O Final dos Anos 30
A segunda metade da década de 30, concretamente de 1936 a 1939, corresponde à fase de preparação para o chamado período dourado do Cinema Português, no qual a arte de representar e as histórias de gosto popular são ainda hoje, em pleno século XXI, vistas pelas mais diversificadas gerações.
Em 1936 a Tobis alugou o seu estúdio para a rodagem do filme “A Revolução de Maio”, ao então designado Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), criado em 1933, com a missão de coordenar a propaganda política do Estado Novo, assim como a informação pública, comunicação social, acção cultural e o turismo, tendo tomado mais tarde, em 1945, a designação de SNI (Secretariado Nacional de Informação).
Com a mão forte de António Ferro, o qual dirigiu as duas instituições de 1933 a 1950, foi chamado para a função de Realizador o denominado homem do regime, em termos cinematográficos, António Lopes Ribeiro, sendo o financiamento do filme suportado pelo próprio SPN.
De acordo com “O Cinema no Ensino da História”:
“O filme tem um personagem omnipresente que passa por ser a acção da polícia que, no nosso entender, simboliza o próprio regime politico – o Estado Novo –, que tudo controla e tudo vê, a própria ordem dos regimes de direita. A personagem imprime o carácter ditatorial ao regime e ao filme, pois não existe uma visão plural e democrática. A visão plural é-nos dada no princípio do filme em que surge César Valente, sujeito subversivo que quer trazer novos ventos a Portugal, e a polícia do regime que procura combater esse mal, porém aguarda que as alterações que aquele observa na sociedade sejam suficientes para que César Valente se submeta ao regime e concorde com o projecto de uma revolução continuada, tendo o seu princípio em 28 de Maio de 1926.
Ambas as visões são complementares para que a história funcione, o caos procura destronar a ordem, porém a ordem vence e absorve os radicais ao regime. Pois o filme retrata o Estado Novo nas suas virtudes inquestionáveis”
“A Revolução de Maio”
Com a duração de 138 minutos, “A Revolução de Maio” conta na ficha técnica, para além de António Lopes Ribeiro (Realizador), com Baltazar Fernandes, pseudónimo de António Lopes Ribeiro, e de Jorge Afonso, pseudónimo de António Ferro, autores do argumento, sendo os diálogos e a montagem também da responsabilidade de António Lopes Ribeiro.
No casting fazem parte, entre outros, Luís Campos, Ricardo Malheiro, Ribeirinho e Maria Clara (cantora), sendo a cenografia de António Soares, a direcção de fotografia de Manuel Luís Vieira e Isy Goldberger, a direcção de som de Paulo Brito Aranha, a música e canções de Wenceslau Pinto, sendo o laboratório de imagem da Lisboa Filme, com distribuição em película de 35mm da Sonoro Filme.
A estreia deu-se a 6 de Junho de 1937, no Cinema Tivoli, em Lisboa.
João Bénard da Costa, in Histórias do Cinema, escreve:
“... A Revolução de Maio - é o único exemplo de uma ficção política tentado até aos anos 70 e o único filme feito explícita e expressamente à glória do Estado Novo, que o encomendou e pagou. (...)
Mas mesmo para esta versão tão soft de "filme fascista", António Ferro teve as suas dificuldades.
Lopes Ribeiro conta que antes dele, Ferro convidou sucessivamente para a realização Leitão de Barros, Jorge Brum do Canto e Chianca de Garcia e que todos recusaram.
E o acolhimento ao filme, apesar de soleníssima estreia no Tivoli, a 6 de Junho de 1937 (não se conseguiu acabar o filme ainda em 1936, ano do aniversário), com a presença do próprio Salazar, foi discreto, para dizer o mínimo.
Ninguém se lembrou de insistir mais em tal género de fitas, nem de pedir mais obras "que exaltassem vibrantemente a juventude, o trabalho e a alegria de viver" ou em que "as imagens colaborem com a história", na senda de palavras de Mussolini, recordadas por António Ferro na ocasião.
Aliás, o mais curioso exemplo dessa colaboração das "imagens com a história" consiste na extensa passagem de "Revolução de Maio" em que Lopes Ribeiro montou, com a ficção, o documentário do discurso de Salazar em Braga. Muito tempo depois, o Realizador afirmou que essa ideia ("actualidades" mais "ficção") lhe viera da sua estada na URSS em 1929 e dos filmes de "agit prop" de Dziga Vertov..."
