A Colorize Media Learning, ciente da importância da Tobis no panorama nacional cinematográfico, vai editar, aqui, no seu site, uma série de artigos, nos quais se irá dar a conhecer a sua história, assim como toda a envolvência que esta acabou por originar.
Várias foram as fontes consultadas, sendo o site da empresa o que mais contribuiu para a informação agora disponibilizada, pelo que lançamos um apelo para nos enviar fotos, vídeos ou documentação onde possamos ir obter informação adicional a este trabalho que agora se inicia, tornando-o mais rico.
O CINEMA EM PORTUGAL
O cinema chegou a Portugal relativamente cedo. Apenas um ano após a apresentação, em Paris, do cinematógrafo dos irmãos Lumière, foram projectadas em Portugal, mais concretamente no Porto, fitas de Aurélio da Paz dos Reis.
O dia 12 de Novembro de 1896 e o nome de Paz dos Reis ficaram gravados como a primeira experiência de Cinema em Portugal e feita por portugueses, graças ao filme por si produzido e realizado com o título A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança.
Aurelio da Paz dos Reis
Paz dos Reis, fotógrafo amador e comerciante na área da floricultura, faz ainda mais alguns filmes, os quais são exibidos com êxito tanto no Porto como e em Braga. Fez ainda exibições no Brasil, contudo estas não terão corrido tão bem como em Portugal. Entretanto, desiludido com os resultados alcançados, toma a decisão de se afastar.
O cinema não acaba com o afastamento de Paz dos Reis. Outros nomes como Manuel Maria da Costa Veiga filma em Lisboa e Cascais conquistando o interesse do público.
Em 1909 nasce a Portugália Film para a qual, em 1911, João Tavares realizou a primeira ficção autónoma do cinema nacional.
No entanto os primeiros anos do cinema português caracterizam-se essencialmente por documentários.
De novo no Porto procura-se um rumo mais concreto, e, a 22 de Novembro de 1917 nasce a Invicta Film, Lda. Esta empresa tinha apenas como objectivo o fabrico, aluguer e vende de películas cinematográficas.
A ideia era apostar numa empresa produtora com bases sólidas a exemplo do que se fazia nas grandes empresas europeias. Embora, produzindo o Frei Bonifácio em 1918 foi só depois de 1919 que se iniciou a grande produção da Invicta Film sobe o lema fitas genuinamente portuguesas. A maior parte dos argumentos da Invicta eram adaptações de obras literárias de grandes autores portugueses. Em 1924, devido a vários factores, como a desvalorização da moeda, o aumento dos preços da matéria prima e dos salários exagerados dos artistas, a Invicta Film dá inicio a um período de forte declínio. Acabaria por fechar as portas no ano de 1931.
No entanto entre este período em que o cinema nacional parecia entrar no mesmo marasmo que a Invicta Film, Rino Lupo filma nos estúdios da Invicta o filme Fátima Milagrosa, o qual, segundo Luís de Pina, reveste-se de oportunismo e explora a crendice religiosa, contudo há a registar a primeira aparição cinematográfica de um jovem galã e desportista da cidade do Porto, de nome Manoel de Oliveira, o qual depois de frequentar a escola de actores de Rino Lupo aparece neste filme como figurante.
Já dissemos que o cinema português se caracterizou nesta sua primeira fase fundamentalmente pela produção de documentários. Para tal terá contribuído uma lei proteccionista que acabaria por ter efeitos contrários aos inicialmente desejados.
A 6 de Maio de 1927, o decreto n.º 13.564 determinava, no artigo 136º:
“Torna-se obrigatória, em todos os espectáculos cinematográficos, a exibição duma película de indústria portuguesa com um mínimo de 100 metros, que deverá ser mudada todas as semanas, e, sempre que seja possível, apresentada alternadamente, de paisagem e de argumento e interpretação portuguesa”
Esta ficou conhecida como a lei dos cem metros.
