Os Amigos
2015-08-04
Texto: Carlos A Henriques
Esta é a terceira e última parte de uma abordagem biográfica não exaustiva de Adriano Nazareth, Realizador de Cinema e Televisão, cuja vida, entre outras virtualidades, foi feita na base de um elevado profissionalismo e profunda amizade por aqueles que tiveram a felicidade de com ele partilharem o seu saber e a sua Obra.
Considerei ser muito importante neste trabalho dar ênfase à amizade e aos muitos amigos que granjeou, razão que me levou a solicitar a alguns amigos comuns um depoimento sobre o Homem e o Profissional no contesto da sua actividade de mais de 30 anos ao serviço da RTP.
Artur Moura
"Faltavam ainda alguns anos para se iniciarem as emissões experimentais da RTP na Feira Popular de Lisboa (1956) quando conheci o Adriano Nazareth. Ambos gostávamos de Fotografia, Cinema e Teatro.
Éramos sócios do Clube Fenianos Portuenses (um clube que na altura realizava com grande êxito os cortejos de Carnaval da cidade do Porto e tinha uma secção de teatro dirigida pelo grande actor Jaime Valverde) e foi ali que nos conhecemos.
Chegamos a ensaiar nesse Clube uma peça de teatro (Auto da Barca do Inferno), eu, na altura era desenhador litográfico, o Nazareth representante da Nobilis, uma empresa de tecidos.
Próximo do Clube Fenianos Portuense e da Câmara Municipal do Porto, o Nazareth possuía também um escritório-estúdio. Nas minhas horas vagas, comecei a frequentar esse seu escritório-estúdio e a fazer-lhe companhia.
O Nazareth realizou um filme a cor sobre o Porto no qual fui seu Assistente.
Como ele tinha muitos conhecimentos, começamos os dois a filmar muitos casamentos em película colorida (16mm). Os filmes a cor na altura só podiam ser revelados na Alemanha, e, mais tarde, também em Espanha, dado que em Portugal ainda não se revelava filme a cor, portanto a película dos filmes que fazíamos era enviada para esses Países, os quais nos eram devolvidos algumas semanas depois.
Artur Moura, Fernando Lourenço e Carlos Oliveira
Mais tarde surgiram, efectivamente, as emissões experimentais da RTP na Feira Popular Popular de Lisboa, para onde começamos a enviar reportagens dos acontecimentos do Norte do País para o Telejornal.
Em 1957 surgiram as emissões regulares da RTP e nessa altura continuei a filmar os acontecimentos no Norte do País exclusivamente para a RTP.
O Adriano Nazareth gostava mais da realização, dirigindo diversos Documentários e eu, sempre que disponível, colaborava com ele, inclusivamente pintava à mão as legendas para esses mesmos documentários.
Lembro-me de alguns documentários que fiz com o Nazareth tais como:
“O Baredo”, “O Mar Também Dá Pão”, “Um Rio Foi Vencido”, “Onde os Bois Lavram o Mar”, “Fisionomia de Uma Cidade”, “Moliceiros”, “Henrique Medina” e outros.
No entanto, o Documentário para mim mais extraordinário e mais difícil foi: “Barcos Rabelos”.
Lembro-me também que quando foram inaugurados os estúdios da RTP no Monte da Virgem foi o Adriano Nazareth que cá realizou o primeiro programa em directo da estação. Depois, e nesse mesmo estúdio, realizou variadíssimos programas.
Eu fiquei a ser o “faz tudo” nos estúdios do Monte da Virgem com o Nazareth, de quem continuei grande Amigo até ao seu desaparecimento."
Artur Moura (Porto, Julho 2015)
Adriano Nazareth com José Pinheiro de Araújo, Jorge Teófilo, António Cunha e Antero Nunes
Antero Nunes
"Presente e lembrado por aqueles que o conheceram, com ele conviveram, que o estimaram e acompanharam profissionalmente.
Esquecido por quem nunca o conheceu, nem chegou a saber quem era.