“O Trevo de Quatro Folhas”
O filme “O Trevo de Quatro Folhas” traz de novo à Tobis, em 1936, o Realizador Chianca de Garcia, o qual é co-autor do argumento, sendo este do género comédia de cariz americano, em que o trocadilho relativo a um determinado personagem que por parecença fisiológica com outras pessoas, vive situações nem sempre agradáveis.
Não existe qualquer cópia deste filme, razão pela qual só se podem fazer referências ao mesmo através de crónicas elaboradas na época por críticos em revistas e jornais.
Entretanto, no 1º de Dezembro de 1936 a Tobis cede, gratuitamente, as bobinas dos filmes “A Canção de Lisboa” e “As Pupilas do Senhor Reitor”, assim como os camiões de geração de energia eléctrica, dos projectores de iluminação e de captação de som directo, à SUSF (Sociedade Universal de Super Filmes) para a concretização de uma récita de gala por ocasião da estreia do filme “Bocage”, o qual tinha sido rodado no estúdio da Tobis.
“Bocage”
O filme “Bocage”, de Leitão de Barros, teve duas versões concretizadas pelo mesmo Realizador, uma portuguesa e outra espanhola, esta última com o título “Las Três Gracias”, tendo sido entregue o papel principal, respectivamente, a Raul de Carvalho e a Alfredo Mayo, tendo sido até à data o filme mais caro, ou seja, com um custo de co-produção a rondar os 2.360 contos (472€).
Neste filme Leitão de Barros faz uma reconstituição histórica da Lisboa Antiga, jamais feita em Cinema, com cenários deslumbrantes e um soberbo guarda-roupa, contudo, de acordo com Luís de Pina:
“Leitão de Barros não consegue harmonizar, como em “A Severa”, o estúdio e a Natureza, a verdade dos rostos e a convenção da época reconstituída. Bocage, apesar do brio de Raul de Carvalho, pouco à vontade no personagem, deixa de ser o poeta singular, a figura discutida que o povo consagrou”.
Em Espanha, devido à guerra civil, o filme só se estreou em 1940.
Em termos de sinopse, o mesmo pode resumir-se a:
“A paixão de Bocage, antigo oficial de infantaria da marinha, pelas irmãs de um camarada António Coutinho, Márcia e Anália. Atormentado, Bocage dedica-se aos prazeres fáceis, junto da sensual Canária, mulata cantadeira do Brasil”
Recuperando o que escreveu Armando de Miranda, em 1937:
“Bocage é, em técnica e segurança cinematográfica, o melhor filme de Leitão de Barros.
A matéria-prima trabalhada, o tema, a história, é de inferior qualidade, não tem grande interesse, nem equilíbrio, nem emoção; mas a maneira como está trabalhada, a forma como aquilo nos é cinematograficamente apresentado, está bem e está certa, acusando os benéficos efeitos da experiência adquirida pelo realizador nos seus anteriores trabalhos e comprovando nítidos e claros progressos na arte das imagens.
Sintetizando: A essência é fraca; A forma é boa”.
Tendo concluído que:
“O homem que escolheu o argumento, o seleccionador do motivo a tratar, falhou, errou na sua visão das coisas; mas o Realizador, esse não; esse, se não pode dizer-se que triunfou, deu, pelo menos, um grande passo em frente no campo da técnica cinematográfica, tratando com felicidade e segurança o tema inseguro e infeliz”.
“Maria Papoila”
Em Março de 1937, Leitão de Barros pisa mais uma vez o estúdio da Tobis com o objectivo de realizar a comédia musical “Maria Papoila”, recorrendo para o efeito a uma actriz, Mirita Casimiro, cujo percurso profissional estava a dar excelentes resultados, tendo contribuindo significativamente para o sucesso do filme.
Citando o Realizador, numa entrevista da época:
"Maria Papoila é um filme popular. Realizado dentro de uma técnica simples, pois não pretende revolucionar a cinematografia, procurei rodeá-lo de todas as condições que possam despertar a atenção do público. Foi para ele que trabalhei, sem outras preocupações que não fossem as de realizar espectáculo acessível, no qual a alegria e a emoção têm lugares marcados.
