Texto: Carlos A Henriques
Introdução
A actual filosofia para o visionamento de filmes recorre a duas grandes modalidades, que o mesmo é dizer, “Home Cinema” ou multiplexer num Centro Comercial perto de si, tendo-se posto de lado a ida a uma dada sala de Cinema algures na cidade onde está a passar um determinado filme realizado ou interpretado por alguém dentro da nossa lista de notáveis na 7ª Arte.
Longe estão os tempos onde a ida ao Cinema era um acto social de importância relevante, oportunidade que não se queria perder para mostrar à sociedade o novo penteado ou casaco desenhado por um importante costureiro, assim como a apresentação pública da nova companhia.
A necessidade de pagamento a uma “babysitter” para os casais com filhos fora da idade legal para a frequência de salas tradicionais de visionamento de filmes, o querer assistir a uma fita com a necessária privacidade, dado que à data a Televisão e o VHS era algo inexistente, ou por puro desfrute da Natureza na sua real condição de espaço aberto, foram algumas das razões que conduziram à construção e exploração dos chamados “Drive In”.
Nascimento e Conceito
Um “Drive-In” não é mais do que um espaço tipo “parque de estacionamento” de área relativamente elevada, no qual se implanta um ecrã de grandes dimensões, o qual recebe e reflecte a luz proveniente de um projector de Cinema instalado numa cabina de projecção devidamente protegido do estado do tempo e de mãos disponíveis para a sua apropriação indevida.
A exploração destes espaços carecia de uma licença e de infra-estruturas adequadas ao fim em vista, dando especial importância aos intervalos, agora quase inexistentes, dado ser o período em que a facturação do espaço crescia de um modo descomunal devido à venda de bebidas e refeições ligeiras, na sua grande maioria concebidas para o tipo de consumo em vista.
O primeiro “Drive-In” a ver a luz sair do ecrã foi construído nos EUA, concretamente em Camden, em New Jersey, em 1933, no dia 6 de Junho, graças a uma ideia de Richard Hollingshead, ao qual tinham apenas acesso viaturas ligeiras ou de médio porte contra o pagamento de uma determinada quantia por pessoa, tendo sido o filme “Wife Beware” o escolhido para a inauguração.
O espaço podia abarcar 400 viaturas, podendo, em teoria, por tal razão aceitar 1.600 espectadores, sendo as viaturas colocadas em sete filas ligeiramente inclinadas de modo a evitar-se a perda de vista do ecrã às filas mais afastadas deste.
A distribuição sonora fazia-se numa primeira fase pelo processo tradicional, ou seja, através de potentes colunas junto ao ecrã, tendo passado por uma segunda fase em que se colocava um altifalante na porta da viatura, disponibilizando-se em cada um os respectivos controlos de volume.
Contudo, numa fase posterior, o som passou a ser fornecido através de dois emissores de rádio de baixa potência, um em AM e o outro em FM, sendo a escuta feita através do auto-rádio que equipava a viatura, permitindo a escuta em estereofonia quando esta passou a ser usada no Cinema.
Ascensão e Queda
Este novo método de se ver Cinema teve uma importância relevante nos EUA, tendo-se ali atingido o impressionante número a rondar os 5.000 “Drive-In” ao longo do país, contudo a sua aceitação em outras partes do mundo não teve o mesmo impacto, embora a sua implantação se tenha verificado como aconteceu no Sul da Europa e Austrália onde o clima foi o parceiro ideal para este tipo de manifestação cultural.
A sua aceitação e grande popularidade, especialmente nas zonas rurais, teve entre os finais dos anos 50 e meados de 60 o seu período dourado, sendo este devido, para além de outras razões, ao facto de os jovens casais poderem assistir a uma sessão de Cinema sem terem que se preocupar com a contratação de uma babysitter, dado poderem entrar nestes espaços sem que houvesse qualquer tipo de restrições em termos de idade, pagando-se apenas o valor correspondente a um dólar por viatura.
Esta facilidade e respectiva programação, a qual passou a incluir filmes pornográficos nos anos 70, conduziu a reputação destes espaços a níveis muito baixos, o que os tornou pouco recomendáveis quando se pensa em termos familiares, o que não acontecia nas primeiras décadas de exploração.
Por outro lado, a proliferação dos “Drive-In” pelos EUA criou a ideia de um negócio de alta rentabilidade, o que conduziu a valores muito elevados quer na compra quer no aluguer dos terrenos para a sua construção.
O arranque da Televisão a cores não ajudou nada a este tipo de negócio, porém a grande machadada ficou a dever-se, numa primeira fase, aos sistemas domésticos de reprodução vídeo, e numa segunda aos gravadores/reprodutores que permitiam gravar filmes directamente da Televisão, assim como à pirataria de filmes que à data quase mataram o Cinema.
A conversão da indústria cinematográfica para o digital implicava a adaptação do espaço para esta nova realidade cujo custo ronda os 80.000U$D, o que conduziu na actualidade a um reduzido número destes espaço, os quais são frequentados, em especial, pelos saudosistas do sistema, num reduzido número de “Drive-In’s” ainda a funcionar.
Conclusão
A existência de “Drive-In’s” em Portugal nunca viu boa luz para uma concretização real, contudo a existência de cine-esplanadas foi um outro modo por nós encarado como alternativa à experiência americana, sendo o único elemento em comum o facto de a sessão cinematográfica se verificar num espaço em que o telhado era constituído por estrelas.
Tal como aconteceu com os “Drive-In” as cine-esplanadas quase que não existem entre nós, devendo-se tal facto, ao aparecimento dos Centros Comerciais e os respectivos multiplexers.