Tal como os pioneiros do Cinema que ficaram na História respectiva, Adriano Nazareth tem igualmente um lugar na Televisão em Portugal.
Conheci-o em 1957, ainda eu não estava na RTP, nem as imagens do novo sistema de comunicação tinham chegado ao Porto.
Nem Estúdios nesta cidade, nem programas aqui produzidos. Lisboa andava experimentalmente pela Feira Popular, na Palhavã, mas Adriano Nazareth tinha já começado a trabalhar.
Programas isolados, produzidos com uma máquina Paillard de 16 milímetros, ainda manual, de corda, registavam o que era possível, da vida da cidade.
Fados, na boite “ A Candeia”, na Rua do Almada, documentários com conteúdo inovador e humano, temas pensados que transcendiam já o postal ilustrado habitual.
Desse tempo, "Meio Dia", uma pincelada em imagens vivas de um Porto que acabava uma manhã de trabalho e começava a entrar pela tarde dentro, com operários a almoçar em plena rua, no local de trabalho, transportes e pessoas num movimento contínuo. Nazareth filma, os rolos de filme eram enviadas para Lisboa, revelados, montados, acompanhados de um texto, sonorizados e, horas ou dias depois, exibidos.
O Porto, como Centro de Produção não existia, mas Adriano Nazareth fixava assim um nome, junto dos apreciadores da nova forma de arte, como pioneiro, inovador, contador de histórias em imagens.
20 de Outubro de 1959!
Os Estúdios do Porto abrem-se como promessa de uma cidade que quer aparecer nas pantalhas da nova Televisão. Adriano Nazareth estava presente e levava consigo um espírito empreendedor, que havia de continuar a manifestar-se durante muitos anos de trabalho.
E, com este arranque simbólico, os Estúdios do Porto iniciam as suas emissões com um "plano picado " da Torre dos Clérigos, feito airosamente a partir de uma avioneta a rodear graciosamente o monumento, feito pela máquina do Adriano Nazareth. Surge o primeiro programa. O conjunto de Pedro Osório mostra-se ao público televisivo. Um automóvel antigo atravessa a Ponte D. Luís em direcção ao Monte da Virgem, transportando os músicos do conjunto e assim começa a participação do Porto, primeira de muitas outras que iriam seguir-se.
Surge aqui uma faceta, constante no profissionalismo de Adriano Nazareth, pois o Realizador passa a fazer dos seus colaboradores um bloco de trabalho, em que todos se unem num interesse comum. Numa palavra, Operadores de Câmara, de Som, iluminação, Régie, Anotadoras, até ao mais modesto Colaborador, partilham do mesmo entusiasmo.
Adriano Nazareth é uma referência.
O seu entusiasmo, interesse e dedicação contagiam. O trabalho de equipa, é uma constante. Uma vez por semana, sem hesitações, apresentam-se novos conjuntos musicais. Tony Hemandez, Walter Berhend, e tantos outros que começavam a surgir, debruçavam-se na nova "janela" chamada Televisão e criavam o seu público.
A forma de apresentação, o mais imaginativa possível, dependia dos cenários e da realização. Da equipa faz parte um cenógrafo. A. Baganha (Albino Baganha) vindo da Escola de Belas Artes do Porto e da Belarte, a que mais tarde se juntaria o Eduardo Lemos, pintor de grande sensibilidade, igualmente inovador e entusiasta.
Este espírito de equipa, reunido à volta do Adriano Nazareth, revelou-se bastante produtivo. O Porto e os seus Estúdios, pela mão de Adriano Nazareth, iam firmando os seus créditos. Peças de teatro, variedades, pequenos programas musicais, ao mesmo tempo que consolidavam a posição alcançada, iam mostrando o que era possível fazer, com muito limitados recursos.
Um programa de "variedades”, por exemplo, deu a mão a muita gente nova, sem grande experiência, pois ninguém cantava, e era feito com recurso a vozes em play back. Ou "Às vossas ordens" onde o artista Zé Penicheiro pintava de improviso.