A missão do cinema é contar - e quanto mais reportagem da vida, mais certo é. Eis por que a realização do meu filme não tem quaisquer aspectos transcendentes. Pelo contrário, toda a acção decorre numa toada simples, como simples é a história de amor que a anima.
Bem sei que o cinema, para muita gente, devia ter características intelectuais e directrizes superiores. Mas a verdade é que a sua feição mais acentuada é a de ser um espectáculo de multidões."
Em termos de sinopse o filme trata da vinda para a grande cidade e respectiva integração de quem sempre viveu em zonas rurais, no qual ressalta a presença de soldados e criadas de servir, em voga na época, e os seus passeios no dia de folga, ou seja, ao domingo, assim como a sua entrega aos bailaricos dos santos populares, os quais constituíam um bom pretexto para o início de um novo namorico.
A história teve na imaginação de Vasco Santana a sua origem, em parceria com Alberto Barbosa e José Galhardo, sendo esta produzida em termos cinematográficos pela empresa Lumiar Filmes, cuja constituição se ficou a dever ao próprio Realizador, o qual se associou a Campos Ferreira, o detentor do Parque Mayer através da sua empresa a Sociedade Avenida Parque.
Esta associação estratégica deveu-se ao facto de o Realizador pretender no elenco a actriz Mirita Casimiro, a qual se encontrava ligada através de contrato à Sociedade Avenida Parque, pelo que, apesar do sucesso de “Maria Papoila”, a Lumiar Filmes não voltou a produzir qualquer filme.
No elenco fizeram parte, também, o grande António Silva, num crescente de afirmação como actor de Cinema, Eduardo Fernandes, Alves da Costa e Maria Cristina, entre outros, tendo o filme sido rodado em película de 35mm, a preto-e-branco e com a duração de 98 minutos, tendo-se verificado a sua estreia comercial no São Luiz, em Lisboa, a 15 de Agosto de 1937.
Entretanto, em junho de 1937, é inaugurado o novo laboratório da Lisboa Filme, num espaço disponibilizado na Quinta dos Ulmeiros, paredes meias com a Quinta das Conchas, local onde a Tobis Portuguesa tinha instalado o seu estúdio e laboratório.
Por seu lado, o Decreto Lei 28.323/37 faz a prorrogação da isenção do pagamento de contribuições, assim como direitos alfandegários, pelo prazo de cinco anos, mais concretamente até 3 de junho de 1942.
A 8 de fevereiro de 1938, a Tobis Portuguesa celebra com o governo um contrato para a produção de filmes em África no âmbito da “Missão Cinegráfica às Colónias”.
A Missão criada, em Julho de 1937, por iniciativa do Ministro das Colónias, tinha como objectivo a realização de documentários que divulgassem a vida local e o esforço colonizador desenvolvido pelos portugueses.
Enquadrada pela Agência Geral das Colónias, a Missão decorreu entre fevereiro e outubro de 1938 tratando-se da mais detalhada e exaustiva digressão de uma equipa de Cinema nacional fora do território continental.
A 14 de fevereiro de 1938, através da publicação do Decreto Lei n.º 28466/38, o mesmo passa a isentar o condicionamento das indústrias os laboratórios e depósitos de fitas cinematográficas.
Em março do mesmo ano, concretamente a 14, é dada aprovação ao novo contrato a ser celebrado entre a Tobis Portuguesa e a Klangfilm de Berlim, no sentido de a Tobis adquirir uma nova unidade de captação e registo de som transportável do mais moderno que a indústria apresentava à data, a Eurocord B.
“Aldeia da Roupa Branca”
Esta aquisição permitiu que a empresa continuasse a rodagem de filmes no seu estúdio como, “Aldeia da Roupa Branca”, evitando-se, assim, a paragem ou a sonorização no estrangeiro, dado que o equipamento existente estava a ser utilizado na “Missão Cinegráfica às Colónias”.
A 27 de abril procedeu-se à alteração dos Estatutos da Tobis Portuguesa, da qual constou a nova constituição do corpo social, ou seja, o Presidente do Conselho de Administração passou a ter uma acção mais interventiva através da presidência do Conselho de Produção, sendo criada, ainda, a figura do Administrador-Delegado.
