2015-05-04
Texto: Carlos A Henriques
Ao longo da nossa vida há marcas que nos acompanham durante um determinado período, liderando, normalmente, o mercado no segmento a que se dedicam e, de um momento para o outro, desaparecem devido a circunstâncias várias como a obsolescência dos produtos desenvolvidos ou à concorrência de outras soluções mais eficientes e/ou baratos.
A Polaroid é um bom exemplo da incapacidade de entendimento por parte da gestão dos ventos de mudança pois não conseguiu, no tempo que dispôs, dar resposta à feroz concorrência do digital, com especial ênfase à apresentada pelas câmaras digitais e de igual modo pelos telemóveis e tablets, pois o conceito inovador introduzido em 1943 de fotografia instantânea, numa primeira fase a preto-e-branco e em 1963 a cores, foi aproveitado pelos novos suportes digitais.
Um Pouco de História
A Polaroid Corporation, enquanto empresa, foi fundada em 1937 na cidade de Cambridge(Massachusetts-EUA) por Edwin H. Land (1909-1991), cientista, inventor e empreendedor americano, havendo quem o compare a Steve Jobs e a empresa à Apple, tendo sido seu Presidente Executivo (CEO) ao longo de 43 anos (1937/1980) e arrecadado 533 patentes de dispositivos por si desenvolvidos.
De início comercializou vários tipos de apetrechos como, por exemplo, óculos especiais anti-choque e à prova de encadeamento, baseados num polímero polarizado, assim como dispositivos para visão nocturna, baseados em raios infra-vermelhos, razões que levaram as forças armadas dos EUA a fazerem uso dos mesmos durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1938, e ainda no campo dos óculos, foi a grande fornecedora destes dispositivos, graças à sua capacidade de despolarização da luz, para uma das tentativas falhadas de introdução do Cinema 3D.
Contudo, o grande produto inovador, que acabou por projectar o nome Polaroid para o conhecimento planetário, atraindo lucros colossais, foi em 1943 com o conceito de fotografia instantânea “in-camera”, contudo só a 21 de Fevereiro de 1947 é que o sonho se tornou realidade com a apresentação pública do primeiro sistema com aplicação prática desta filosofia.
A comercialização iniciou-se em Novembro de 1948 com um modelo baptizado de “Land Camera”, tendo a Polaroid fabricado, então, 60 unidades, 57 das quais foram colocadas à venda nos armazéns “Boston’s Jordan Marsh”, em Boston (EUA) sendo o seu custo de 89,95U$D.
Um erro de projecção por parte da área do marketing da empresa, a qual vaticinou um período razoavelmente longo para o esgotamento do stock, tanto das máquinas fotográficas como da necessária película, tempo esse que iria permitir a fabricação de novas unidades para a respectiva reposição, implicou a completa ruptura do stock dado ter-se verificado a venda de todas as unidades logo no primeiro dia.
Tal implicou o fabrico imediato de uma segunda série, mas agora de acordo com os números avançados pelos múltiplos pedidos não atendidos na primeira apresentação.
Polacolor e a Cor na Película Instantânea
Com a presença da cor em todas as plataformas audiovisuais, o mercado “exigia” cada vez mais que no campo da fotografia instantânea a Polaroid deveria apresentar uma câmara/película com essa capacidade.
Tal veio a acontecer em 1963 com a Polacolor, uma película constituída por várias camadas activas (emulsões), sendo uma sensível à luz ciano, outra ao amarelo e uma terceira ao magenta, separadas por uma camada química responsável pela revelação.
A Famosa SX-70
A SX-70 foi a primeira câmara da Polaroid totalmente automática, motorizada e “dobrável” e a cores a ver a luz do dia e a fazer o deleite de milhões de fotógrafos, decorria, então, o ano de 1972, tendo sido um enorme sucesso, apesar dos enormes problemas associados às baterias de alimentação, produzindo-se e vendendo-se por dia, cerca de 5.000 unidades.
Em 1980 sofreu uma profunda remodelação tendo surgido a câmara “SX-70 Time-Zero Supercolor”, cujas prestações e qualidade de imagem superou tudo o que até então tinha surgido no mercado. Por exemplo, as camadas constitutivas da película sofreram um enorme desenvolvimento, ao ponto de o tempo de revelação da película após captação ter-se reduzido drasticamente, daí o nome associado (Time Zero).
O Sistema Polavision
Uma vez conquistado o mercado da fotografia instantânea, o passo seguinte parecia óbvio, ou seja, a entrada na imagem em movimento com revelação instantânea, o que veio a acontecer em 1977 com o nascimento do sistema Polavision.