A evolução que se seguiu, enquanto Nazareth, em filme, ia produzindo "O Barredo", "Fisionomia de Uma Cidade", “Um Rio Foi Vencido", e tantos outros documentários que fizeram história, fazia abrir-se pouco a pouco as portas da Televisão a artistas de Grupos ligados à vida artística da cidade e arredores.
Pela mão de Adriano Nazareth, iam surgindo nomes que se fixaram, dos “Plebeus Avintenses”, “Aurora da Liberdade”, “Teatro Experimental do Porto” e tantos outros.
Artistas que fizeram escola, como José Pinto, José Silva, Baptista Fernandes, António Montez, Fernando Rocha, Silva Campos, David Silva, a par de outros nomes bem conhecidos do público, como António Pedro, João Guedes, José Braz, Maria Manuela Couto Viana, ou Pedro Homem de Mello, marcaram presença, muitas vezes, no Monte da Virgem.
Nos trabalhos documentais de Adriano Nazareth, vieram a figurar textos de muitos outros autores, habituais na RTP Lisboa, prova do seu reconhecimento pela qualidade artística dos temas abordados. Citem-se Carlos Rodrigues, Horácio Caio, Navarro de Andrade, Oliveira Pinto e Vasco Hogan Teves.
Todos deixaram colaboração visível nos filmes de Adriano Nazareth.
O Realizador teve várias bolsas de estudo fora do País, e viajou muito. Trouxe imagens e impressões vivas dos seus estágios por Madrid, que alargou a crónicas cinematográficas no Jornal de Notícias. O Jornalista Pinto Garcia, vindo do JN, deixou também marcas em alguns dos seus documentários e programas televisivos.
Macau
Macau, Tailândia, índia e Japão entre muitos outros lugares, foram também captados pela objectiva e pelo olhar de Adriano Nazareth.
Alguns dos seus bons Colaboradores não trabalhavam na RTP como efectivos, mas deixaram igualmente presença regular nos filmes e documentários do Realizador.
Entre eles o ilustrador Álvaro Camiña, em “Conímbriga” e “Caminhos Portugueses de Santiago”, da mão dada com Eduardo Lemos, Cenógrafo da RTP e Lopes Fernandes, Operador de Cinema muito frequente na obra de Manuel de Oliveira.
"Conímbriga"
O que procurou Nazareth no Documentário, parte mais fundamental da sua obra, nos primeiros anos, com especial destaque para a saga do Vinho do Porto, nos magníficos “Barcos Rabelos”, a preto e branco? E programas vivos como o Folclore de Pedro Homem de Mello?
Sobretudo um retrato humano, sempre conseguido, o mostrar de perto a face menos conhecida do homem por detrás do homem.
Nazareth foi várias vezes ao Ultramar, numa fase conturbada da nossa história, e naquilo que era o "nós por cá, todos bem", deixou imagens dramáticas de uma presença portuguesa cada vez mais comprometida.
Todavia, o Porto foi o cenário mais realista dos seus documentários.
Acompanhámos, muito de perto Adriano Nazareth, e tivemos o privilégio de deixar os nossos textos num número significativo dos seus trabalhos, sobretudo documentais. Partilhava conhecimentos, experiências e saberes, com os colaboradores mais próximos. Artur Moura foi, talvez, o Operador de Cinema que mais o acompanhou e se ligou indiscutivelmente, à concretização de muitos dos seus êxitos.
Em Dezembro de 1965 "Os Caminhos Portugueses de Santiago" eram destacados com um primeiro prémio do Ministério Espanhol de Informação e Turismo.
1988 marcou o ano da publicação de "30 Anos de Televisão" onde, numa obra gráfica bem conseguida, Adriano Nazareth faz desfilar memórias de uma vida dedicada à Televisão, grande parte nos Estúdios do Porto, muito embora tivesse também participado na realização de bastantes programas de Estúdio com origem no Lumiar, em Lisboa.