Para Chianca de Garcia o ano de 1938 foi muito produtivo dado ter realizado dois filmes, concretamente a história dramática “A Rosa do Adro”, já filmada na versão muda, em 1919, pelo francês George Pallu para a Invicta Film, decorrendo a acção no período das lutas liberais, agora na versão sonora com Maria Lalande e Oliveira Martins, o galã da época, com o qual tivemos oportunidade de conviver na sua passagem pela RTP, e “Aldeia da Roupa Branca”, um dos mais marcantes filmes passado numa zona saloia lisboeta, ao qual Beatriz Costa ficou definitivamente ligada, tanto ao filme, dado ter sido o último em que fez parte do elenco, como à aldeia onde nasceu na zona da Malveira, mais concretamente na Charneca do Milharado.
“A Rosa do Adro”
Enquanto “A Rosa do Adro” nos conta a história de Rosa e a sua paixão por Fernando, a qual é correspondida pelo mesmo, só que este vai para o Porto e acaba por se enamorar por Deolinda, filha de uma baronesa de grandes recursos económicos, no “Aldeia da Roupa Branca” toda a trama se desenrola em torno de duas famílias que pretendem dominar, em termos de monopólio, o serviço de transporte então usado pelas lavadeiras, tanto na entrega da roupa tratada, ou seja, lavada e engomada, e a recolha de mais matéria prima para alimentar o negócio.
Num filme, superiormente dirigido, surgem dois nomes que são uma referência para o audiovisual português, respectivamente Elvira Velez (actriz) e Hermínia Silva (fadista), para além de Beatriz Costa, José Amaro, Manuel Santos Carvalho e Óscar de Lemos.
À data da rodagem de “A Aldeia da Roupa Branca”, Chianca de Garcia era o Secretário-Geral do São Luiz, posição que lhe permitiu fazer a proposta à empresa proprietária do mesmo para a constituição de uma empresa, a Espectáculos de Arte, para produzir, unicamente, “A Aldeia da Roupa Branca”, juntando-se ao grupo a Sociedade Avenida Parque, detentora dos direitos de exploração do Parque Mayer, como referido anteriormente, assim como o Produtor Luís Machado.
O cenário da aldeia saloia foi montado junto ao estúdio da Tobis, sendo o mesmo da responsabilidade do Arq. Arcindo Madeira. O filme, rodado em película de 35mm, a preto-e-branco, tem a duração de 82 minutos.
Rodagem do filme “Os Fidalgos da Casa Mourisca”
Um outro filme de referência para a época, para além de outras razões, deveu-se ao facto de ter sido o primeiro, na qualidade de Realizador Arthur Duarte, foi “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, o qual estreou, em Lisboa, no dia 22 de junho de 1938, no pitoresco Cinema Odeon.
Artur Duarte pegou na Obra homónima de Júlio Dinis e deu-lhe uma linguagem menos literária e mais cinematográfica, mantendo, contudo, toda a história contida no romance, deixando o modo de vida do século XIX transportando-o para o século XX, mais concretamente para 1937, ano de rodagem do filme.
No cartaz constavam os nomes de Henrique de Albuquerque, Teresa Casal (à data mulher do Realizador), Tomás de Macedo e, em estreia absoluta como actor, Henrique Campos, o mesmo que anos mais tarde enveredou pelas as funções de Realizador.
“A Canção da Terra”
Em 1938 entra em acção, também, pela primeira vez, Jorge Brum do Canto, o qual tinha ligações familiares com o arquipélago da Madeira, em especial com a Ilha de Porto Santo na qual roda “A Canção da Terra”, sob um Sol muito intenso ao longo de um mês, reflectindo este estado do tempo o grande problema da Ilha, ou seja, a ausência prolongada de chuva e os malefícios da mesma, assim como a sua influência na relação entre os ilhéus, que acabava, quase sempre, com o empurrar os mesmos para a condição de emigrantes.
Graças à sua força plástica e uma dramaturgia intensa a crítica da época, dos mais diversificados quadrantes, vergou-se perante os resultados alcançados, tendo Alves Costa concluído ser esta Obra:
“Um filme a sério, a valer, honesto, viril e são, razão pela qual deve ser considerado o primeiro filme português a apresentar, verdadeiramente, qualidades que o tornam uma autêntica Obra cinematográfica”
Do elenco fazem parte Elsa Romina (Bastiana), Barreto Poeira (Gonçalves), João Manuel Pinheiro (Nazairinho), Maria Emília Vilas (Mãe) e Óscar de Lemos (Caçarola), sendo o suporte de rodagem em película de 35mm, a preto-e-branco, tendo a fita a duração de 97 minutos.
