A Fase Mecânica
2015-06-05
Texto: Carlos A Henriques
A transmissão e visionamento à distância de imagens, a chamada Tele Visão, desde há muito tempo, até ao arranque da exploração real, que não saia da imaginação daqueles que achavam que esta era não só possível como desejável, conduzindo a soluções que à luz do actual avanço tecnológico nos faz sorrir de soslaio quando a elas nos referimos.
Contudo, é nossa convicção ser fundamental a apresentação que estamos a fazer do esforço levado a cabo em todo o Mundo, sem o qual a Televisão e os Televisores não teriam alcançado a “perfeição” por nós conhecida nos dias que correm, assim como o que se prevê a curto e médio prazo.
Visionamento Comunitário
Quer se queira quer não, o televisor foi ao longo da segunda metade do século XX o grande agregador comunitário e familiar, substituído, paulatinamente, o prazer de audição radiofónica em grupo, não só das músicas de momento, mas, também, as radionovelas, os concursos, as transmissões desportivas e demais programas tão ao gosto popular.
Contudo, com a entrada do novo milénio, em especial com o arranque da segunda década, as regras de jogo alteraram-se profundamente, passando o acto de se ver televisão algo individual devido à invasão, em massa, da Informática em todos os seus domínios, com especial ênfase no uso generalizado do computador pessoal, dos telemóveis mas, fundamentalmente por “culpa” do iPad.
Metodologia a Seguir
Dada a extensa matéria a abordar, na presente crónica vamos dar a nossa melhor atenção às condições iniciais que conduziram à possibilidade do visionamento de imagens como a invenção do disco Nipkow e da sua aplicação aos chamados televisores mecânicos.
Iremos “viajar” por um mundo de desenvolvimento desenfreado pela busca da melhor solução para o visionamento das imagens televisivas, a qual ainda se mantém nos dias de hoje, apesar de se estar quase a atingir 100 anos sobre as primeiras experiências com resultados concretos, os quais se ficaram a dever, numa primeira instância, à disponibilização do tubo de raios catódicos (TRC/CRT) na formação da imagem num ecrã plano, o que conduziu aos primeiros televisores electrónicos, e numa segunda ao desenvolvimento de sistemas de transmissão próprios.
Os televisores a cores, os Pal-Plus, assim como os HD Ready e Full HD, passando pelos 3D, com recurso a óculos ou simplesmente auto-estereoscópicos, rumo ao 4 e 8K, tendo em vista os “televisores” holográficos, serão motivo para novas crónicas a serem publicadas futuramente.
O Arranque
Em termos de ordem muito geral podemos fazer a análise da evolução dos televisores dentro de dois períodos temporais marcantes, indo o primeiro do início dos anos 20 até 1935, a chamada era da Televisão mecânica, e o segundo o verificado até aos dias de hoje com a era da Televisão electrónica.
Os Televisores Mecânicos
O jovem estudante universitário alemão Paul G. Nipkow, com apenas 23 anos, registou, em 1884, a patente de um sistema mecânico, mais concretamente de um disco perfurado em espiral, cuja rotação defronte de um objecto permitia que este fosse observado, varrido ou explorado, como se o mesmo fosse constituído por segmentos ligeiramente curvos. A persistência da retina, assim como demais características da visão humana, permitiam que se tivesse a percepção de que a imagem se apresentava como um todo, com algumas perturbações evidentes, perante a rotação do disco no sentido directo dos ponteiros de um relógio.
Este dispositivo, registado na história da Televisão com o nome de disco Nipkow, foi usado ao longo dos anos 20’ e 30’, do século passado, nas primeiras experiências de captação e transmissão de imagens, como elemento explorador da imagem a captar, cuja conversão em sinal eléctrico se ficou a dever ao uso de uma célula fotoeléctrica, sendo célebres as experiências levadas a cabo por um elevado número de cientistas, com um especial destaque para o escocês John L. Baird, assim como do francês René Barthélémy e do americano Philo T. Farnsworth na sua primeira fase de experiências.
Octagon
Marca de televisor baseada na tecnologia mecânica, com a forma de um octógono, lançado em 1928 nos EUA pela General Electric, sendo o mesmo considerado, internacionalmente, como o primeiro televisor comercial, não tendo, contudo, alcançado o nível de produção em massa, mas apenas de algumas dezenas de unidades, no qual as imagens eram apresentadas num ecrã de 3” (7,62cm).
Radiovision
O trabalho levado inicialmente a efeito por René Barthélémy com o disco Nipkow, conduziu-o, numa fase posterior, a um outro disco cujas margens foram por ele revestidas com pequenos espelhos, comportando-se cada espelho como analisador de uma dada porção da imagem.
Nasceu deste modo na Europa, no ano de 1927, o primeiro modelo de televisor, o “Radiovision”, contudo sem quaisquer ambições de sucesso comercial.
Semivisor
Em 1929 René Barthélémy desenvolveu outro “televisor”, o “Semivisor”, o qual não era mais do que um projector de imagem tendo como base um pequeno disco Nipkow.
O Televisor de Baird
John L. Baird foi um dos mais influentes cientistas no campo do desenvolvimento dos receptores de televisor, “O Televisor” como o mesmo o baptizou, assim como das câmaras de captação de imagem.
Apesar de algumas experiências com a Televisão electrónica, Baird considerou, sempre, que o futuro estaria no processo mecânico de captação e reprodução de imagens à distância, que o mesmo é dizer, de um sistema que utilizava tanto na captação como na reprodução um disco rotativo perfurado, de início o original de Nipkow, mas cedo optou por desenvolver o seu próprio disco, contudo baseado no primitivo, mas com mais “buracos”, que o mesmo é dizer, com um número sucessivamente aumentado de linhas, tendo alcançado o limite com as 250.
Face ao elevado ruído produzido pelo disco na sua rotação e respectivos acessórios, o sistema não permitia a transmissão de qualquer tipo de som, pois o mesmo não teria condições para audição por parte dos telespectadores.
John L. Baird, apesar das enormes contrariedades encontradas em todo o processo, conseguiu convencer a Administração da BBC para que se procedessem a emissões experimentais com o seu sistema, o que veio a acontecer entre Novembro de 1936 e Fevereiro de 1937, alternando semanalmente com o sistema electrónico da EMI. Findo este prazo a BBC cancelou, definitivamente, as emissões baseadas em sistemas mecânicos, tanto na captação como na reprodução, que o mesmo é dizer, nas câmaras e nos televisores.
A Televisão e os Televisores electrónicos passaram a ser os únicos sistemas disponíveis, tanto do lado dos broadcasters como da do público consumidor.