Uma das "imagens de marca" do Realizador, eram os seus chapéus, muito "sui géneris" provenientes de várias origens e pelos quais tinha uma predilecção muito especial.
Numa altura em que estávamos em Milão, no âmbito de uma bolsa de estudo da Gulbenkian, Nazareth contactou-nos, deu-nos o endereço de uma chapelaria milanesa e encomendou-nos um chapelinho para o regresso. Com uns ligeiros ajustes, assim se fez...
Todavia, para além deste perpassar de imagens da vida de Adriano Nazareth, sobressai uma lacuna séria.
A RTP nunca lhe prestou a devida homenagem, deixando as gerações posteriores conhecerem a sua obra documental e televisiva e, as contemporâneas, recordá-la. Há alguns anos, durante um Aniversário, a RTP exibiu apenas alguns dos seus documentários.
Mais nada.
"Os Sargaceiros da Apúlia"
Fica uma dívida em aberto, para com este Realizador que foi um dos pioneiros da história e da evolução da Televisão em Portugal, esforçado, humano e sincero no seu olhar objectivo, que ia desde "Os Sargaceiros da Apúlia” à “Revolta dos Taberneiros", conseguida numa estreita colaboração com a "Seiva Trupe".
Henrique Medina, Adriano Nazareth
Este curto Mosaico da vida e obra do Realizador, ficaria incompleto, sem falarmos do "clã" Nazareth numa pincelada breve mas significativa, como ele fez com Henrique Medina, o Pintor de Esposende e das beldades de Hollywood...
Nazareth teve dois filhos. A Maria de Lurdes (Milú), protagonista da fase infantil dos seus filmes e Nazareth Júnior que, depois de ter passado pela escola de Londres produziu e realizou na RTP, “Portugal Romano" um friso histórico com magníficos desenhos de Vitorino Teixeira, um sobrinho, Álvaro Nazareth, que muitos confundem como filho, dada a proximidade afectiva de parte do tio.
Nazareth Júnior, faz uma gestão da herança paterna na Universidade Católica, no Porto, onde rege a cadeira de Cinema.
Adriano Baia Nazareth, neto do Realizador é, presentemente, Realizador, também, na RTP-Porto em programas directos e musicais, numa linha de continuidade profissional.
As memórias são janelas abertas no tempo. Com lacunas e hiatos que, com certeza, deixámos para trás, não vamos fechá-las.
Até porque esperamos que a RTP retire dos arquivos poeirentos algumas das latas de filme e homenageie Adriano Nazareth."
Antero Nunes (Maio 2015)
Vasco Hogan Teves
"Não éramos muitos os companheiros naquela fase de desafiante experimentação colectiva - mas que pedia muito de pessoal - apostada na necessidade urgente de fazer Televisão, pela primeira vez.
É dentre esses alguns que devo distinguir a figura de Adriano Nazareth.
Homem do Porto, guardador de belas imagens da sua cidade, mais ainda, porém, do Douro, rio tão amado que foi pelo modo e pela maneira como o sentia, acabando a descreve-lo com rara e sábia intuição fílmica, sempre animado por enquadramentos e panorâmicas que as objectivas da companheira 16 mm iam arquivando sobre a película.
O Adriano Nazareth que eu ainda melhor fiquei a conhecer a partir das reportagens da inauguração da ponte da Arrábida (1963) trabalhava para o Telejornal sempre que era preciso.
Mas visível era que a sua paixão ia para lá das histórias curtas. Ainda que em todas elas deixasse a marca do profissional que era.
Mas a paixão, essa, sim, estava no Documentário, sendo por aí que mais o devo lembrar -sempre! - nas margens escarpadas do Douro, na sua corrente de levar rabelos. Emprestei a minha escrita a uma dessas histórias que ficaram contadas por um grande, por um enorme criador.
O meu amigo Adriano Nazareth, que enquanto Realizador, fez na RTP praticamente tudo o que havia para fazer, merece que o recorde como tal.