Face à posição, à época, da crítica, que o considerou como um filme maior, Jorge Brum do Canto limitou-se a comentar:
“A Canção da Terra é quase um filme de cowboys, tendo, acima de tudo mais, aquele ritmo feroz, impressionante e ofegante dos westerns, ritmo que foi o pai de todo o Cinema de hoje”
Por seu lado, João Bénard da Costa, no seu “Histórias do Cinema”, dá-lhe nota positiva, sendo sua a opinião de que:
“Visto à distância de quase cinquenta anos, "A Canção da Terra" não perdeu qualidades, sobretudo naquilo que sempre constituiu o seu forte: o ritmo visual, a sequência sempre dominada pela imagem, a beleza incomparável da terra e do mar, o tom lírico mantido com segurança e sem pieguice. Jorge Brum do Canto soube traduzir essa imagem poética numa forma cinematográfica que muito deve ao seu operador Aquilino Mendes. Mais próximo de Flaherty ou de Epstein que dos russos, sobra-lhe uma sensibilidade e um conhecimento pessoal muito directo daquilo que mostra”
Estamos em 1939, a um ano do arranque da década marcante do Cinema Português, em que as acções de reequipamento, instalações, assinatura de contratos e tudo mais que a indústria cinematográfica obriga, eis que a Lisboa Filme comunica, no dia 1 de fevereiro ao SPN que transferiu o escritório, o estúdio e o laboratório para a sua nova sede na Quinta dos Ulmeiros, a portas-meias com as instalações da Tobis, no Lumiar, procedendo-se, a 19 de março à assinatura do contrato para a produção do filme João Ratão, assim como a 13 de maio à assinatura do contrato para a produção do filme A Varanda dos Rouxinóis, e, nos finais de maio à aquisição de um equipamento de Back Projection em Paris, a ser usado no filme João Ratão.
Em junho a aparelhagem da Tobis, Eurocord B, é alugada pela SPAC para a 2.ª Viagem Presidencial às Colónias de África e Territórios Britânicos da África do Sul, concluindo-se, em setembro, os trabalhos de construção do restaurante, da cozinha e da cantina do estúdio da Tobis, sendo o percurso entre o estúdio e o restaurante feito através de um túnel, o que preservava a maquilhagem e caracterização dos actores ao estado do tempo, caso a deslocação fosse feita pelo lado exterior dos edifícios.
“A Varanda dos Rouxinóis”
A 19 de dezembro de 1939 estreia o filme “A Varanda dos Rouxinóis”, de Leitão de Barros, no Tivoli, em Lisboa, com a presença do Sub-Secretário de Estado das Obras Públicas e Comunicações, do Governador Civil de Lisboa, do Presidente do Município, Dr. Duarte de Figueiredo, em representação do Ministro da Educação Nacional, e outros. O filme apresenta a actriz revelação Madalena Sotto.
Na qualidade de último filme da década dentro do género comedia popular, “A Varanda dos Rouxinóis” conta com um casting de luxo com especial destaque para as interpretações de António Silva e Maria Matos, pela primeira vez num frente-a-frente, Costinha, Oliveira Martins, Silvestre Alegrim, Regina Montenegro, Dina Teresa e a estreante Madalena Sotto, sendo a fotografia da responsabilidade da dupla Salazar Diniz/Octávio Bobone, argumento e diálogos de João Bastos e a música de Frederico de Freitas.
A interprete de Severa no filme com o mesmo nome, Dina Teresa, volta aos ecrãs portugueses pela segunda e última vez, de novo pela mão de Leitão de Barros, correspondendo está à sua última aparição, no papel de uma actriz que passa a um plano secundário graças ao aparecimento de uma vedeta da nova vaga, correspondendo esta situação a um facto real na sua vida de actriz teatral, girando a história em torno da volta a Portugal em bicicleta. Por tal razão foi viver para o Brasil, só voltando a Portugal para morrer no país que a viu nascer.
A responsabilidade de Produção esteve a cargo da Tobis Portuguesa, a qual optou pelo registo dos cerca de 102 minutos de filme de 35mm a preto-e-branco. A cópia existente na Cinemateca Portuguesa (ANIM) não conta com a totalidade do filme, nomeadamente com a parte final.