2016-08-02
Texto: Carlos A Henriques
Os primeiros anos da década de 50, do século passado, foram tremendos para a indústria cinematográfica de Hollywood, ficando a dever-se tal situação ao facto de a Televisão Americana iniciar experiências com emissões a cores, tendo em 1953 arrancado mesmo com um sistema próprio a que deu a designação de NTSC (National Television Systems Committee).
A partir desta data os filmes já estreados no circuito comercial passaram a alimentar as emissões de Televisão, alternativa aos programas em directo dado que à data o registo magnético de vídeo com características técnicas que permitissem garantir uma emissão sem interrupções abruptas ainda não tinha sido inventado.
Para o público que frequentava as salas de cinema passava a ser uma questão de decalagem temporal para fazerem o visionamento dos filmes do seu interesse, razão que levou as salas a ficarem vazias, obrigando os grandes estúdios a terem que encontrar soluções que pudessem combater este abandono, sendo uma delas o desenvolvimento dos chamados formatos widescreen, dado que a Televisão tinha optado pelo formato usado pelo Cinema até então, ou seja, 4:3.
Dos múltiplos formatos alargados, então desenvolvidos, há a destacar o Cinerama (Setembro de 1952), com a 20th Century-Fox a anunciar de seguida (Fevereiro 1953) o seu interesse no lançamento de um formato baseado no Cinerama mas de concepção mais simples, recorrendo, por tal razão, a objectivas do tipo anamórfico, tendo o mesmo sido apelidado de Cinemascope (1953), sem esquecer o Todd-AO, Technirama, Super Technirama 70, SuperPanavision 70, Ultra Panavision 70, TechniScope, Cinemiracle e ainda o Kinopanorama por alguns designado por Cinerama Soviético, entre outros como o IMAX e o OMNIMAX.
Não estando interessada em perder a corrida a favor da Televisão, assim como a disputa do melhor sistema entre Majors, a Paramount Pictures numa tentativa de fazer aumentar, também, a espectacularidade do seu sistema 3D, apresentou em 1954 (14 Outubro), no Radio City Music Hall, o seu sistema widescreen apelidado de VistaVision, cuja relação de aspecto era de 5:3, ou seja, 1.66:1.
Nesta primeira projecção pública com o filme “White Christmas”. Seguiram-se, entre outros, “Three Ring Circus”, “We’re No Angels”, “Artists and Models”, “Strategic Air Command”, “To Catch a Thief”, “Richard III”, “The Battle of the River Plate”, “The Man Who Knew Too Much, “The Ten Commandments”, “Vertigo” e “The Desperate Hours”, o primeiro filme rodado a P/B (1955).
O formato VistaVision foi um sistema baseado num processo óptico o qual encaminhava a luz proveniente da cena para uma película de 35mm, só que a imagem era rodada de 900 devido ao modo como o suporte se deslocava, ou seja, na horizontal, sendo a película (negativo-Eastman Mazda) constituída por 8 perfurações e não 4 como acontecia nos sistemas tradicionais, logo, ocupava cerca de três vezes o espaço tradicional, e, por tal razão, conferia à qualidade da imagem um valor acrescentado soberbo, nomeadamente na redução drástica no grão presente em filmes baseados em suporte analógico (película).
As cópias para distribuição eram impressas em película tradicional de 35mm, só que agora a impressão era feita com a fita a correr na vertical, o que permitia o uso de projectores tradicionais (4 perfurações) no acto de visionamento das imagens.
Dada a qualidade da imagem os espectadores a quem cabiam os lugares muito próximos do ecrã, assim como os que se sentavam junto às paredes laterais, não eram afectados no visionamento, o que não acontecia com os restantes sistemas em uso na época.
O som não foi esquecido neste novo formato de imagem dado acarretar consigo uma prestação que tornava as cenas com uma maior profundidade e abertura, pelo que recorrendo às pistas fotográficas impressas na película de projecção era recomendado às salas de cinema de grandes dimensões o uso do sistema “Perspect-A Stereophonic Sound”.
Em termos de especificações técnicas globais do VistaVision, há considerar:
Dado o modo como a película se deslocava durante a fase de rodagem, ou seja, na horizontal, o processo era designado como Lazy 8 pelos profissionais envolvidos na feitura dos filmes.
Devido a este pequeno truque o formato VistaVision apresentava, então, sobre os restantes em uso, vantagens evidentes:
Apesar destas vantagens o avanço tecnológico do Cinema atingiu novos patamares, nomeadamente com películas com melhores característica tanto de luminosidade como de resolução, pelo que em 1961 foi rodado último filme com recurso a este sistema, “One-Eyed Jacks”, sendo apenas usado a partir daí na rodagem no âmbito dos efeitos especiais como aconteceu, entre outros, com “Star Wars”, “Return of Jedi”, “Back to the Future I/II”, “Robocop”, “Forrest Gump”, “Apollo 13”, “The Matrix”, tendo sido praticamente abandonado no início do século XXI com a entrada definitiva do computador na indústria cinematográfica com as chamadas imagens CGI (Computer-Generated Imagery).
Contudo, durante a edição 2015 da NAB (Abril-Las Vegas), a RED apresentou a câmara WEAPON Full-Frame 8K, a qual foi disponibilizada em Dezembro do mesmo ano, cuja filosofia, apesar de digital, segue o princípio VistaVision, tanto em termos de elevada resolução apresentando um sensor C-MOS com 8.192x4.320 pixéis, com dimensões ligeiramente acima do sensor 35mm full-frame, ou seja, 40.96mmx21.6mm, ou seja, dentro das dimensões VistaVision (40mmx20mm).