Com o seu desaparecimento ficou mais pobre a TV (e o Cinema) em Portugal. Como, também, aqueles que com ele mais conviveram e que continuam a sentir a sua ausência."
Vasco Hogan Teves (Maio de 2015)
Álvaro Nazareth, Adriano Nazareth e Maria Aurora Nazareth
ÁLVARO NAZARETH (Sobrinho)
"Desde já, é meu dever agradecer o honroso convite que me foi dirigido pelo autor desta obra a fim de nela incluir algumas memórias de Adriano Nazareth, meu tio.
E este parentesco não foi, de modo algum, o de um relacionamento distanciado e ocasional. Muito pelo contrário. Desde logo porque foi também meu encarregado de educação, pois sendo eu, desde o ano de idade, filho de pais separados, essa função, segundo as Leis da época, teriam sempre que ser assumidas por um homem.
Evidentemente que foi o meu tio, irmão de minha mãe Maria Aurora Nazareth, que mais tarde se haveria de distinguir como mestra de guarda-roupa do TEP (Teatro Experimental do Porto), quem prontamente assumiu, perante o Tribunal de Menores essa responsabilidade.
Acresce ainda o facto de sempre termos sido vizinhos e de praticamente todos os anos passarmos férias em conjunto, muitas delas e já nos últimos anos da sua vida, em Benálmadena, município da província de Málaga.
Primo direito de seu filho Adriano Joaquim Nazareth e sendo ambos praticamente da mesma idade, foi coisa natural o Cinema ser o motivo dominante das nossas conversas.
De resto, volta e meia havia sessão de um filme familiar, invariavelmente feito por punho firme e de igual fascínio ao de um projetado numa tela de cinema.
Foi pois coisa natural aprendermos as técnicas do Cinema quando já meu tio era operador de imagem na RTP.
Daí até sermos também nós próprios repórteres de imagem da Televisão, foi um pequeno passo. Apenas com um único profissional nessa área e sendo já Adriano Nazareth Realizador de estúdio, era normal sermos chamados a "cobrir" incontáveis reportagens, para óbvia surpresa de quem nos via, de Paillard em punho, com 17 ou 18 anos de idade. Mas éramos apreciados pelos nossos trabalhos, bons alunos que fôramos de um mestre que nos ia projetando o futuro profissional.
Não segui as pisadas de meu primo na RTP. Ele foi Realizador e eu sê-lo-ia também, mas de Rádio, na Antena 1, apesar de várias colaborações ainda na Televisão única, como apresentador de diversos programas ou de locuções de documentários.
De Adriano Nazareth tenho a seguinte opinião, imparcial, como merece. Não é o familiar a falar do tio, mas sim um Jornalista a escrever sobre o Realizador que foi Adriano Nazareth e o legado que nos deixou:
O seu processo criativo, fosse no Cinema, fosse na Televisão, é o de toda a criação artística, contudo, numa dinâmica onde apenas sobressaem os que inovam, isto é, os talentosos.
Um criador, Pintor por exemplo, perante uma tela em branco, sempre nela vê o que já a sua mente imaginou, num frémito de casualidades sustentadas no exercício constante da procura do "novo", do inédito.
Um Escultor sempre sabe que na sua igual ação criativa, bastará retirar o que está a mais numa pedra ou o que acrescentar ao barro ou outro elemento que já esteja na sua estrutura de trabalho.
E podemos chamar aqui todos os criadores de todas as formas de arte.
Como é sabido, a própria Histórias da Arte posiciona, numa fórmula de arte comparada, todos os movimentos e momentos dos "passos em frente".
Nenhum deles se esbate com as fórmulas de permanente pesquisa, antes, fazem parte da personalidade de cada um dos agentes que buscam a inovação.
Adriano Nazareth é, para mim, um Impressionista. Contemporâneo.
Explico porquê:
O nome" Impressionismo" teve origem num Quadro de Claude Monet chamado "Impressão, Nascer do Sol". Revela-nos o mar do Havre que o Pintor não tentou captar numa perspetiva duradoura, mas sim capturar aqueles escassos momentos da manhã em que a noite dá lugar ao dia.