Inicialmente pretendia incentivar a produção nacional mas o resultado acabou por ser um aumento do amadorismo e da falta de qualidade das fitas. Um artigo do articulista Sócrates na revista Invicta Cine, em Junho de 1929, resume, nestas palavras, o descontentamento que se sentia:
“O tempo passa, parecendo semear em cada lugarejo, de preferência nas cidades de Lisboa e Porto, uns poucos Operadores de tomadas de vistas. Crescem, compram uma máquina em segunda mão, um tripé vacilante, aprendem a moer café em qualquer merceeiro da terra, e mais tarde aparatosamente com o importante aparelho, uma caixa a tiracolo, e seguidos por uma multidão de garotelhos em plena praça pública, voltados para um monumento de que nada conhecem, principiam as primeiras voltas de manivela...”
Leitão de Barros
Só em 1930 o cinema português receberia um novo impulso e um novo fôlego com a estreia do filme de Leitão de Barros, Maria do Mar, dando-se, assim, o arranque da chamada geração de 30. Leitão de Barros foi sem dúvida um dos mais importantes nomes desta geração na qual se destacou também, com um aplaudido Douro, Faina Fluvial como filme de estreia, Manoel de Oliveira.
A participação cinematográfica de Oliveira tinha sido até então a figuração no filme de Rino Lupo. Era ainda conhecido, principalmente no Porto, pelos seus feitos desportivos, atléticos e automobilísticos. De forma amadora e com a colaboração de António Mendes, o seu Director de Fotografia, filma durante dois anos a vida na zona ribeirinha da cidade do Porto. Estes dois anos foram resultado do amadorismo, pois António Mendes trabalhava e apenas podiam filmar aos fins de semana e depois do expediente. A falta de financiamento do filme, uma produção independente suportado por Manoel de Oliveira fez também aumentar o tempo de filmagens.
Outra curiosidade que resulta deste auto-financiamento foi a forma como o filme foi montado, dado que para poupar dinheiro em película Oliveira monta o Douro, Faina Fluvial em negativo, fazendo apenas a positivação depois de montado.
Neste filme notam-se influências de Walter Ruthmann e do seu filme Sinfonia de Uma Capital (Berlim). No entanto o ritmo criado por Oliveira e os contrastes entre o moderno, o progresso, o antigo e a tradição são elementos surpreendentes e bem conseguidos no documentário. Douro, Faina Fluvial volta a ser exibido em 1934 como complemento ao filme Gado Bravo, desta vez já sonorizado, sendo a partitura da responsabilidade de Luís de Freitas.
O primeiro filme de Oliveira estreia no mesmo ano que Severa, o primeiro filme sonoro rodado em Portugal com sonorização feita em França. Estávamos no ano da transição do mudo para o sonoro. No entanto a obra de cineasta do Porto ainda se situava no primeiro período do cinema português. Não era no entanto uma simples continuidade com o tipo de trabalhos que se realizavam em Portugal até então. Oliveira lança-se na realização com uma obra moderna, arrojada e que João Bénard da Costa considera o primeiro clássico do cinema português.
O ARRANQUE DA TOBIS
Perante todos estes desenvolvimentos do Cinema em Portugal, em Agosto de 1930 o Inspector dos Espectáculos convocou os Profissionais do Cinema e Jornalistas para elegerem os seus representantes no sentido de se constituir uma Comissão encarregada de estudar as condições da criação de uma indústria cinematográfica em Portugal.
A 25 de Outubro teve lugar uma reunião, na sede da Inspecção dos Espectáculos, desta Comissão, estando presentes na mesma o Dr. Ricardo Jorge e Arquitecto Raul Lino, representantes respectivamente do São Luís e da empresa do Tivoli, ou seja, do chamado sector da exibição, do Dr. João Botto de Carvalho, como sócio-gerente da Sociedade Geral de Filmes e de J. Castello Lopes, na qualidade de representantes dos distribuidores, assim como José Leitão de Barros Director de Produção da Sociedade Universal de Superfilmes e Aníbal Contreiras, sócio do laboratório Lisboa Filme, em delegação dos Produtores, e, ainda, os jornalistas Eduardo Chianca de Garcia e António Lopes Ribeiro, como representantes da imprensa cinematográfica.
Como curiosidade, estreou-se a 5 de Abril desse ano (1930) o filme Sombras Brancas nos Mares do Sul de W. S. Van Dyke, no Cinema Royal, sendo este o primeiro filme sonoro exibido em Portugal.
