O “Contributo” da II Guerra Mundial
2015-11-16
Texto: Carlos A Henriques
O arranque, em 1936, das emissões regulares de Televisão nos países mais industrializados do mundo, assim como o abandono definitivo da Televisão mecânica, tanto a nível de captação como de visionamento, foi o impulso necessário para o desenvolvimento de uma indústria tão promissora como rentável.
Porém, com o início da IIª Guerra Mundial, a 1 de setembro de 1939, o desenvolvimento da Televisão e dos televisores quase que parou durante o conflito, dando-se um grande impulso em 1945 com o final da Guerra, que o mesmo é dizer, a partir de 14 de agosto.
Dada a necessidade de desenvolvimento de sistemas de radar, os quais foram usados no conflito na detecção de objetos metálicos em movimento como, aviões, tanques e demais artefactos bélicos, e verificando-se que os mesmos recorriam a TRC’s (Tubos Raios Catódicos) circulares que serviam de ecrã, os televisores acabaram por beneficiar bastante com tal facto, tanto a nível de fabrico como da própria qualidade da imagem reproduzida, havendo algumas marcas que utilizavam umas máscaras para dar a sensação de que o ecrã era rectângular (4:3).
Os períodos compreendidos entre 1936/1939 e 1945/1950 foram, pelas razões apresentadas, muito férteis na disponibilização no mercado doméstico de uma enorme quantidade de marcas e modelos de televisores, dos quais se dá uma pequena amostragem no final desta peça através de uma galeria de imagens dignas de figurarem num museu da imagem.
Pelo significado que tiveram na época em que existiram, vamos fazer uma chamada de atenção a apenas duas marcas e dois modelos devido ao facto de terem sido estes os que mais se destacaram pelo seu design, qualidade técnica ou oportunidade de comercialização.
Cossor, Três Andares Com Televisão e Rádio
A empresa britânica Cossor, no mercado desde 1859, e uma das pioneiras no fabrico de TRC’s, dedicou-se nos anos 30, do século passado, ao fabrico de televisores, tendo lançado em 1936, ano do início das emissões regulares de Televisão na BBC, o seu primeiro televisor, comportando este três andares, sendo o superior destinado ao tubo de imagem (cinescópio) e a alguma electrónica associada, o médio aos circuitos electrónicos de recepção (sintonia), processamento e separação dos sinais de imagem (vídeo) e som (áudio) e o inferior ao da reprodução sonora.
Este receptor tinha a capacidade de receber programas de Rádio, o que lhe conferia uma grande vantagem, dado que à data os períodos das emissões de Televisão eram limitadas a algumas horas, pelo que quem o adquirisse não precisava de ter dois aparelhos independentes como acontecia com outras marcas.
O modelo Cossor 237T era mesmo muito avançado para a época, dado que para além de receptor de Rádio e Televisão podia ser também usado como reprodutor de discos de áudio, ou seja, dispunha de um sistema gramofone, muito apreciado à época.
Sendo o televisor considerado, naqueles tempos, como uma peça de mobiliário, o Cossor dispunha de portas para resguardar o equipamento sempre que não se estava a ouvir música do gramofone ou da Rádio, ou ainda quando não se pretendia ver televisão.
Face às performances apresentadas, com imagens constituídas por 405 linhas e a sucederem-se a uma cadência de 25 por segundo, fazendo a reavaliação em euros à data atual, este televisor apresentava-se disponível no mercado para quem tivesse 5.000€ para o adquirir.
Televisor Bush
Foi um dos mais famosos televisores produzido e comercializado pela firma inglesa Bush Radio Limited durante uma década, concretamente entre 1945 e 1955, com um custo relativamente baixo face à concorrência, razão que o tornou naquele período muito popular, assim como foi o primeiro a disponibilizar ao telespectador a capacidade de este poder fazer a sintonia de vários canais, sendo o seu ecrã de apenas 9” (23cm) de diagonal.
Em 1950 foi lançado um modelo que fez história, o Bush TV22, não só pelo baixo custo que implicava a sua aquisição, mas, fundamentalmente por ter sido o primeiro a recorrer a uma caixa de baquelite como protetora dos componentes electrónicos, o que veio reduzir drasticamente o seu peso quando comparado com marcas e modelos da concorrência que recorriam a outros materiais, nomeadamente a madeira.
Os Eternos Rivais
A Televisão e o Cinema andaram sempre de costas viradas devendo-se tal facto, entre outros, à arte (7ª) que o segundo adquirira já antes do aparecimento do primeiro, assim como à qualidade suprema deste até ao aparecimento da Televisão Digital.
Contudo, só após o aparecimento credível da Televisão a cores, em 1954, nos EUA, é que o Cinema deu sinais de preocupação, uma vez que até essa data, em parte devido à existência de uma Guerra Mundial, a 2ª, os progressos da Televisão tenham sido lentos e sem grandes massas de telespectadores interessados no seu acompanhamento, pois para se ter uma ideia dos que possuíam televisores em 1939 em Inglaterra, adiantamos que eram apenas cerca de 20.000.
Entretanto, nos EUA existiam 6.000 televisores em 1946, a que se seguiu uma enorme explosão devida ao aparecimento de programas do agrado do grande público como, por exemplo, o “Lucy Show”, o que fez aumentar o número de televisores, em 1951, para cerca de 12 milhões.
Na próxima peça sobre este tema iremos dedicar a nossa atenção a este período terrífico no campo da Televisão e dos televisores, ou seja, aos anos 50’, em especial no início da década com todo o necessário desenvolvimento da Televisão a Cores.