Em termos muito gerais o sistema Polavision era em simultâneo câmara e projector, constituído por uma caixa (cartridge) rectangular na qual se encontrava o filme a impressionar, o qual apresentava as características do Super 8mm, uma pequena objectiva e um prisma para projecção através de uma abertura feita para o efeito.
O filme propriamente dito era a preto-e-branco, recorrendo o sistema Polavision a três filtros cromáticos, respectivamente R, G e B, empregando-se, por tal razão, o sistema aditivo na projecção.
Caso não se quisesse fazer a projecção através da cartridge, bastava o desmantelamento desta e montar a bobina num projector tradicional super 8mm.
A ideia foi boa mas os resultados desastrosos, pois o mercado do gravador doméstico baseado em videocassete já ali estava para fazer frente a mais esta ideia do fundador da Polaroid, Edwin H. Land, sendo o sistema Betamax (Sony) e o VHS (JVC) os que apresentavam à data melhores condições para singrarem, até porque apresentavam a capacidade de registos múltiplos sobre o mesmo suporte o que não acontecia com o filme, pois uma vez impressionado não podia mais ser usado para outro registo.
Considerado como a maior falha comercial da Polaroid, o sistema foi descontinuado dois anos após o seu nascimento (1979), sendo o princípio adoptado mais tarde no sistema Polachrome. Contudo, o seu fundador e CEO não resistiu à pressão das perdas, cerca de 69 milhões de U$D, razão que o levou à resignação do cargo em 1980 e ao abandono definitivo da empresa dois anos mais tarde.
O Polachrome
Durante a década de 70’, do século passado, o acto de fotografar tudo e todos encontrou no slide um modo mais económico desta prática para quem se dedicava a tal prática.
Os rolos de película 35mm incluíam no custo de aquisição a revelação e o respectivo caixilho, bastando enviar os mesmos para um determinado endereço usando para o efeito um envelope apropriado ao envio pelo correio das imagens impresas para revelação e encaixilhamento. No caso português, e durante muitos anos, o destino mais próximo era Irun, em Espanha, o qual era o eleito maioritariamente dado corresponder aos menores custos a suportar pelo transporte através dos correios.
Com o lançamento em 1983 do Polachome, parte desta necessária e trabalhosa logística deixou de fazer sentido, pois bastava colocar o rolo impresso, com a capacidade para 12 imagens, dentro de uma pequena máquina de uso doméstico, o “AutoProcessor”, para se obterem, de um modo quase instantâneo, os tão desejados slides.
A Polaroid apresentou no mercado, de inicio, três versões, concretamente o Polachrome Color Film, o Polachrome HC (High Contrast) e o Polablue, sendo esta última um slide que usava a imagem em azul num fundo branco, o ideal para se fazerem os chamados “slideshow”, aquilo que anos mais tarde o PowerPoint veio substituir. Foi também desenvolvido dentro da linha “slideshow” duas vertentes monocromáticas (P/B) a que se deu, respectivamente, o nome de Polagraph e Polapan, ou seja, ao preparar-se uma apresentação fazia-se a sequência em papel o qual era fotografado e convertido em slides.
A Falência de Um “Monstro” Sagrado
Para a Polaroid original, enquanto empresa, o ano de 2008 foi terrível, pois correspondeu à declaração oficial de falência, solicitada em 2001, e o fim de uma era gloriosa, tanto em termos tecnológicos como na capacidade de gerar dinheiro, dando-se como exemplo o ano de 1991 com um encaixa de três biliões de dólares, assim como de geração de postos de trabalho, rondando os 21.000 colaboradores em 1978, ano em que foram vendidas 14.3 milhões de câmaras.
Todo os espólio da empresa, assim como os direitos sobre o nome “Polaroid”, foram comprados por uma subsidiária do Bank One a OEP (One Equity Partners) cujo nome OEP Imaging Corporation mudou para Polaroid Holding Company (PHC). Contudo, em termos comerciais, esta fazia uso do nome Polaroid Corporation.
O “Renascimento” de Um Nome
Os novos detentores da Polaroid Corporation não cometeram o erro estratégico dos antecessores, pois após um curto mas consistente período de estudo de tendências do mercado doméstico, optaram por entrar no campo dos gadgets digitais, os mesmos que levaram anteriormente a empresa à ruína, mantendo, contudo, esta na área da imagem.