Em 1931, concretamente a 18 de Junho, estreia-se, no São Luís, em Lisboa, o primeiro filme sonoro português, A Severa, de Leitão de Barros, no qual os interiores e a sonorização foram feitos em França (Epinary-sur-Seine), sendo os exteriores rodados em Portugal.
Em Outubro do mesmo ano a Comissão nomeada apresentou um relatório, no qual se sugeria, entre outras acções, a construção de um estúdio para a realização de filmes, recorrendo-se, para o efeito, a técnicos e artistas portugueses.
Estamos em 1932, em Maio, tendo-se à data concluído as negociações entretanto encetadas com a empresa alemã Tobis Klangfilm, as quais deram origem à constituição, a 3 de Junho, da Companhia Portuguesa de Filmes Sonoros Tobis Klangfilm, com um capital inicial de 1.000.000$00 (um milhão de escudos), inteiramente subscrito, dividido em 20.000 acções de 50$00 cada, sendo a sua sede em Lisboa. O nome Tobis é o acrónimo de TonBild Syndikat, ou, em português, Sindicato do Som e Imagem.
Para a construção do estúdio, com todas as dependências e edificações, assim como o material eléctrico e cinematográfico que constava no relatório da Comissão de estudo, foi adquirida, em Julho desse ano, a Quinta das Conchas, no Lumiar, tendo o Notícias Ilustrado, a 25 de Novembro, publicado os ante-projectos da primeira série de construções da Tobis da autoria do arquitecto Cottinelli Telmo e do técnico francês A. Richard.
O inicio da construção do estúdio deu-se a 19 de Dezembro, sendo a responsabilidade entregue ao construtor Diamantino Tojal.
No arranque de 1933, a 16 de Janeiro, a Tobis Portuguesa celebra um contrato de aluguer de um sistema de captação e registo de áudio assim como um sistema de captação de imagem, ou seja, uma câmara, com as congéneres alemã e holandesa, respectivamente, Klangfilm e Internationale Tobis Maastschappij.
Entretanto, em Março procede-se ao aumento de capital da empresa o qual passa de 1.000.000$00 para 2.000.000$00, ou seja, para o dobro, e é feita a recepção do sistema de captação e registo de som.
Em Junho dá-se início à rodagem do filme A Canção de Lisboa, com a direcção de Cottinelo Telmo, e um elenco de luxo, constituído por Vasco Santana, António Silva, Beatriz Costa como cabeças de cartaz.
No primeiro dia de Agosto a empresa Companhia Portuguesa de Filmes Sonoros Tobis Klangfilm passa a designar-se por Tobis Portuguesa, tendo o Decreto-lei Nº 22.966 isentado, durante cinco anos, a Tobis ao pagamento das contribuições predial e industrial, assim como os direitos de importação de todo o tipo de equipamento necessário ao exercício da sua actividade.
Com a chegada do mês de Novembro eis que se estreia, a 7, a primeira longa metragem cuja responsabilidade de produção se ficou a dever à Tobis, ou seja, A Canção de Lisboa, anunciado, orgulhosamente o cartaz do filme no São Luíz:
“O primeiro filme português feito por portugueses”
Face ao desenvolvimento da indústria audiovisual é criado, em 1934, a 13 de Julho, o Sindicato Nacional dos Profissionais de Cinema, sendo o despacho oficial da responsabilidade do Sub-Secretário de Estado das Corporações e Previdência de então.
A 17 de Agosto o estúdio, entretanto construído na Quinta das Conchas, vê o dia da sua inauguração, o que implicou a celebração entre a Tobis e a Lisboa Filmes, de um contrato no qual a segunda ficou com a responsabilidade de execução de todo o tipo de trabalhos laboratoriais e complementares dos filmes produzidos pela primeira.
O edifício do Estúdio, estruturado num grande vão de 34 x 19 m, compreendia o fosso cénico, as salas de adereço cenográfico, os camarins de actores e dependências dos serviços de apoio, bem como uma imponente teia suspensa em asnas metálicas a perfazer uma galeria de luz.
Construído em paredes de alvenaria hidráulica, este edifício apresentava uma cobertura metálica e a fachada principal contracurvada lembrando algum expressionismo dos anos 30.
Fontes: Comunicações (João Simão) e site Tobis Portuguesa