O início das emissões regulares da Televisão em Portugal, através da RTP-SARL, no dia 7 de Março de 1957, directamente da Feira Popular de Lisboa, em Palhavã, actual Fundação Gulbenkian, foi um marco na história do audiovisual português, e da própria história do Pais.
Na época, a RTP editava uma pequena brochura, conhecida entre os colaboradores da casa como o “mosquito”, onde se divulgavam temas directamente ligados à cobertura, aos programas, ao modo como se deve ver televisão, pois não havia a proliferação de revistas das especialidade hoje em dia à venda nas bancas.
O número 1, distribuído à saída do Pavilhão, apresentava na sua capa 4 perguntas, que eram e são, afinal, algumas das perguntas base de qualquer notícia:
Onde? Como? Quanto? Quando?
Onde se fazia a apresentação da Empresa e da sua Missão, dizia a brochura:
“A Radiotelevisão Portuguesa foi criada em obediência a um imperativo de progresso e de valorização nacional”
Ou seja, estava em jogo, para além de outros valores, que aqui nos dispensamos comentar, o aumento da cultura, da educação distraindo, e, sublinhe-se, a satisfação das necessidades espirituais.
Afirmava-se, a dado passo, que:
“A Televisão permite-lhes, finalmente, conhecer, ver, assistir a tudo o que compõe a Vida e interessa às suas almas”
A relação com os telespectadores fazia-se no masculino e com bastante elevação:
“O Senhor verá na T.V. tudo quanto mais lhe interessa”
Mas, os mais pequenos não foram esquecidos, pois a RTP teve desde sempre na sua grelha de programas, razões suficientes para a criançada:
“Para os mais pequeninos: as histórias infantis, os palhaços, os fantoches, passarão pela sua casa de estar transformada, como por encanto, no melhor quarto de brinquedos do Mundo e das coisas”
Havia, também, a secção de curiosidades, como esta:
“São necessárias 15 a 20 horas de ensaios para que se possa transmitir, na T.V., um programa de teatro de uma hora”
Cabe aqui recordar que à época as emissões eram baseadas nos directos, ou seja, a maravilha do registo em fita, inventado em 1956 nos EUA, ainda não tinha chegado a Portugal, pois só em 1964 é que tal se verificou.
Eis que se dá a adesão à União Europeia de Radiodifusão (UER/EBU) e com ela o acesso às transmissões via Eurovisão, a que o “mosquito” reportava:
“A RTP abrir-lhe-á vastas janelas sobre o Mundo”
Mas, sem televisores não há consumidores, pelo que urgia a divulgação das marcas mais conceituadas de então, como a PYE, Grundig, Tonfunk, Philips, Shaub-Lorenz, Nordmende, GE e Philco.
“A RTP e os negociantes de aparelhos de televisão conjugaram os seus cálculos para que possa oferecer à sua mulher, a seus filhos e a si próprio um receptor de T.V.”
A “famosa” taxa não podia faltar, nos termos que se reproduzem:
“A licença custar-lhe-á menos de um escudo diário”
A Televisão era, segundo dizia o anúncio:
“Um deslumbramento para a vista e um prazer para o ouvido”
Os conselhos técnicos não podiam faltar:
“Coloque o aparelho de modo a evitar reflexos incómodos”
O folheto terminava com a apresentação das Normas B, as adoptadas em Portugal para VHF (Very High Frequency) e com o pedido de opiniões, gostos e sugestões, assim:
“Se tem dúvidas, escreva-nos ainda! Para um primeiro inquérito deite o postal, junto, nas caixas do Pavilhão (referência aos improvisados estúdios na feira de Palhavã) ou meta-o no correio. Não precisa estampilha”.
Para ver a brochura completa clique aqui