio da invenção do televisor a cores apresentavam-se, à partida, três sistemas incompatíveis entre si, a saber:
O sistema desenvolvido pela CBS (Columbia Broadcast System), o Field Sequential Method, ou seja, a transmissão/recepção sequencial de campos, baseava-se no princípio da reprodução da mesma imagem em três campos sucessivos, ou seja, o primeiro com a informação R, o segundo com a G e o terceiro com o B, sendo a mistura feita directamente nos olhos do telespectador, graças à chamada persistência retiniana, o que o tornava perante o sistema vigente de Televisão a P/B incompatível, ou seja, não reproduzível convenientemente nos televisores a P/B.
Sistema CBS
O televisor desenvolvido por William S. Pauley, recorria, para a reprodução das imagens CBS, a um disco rotativo que era colocado de fronte do ecrã, havendo neste três áreas cobertas por filtros cromáticos, ou seja, Vermelho, Verde e Azul, aliás tal como acontecia na captação, obrigando à captação/reprodução de 20ips e não 30ips, tal como acontecia com a Televisão a P/B.
Televisor 12CC2 da CBS
Fácil será imaginar o insucesso do sistema, dado este não ter motivado a compra de televisores, o Columbia Model 12CC-2, cujo número não ultrapassou as duas dezenas, isto devido a vários factores a saber como, custo, ruído do disco rotativo, sincronismo com o disco usado na câmara e qualidade das imagens.
Entretanto, o método RCA, liderado por David Sarnoff, provou, à data, ser o mais conveniente, pois a exploração da imagem, assim como a sua reprodução, seguia a mesma metodologia da usada pelo sistema vigente de Televisão, que o mesmo é dizer, ponto-a-ponto, da esquerda para a direita e de cima para baixo, varrendo 30ips.
A RCA desenvolveu os seus televisores recorrendo à chamada “máscara de sombra” que o mesmo é dizer a uma superfície que constituía o ecrã revestida de pontos (fósforos) que ao serem bombardeados por electrões emitiam luz, respectivamente R, G e B, o que implicava o uso de três feixes electrónicos, um para cada cor. Para que os feixes electrónicos não atingissem o fósforo errado, colocava-se uma máscara perfurada na parte anterior do ecrã, a qual permitia a passagem dos mesmos de uma para outra tríade sem que houvesse excitação por parte do respectivo feixe do fósforo a que este não dizia respeito.
Cinescópio Shadow Mask
Para garantir a compatibilidade monocromática e a redução da largura de banda, a RCA concebeu um sistema deveras inteligente, o qual veio a ser copiado pelos sistemas que se desenvolveram mais tarde, o qual consistia no envio de três sinais, respectivamente o de luminância (Y), garantindo-se, logo à partida, a tão desejada compatibilidade monocromática, e em vez dos três sinais R, G e B, eram enviados apenas dois, apelidados de sinais “Diferença de Cor”, concretamente, (R-Y) e (B-Y).
Sistema RCA
Dado haver entre os quatros sinais envolvidos no processo de codificação cromática, ou seja, Y, R, G e B, uma expressão matemática do tipo:
Y=0,30R+0,59G+0,11B
obtida a partir da curva de sensibilidade do olho humano médio, bastava enviar apenas três sinais para que na matriz de descodificação se obtivesse o quarto, dando nesta opção dois importantes passos, correspondendo o primeira à poupança de banda no não envio da componente G, e, por outro lado, os sinais (R-Y) e (B-Y) continham apenas informação cromática, logo, menos complexos e a exigir menos largura de banda.
No receptor a cores, graças a uma simples matriz de descodificação, fácil era a obtenção dos sinais R, G e B, enquanto que nos televisores a preto e branco a operação constava apenas na leitura do sinal Y, o qual não era mais do que o anterior sinal P/B das imagens, havendo da parte destes receptores a rejeição automática dos sinais (R-Y) e (B-Y) dado não haver circuitos processadores dos mesmos.
David Sarnoff e a concretização do seu sonho
Para que tudo funcionasse nas melhores condições era fornecido um sinal eléctrico no chamado período de extinção vertical (VBI), no patamar posterior (back porch) do sinal composto de vídeo, chamado de Burst, o qual tinha por missão estabelecer o sincronismo entre o codificador cromático na estação emissora de Televisão e o descodificador presente no televisor.
Este sistema, o proposto pela RCA, passou a designar-se por NTSC (National Television Systems Committee), organismo oficial americano responsável, à data, pela apresentação dos sistemas de Televisão a serem aprovados pela FCC a nível dos EUA.
Receptor RCA
E na Europa? E em Portugal?
Na próxima peça iremos desenvolver os temas agora deixados em suspenso.