A Fase Electrónica
2015-07-21
Texto: Carlos A Henriques
O final dos anos 20, do século passado, correspondeu a um período de intenso desenvolvimento tecnológico, com especial destaque para a Televisão, assim como para o Cinema pois 1927 foi um ano marcante dado corresponder à apresentação pública do 1º filme sonoro (“The Jazz Singer”).
No que respeita aos televisores começava a desenhar-se, no mesmo período, uma luta entre duas tecnologias de concepção completamente díspar, dado uma apontar na direcção dos televisores mecânicos e outra na dos electrónicos, com vitória previamente anunciada para este último face às fragilidades do primeiro.
O televisor mecânico, tal como visto anteriormente, baseava-se num disco rotativo perfurado, o chamado Nipkow Disc, enquanto que o electrónico, ainda em uso nos dias de hoje mas em fase de abandono, preconizava o uso de um tubo de raios catódicos (TRC/CRT) especialmente concebido para tal fim.
Tubo de Raios Catódicos (TRC)
A produção de electrões a partir de cátodo aquecido levou em 1897 o físico alemão Karl Ferdinand Braun (Nobel da Física em 1909, juntamente com Guglielmo Marconi) a desenvolver um dos dispositivos mais marcantes no desenvolvimento da Televisão, tanto no segmento de captação, dando origem aos tubos de captação de imagem, como no da reprodução à distância das imagens captadas através do chamado cinescópio, em ambos os casos com recurso a um TRC adaptado convenientemente para as funções a executar.
Na aplicação como cinescópio Karl Ferdinand Braun constatou nas suas experiências que ao fazer incidir um grupo de electrões sobre uma superfície pintada com tinta fluorescente (fósforo) esta tornava-se luminosa, ou seja, emitia luz.
Para a construção do cinescópio bastava apenas fazer com que os electrões gerados se constituíssem num fino feixe, tipo “ponta de lápis afiada”, de modo a que ao ser desviado, ponto-a-ponto, ao longo de uma linha na horizontal, assim como das várias linhas na vertical, pudesse reconstituir a imagem no ecrã.
Dado que a intensidade do feixe electrónico era comandada pela intensidade do sinal obtido à saída da câmara, o processo “ideal”, para a data, de obtenção de uma imagem luminosa a partir de uma imagem eléctrica estava encontrada.
Foi o que aconteceu mas só em 1907 através dos trabalhos realizados pelo cientista russo Boris Rosing, o qual deu ao TRC a sua verdadeira aplicação, ou seja, a de um o ecrã onde imagens televisivas, e não só, passaram a ser reproduzidas.
Philo Farnsworth
Nos EUA nasce aquele a quem muitos atribuem a designação do inventor da Televisão, dado o mesmo estar envolvido no período das primeiras experiências, anos 20 do século passado, tanto na parte de captação como na reprodução, e ter acreditado desde muito novo, concretamente aos catorze anos de idade, que a Televisão só tinha viabilidade se fosse totalmente electrónica.
A primeira transmissão de Televisão electrónica na América deu-se a 7 de Setembro de 1927, e a partir dela um novo mundo de experiências deslumbrantes que ultrapassaram continentes.
O aparecimento dos primeiros televisores a preto-e-branco deu-se nesta data, os quais eram muito caros e só acessíveis às classes de rendimentos muito elevados, sendo o seu aspecto e peso comparável a enormes peças de mobiliário, uma vez terem que suportar componentes eléctricos e electrónicos cujas dimensões para a época serem as possíveis.
Arranque das Emissões Regulares da BBC
Em Inglaterra as emissões experimentais levadas a cabo pela BBC, numa primeira fase com o sistema mecânico de John L. Baird, em 1929 a 30 de Setembro havendo apenas vinte e nove televisores, e, a partir de 1933, com o sistema electrónico da Emmy, adquirindo aos poucos mais adeptos, tendo-se iniciado as emissões regulares a partir de Novembro de 1936, alternando semanalmente entre os dois sistemas em disputa.
A partir de Fevereiro de 1937 a BBC optou, definitivamente, pelo sistema Emmy, que o mesmo é dizer, pelo sistema 100% electrónico, sendo transmitidas 25 imagens por segundo, cada uma constituída por 405 linhas. Aproveitando a Coroação do Rei Jorge VI, a BBC recorreu a três câmaras para cobrir a cerimónia, sendo esta vista por cerca de 50.000 telespectadores.
França
O arranque das emissões experimentais em França deu-se em 1931, passando as emissões a terem carácter regular a partir de Novembro de 1935, sendo o único emissor em exploração instalado na parte superior da Torre Eiffel, em Paris. Face ao sucesso alcançado o fabrico e importação de televisores e respectiva comercialização deu-se de imediato, cujo nível de vendas atingiu um elevado valor.
Alemanha
A fase de emissões experimentais na Alemanha chegaram ao fim passando-se de imediato, em Março de 1935, a fazerem-se emissões em regime regular, devendo-se a aceleração do respectivo arranque ao facto de no ano seguinte terem tido lugar em Berlim os Jogos Olímpicos de Verão.
A cobertura televisiva dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, num período em que o número total de televisores na Alemanha não atingia as 1.000 unidades, levou a Organização a criar as chamadas “Fernsehstuben” (salas de visionamento) nas quais foi possível assistir, em vinte e duas cidades alemãs, a determinadas modalidades que se desenvolviam no estádio olímpico, tendo estas salas correspondido plenamente ao fim para que foram criadas, ou seja, ao visionamento comunitário de Televisão, a qual dava, deste modo, os seus primeiros passos muito concretos em território alemão.
Apesar da II Guerra Mundial estar no centro das atenções da Alemanha nazi, esta manteve as suas emissões regulares, o que não aconteceu com os restantes países europeus, tendo o seu desenvolvimento, aparentemente, estagnado neste período.