Em 2009 foi lançada uma câmara digital de 5 Mpixéis de resolução, integrada numa impressora Zink, a CZA-05300B PoGo.
Para se ter uma leve ideia do esforço de renovação do nome Polaroid, associando-o à era digital, a Administração nomeou, a 5 de Janeiro de 2010, a cantora Lady Gaga como “Directora Criativa” da empresa, declarando-se na nota à imprensa, então distribuída, ser ela a “nova cara” da Polaroid.
No ano seguinte, ou seja, em 2011, foi lançada a impressora Polaroid GL10 Instante Mobile Printer a qual produzia instantaneamente fotografias em papel com as dimensões de 7.62x10,16cm, com origem num telemóvel ou câmara fotográfica digital.
Em 2012, a 28 de Abril, o Realizador Grant Hamilton concebeu e realizou um documentário de 95 minutos com o título “Time Zero: The Last Year of Polaroid Film”, no qual se relata a ascensão e queda, assim como o renascimento das cinzas desta marca e da tecnologia do filme instantâneo.
ZINK Printing
Decorria o verão de 2008 quando a Polaroid disponibilizou uma impressora de fotografias, a Zink (Zero ink), as quais apresentavam as dimensões de 51x76mm e recorriam a uma tecnologia em tudo semelhante à usada nas camadas de sublimação, em que os cristais fotossensíveis eram embebidos no papel fotográfico propriamente dito.
Polaroid Zip
Trata-se de uma impressora móvel wireless, a qual pode imprimir texto, fotografias a cores (2x3” - 5.08x7.62 cm) ou outro material a partir de um smartphone ou tablet, bastando para tal baixar uma aplicação grátis tanto para iOS ou Android. Recorre à tecnologia Zero Ink Printing, a qual dispensa o uso cartridges de tinta e/ou toner.
Polaroid iZone
A primeira existência da iZone foi de 1999 a 2002, tendo sido relançada em 2013, em plena era digital, apresentando esta um foco fixo, velocidade de obturação única e vários aberturas de objectiva para situações de iluminação múltiplas. Vários foram os modelos entre os quais se encontra a iZone Barbie, sendo esta dedicada às crianças do sexo feminino.
A Nova Postura no Mercado
Com a realização da CES (Consumer Electronic Show) 2015, que se realizou em Janeiro último em Las Vegas, a Polaroid renasceu apresentando-se pela primeira vez neste certame, mudando radicalmente a sua postura anterior de fornecedora de câmaras de fotografia, passando o seu campo de acção a ser o dos equipamentos de imagem nas várias vertentes, sempre dentro do princípio da imagem instantânea.
Deste modo o seu portfólio passou a contar com câmaras digitais, telemóveis com câmara incorporada e respectivas apps, printers instantâneas, tablets, televisores de alta definição e 4K, assim como as micro-câmaras de utilização múltipla, as Polaroid Cube.
Face à multiplicidade de equipamentos, todos virados para o mercado doméstico, em que a presença da Internet e do Wi-Fi conferem aos dispositivos uma profunda ligação instantânea com o mundo, os responsáveis da Polaroid são peremptórios ao afirmarem:
“Somos uma marca em que o conceito de partilha social faz parte do nosso genes”
Polaroid Socialmatic
É uma câmara electrónica que associa a lembrança do passado de uma marca de referência, com as novas tecnologias como o Wi-Fi, que permite o envio imediato de uma fotografia logo após a sua captação.
Câmara Polaroid Cube
O aparecimento em 2009 da GoPro constituiu uma autêntica revolução quando se pensa em termos de captação de imagem em desporto radical, pois a mesma associava ao seu nome uma elevada qualidade, dimensões reduzidas, peso desprezível e um preço inimaginável.
Com a “nova” Polaroid a ideia foi a de produzir uma câmara com características e prestações idênticas, tendo nascido a Polaroid Cube a qual tira fotografias com a resolução de 6Mpixéis (3.800x2.700) ou 3Mpixéis (2.048x1.536), assim como filma em HD (720p) ou full HD (1080p), sendo a objectiva uma grande angular de 1240, o que lhe confere uma capacidade de observação notável. O seu peso ronda as 645 gramas, o qual é ajudado na captação com o estabilizador incorporado, evitando-se imagens instáveis face a um peso tão pequeno.
No que respeita ao registo este é feito somente com cartões de memória microSD de 32GB, o qual terá que ser comprado separadamente, sendo o áudio registado o obtido através de um microfone interno e o vídeo com as resoluções 1920x1080 ou 1280x720 (30fps), no formato H.264.