Equipa arranque do registo a cores
Tentou ainda apreender que a luz da madrugada, tal como no quadro "Outono em Argententeuil”, pintado depressa antes que o efeito natural se desvanecesse.
A ciência dizia aos impressionistas que aquilo que os olhos veem pode ser, tantas vezes, distinto do objetivo real em si.
E toda a arte é Abstração. E criar é uma festa, uma aventura, um mergulho.
Para Adriano Nazareth, que sempre teve em mente a função pedagógica dos seus filmes, realizar era uma cana de pesca que lançava para dentro e fora dele.
O anzol vai por ali abaixo e na volta vêm emoções, afetos, dores, sonhos, ilusões e utopias.
Assim entendo toda a obra de Adriano Nazareth.
Assim não o entenderam quem, nas funções exercidas nos pisos superiores o enviavam para a régie, onde no estúdio o esperava uma sessão de culinária ou de ginástica matinal.
Exatamente, como se pedissem a um Pintor, já consagrado pela opinião pública, que pintasse cartazes com os preços de alguns produtos de supermercado.
Com maestria e luva branca, Adriano Nazareth entregava essa função ao "misturador de imagem" e esperava, calmamente, no hall junto ao estúdio, que o programa terminasse.
Acho que, essencialmente, é isto que bastará, a meu ver, para descrever um vulto incontornável do Cinema de 16mm e da Televisão em Portugal.
A minha vénia perante a ideia desta obra. Seguramente merecida.
Álvaro Nazareth ( julho 2015)
Adriano Baía Nazareth (Neto)
Escrever sobre o meu avô como colega de profissão obriga a posicionar a minha relação consanguínea num plano secundário. Se num pensamento inicial se pode considerar algo bastante difícil se não impossível, de facto a personalidade vincada do meu avô que procurou sempre separar as relações familiares das profissionais acaba por ser uma tarefa que não é custosa.
O meu testemunho como colega não é muito extenso pela seguinte razão:
Eu entrei para a RTP como Assistente de Cenografia por concurso público, curso e estágio em 1990. Como pertencia aos serviços de cenografia a relação profissional com o meu avô, Adriano Nazareth, era esporádica porque existiam outros interlocutores no processo da produção de um programa entre a cenografia e a realização.
O Realizador Adriano Nazareth em circunstância alguma utilizou o fator familiar como forma ou estratégia de poder desbloquear alguma situação em relação à cenografia de um programa. Reforço, conhecendo o meu Avô, a separação entre família e profissão era inquestionável.
No entanto, posso testemunhar que o Realizador Adriano Nazareth tinha com todos os colegas, artistas e convidados uma relação de franco respeito, amizade e cordialidade. A equipa de produção respeitava-o como Realizador essencialmente pela segurança e firmeza que demonstrava nas opções técnicas e estéticas, como, também, pela sua franca abertura a sugestões que pudessem inovar e melhorar a produção de um programa. Sempre demonstrou um grande respeito por toda a equipa e ao mesmo tempo uma enorme exigência no cumprimento dos procedimentos inerentes ao processo de produção de televisiva.
Infelizmente o meu testemunho é curto e pouco personalizado porque para além das razões descritas, não fomos colegas durante muito tempo.
No entanto importa esclarecer o seguinte:
O curto testemunho pode fazer transparecer alguma distância emocional. Não é verdade. Hoje, como Realizador de programas televisivos na RTP e investigador académico para tese de doutoramento sobre produção televisiva, continuo a reconhecer o meu Avô como um grande profissional de Televisão que tinha um imenso respeito pelo próximo e por si próprio.
Um dos pioneiros na construção de uma linguagem televisiva em termos universais que levou uma vida inteira a questionar, a experimentar e a construir narrativas audiovisuais.
Um grande Realizador, referência na história da RTP e da Televisão, de quem eu tenho um imenso orgulho de ser seu neto.
Adriano Baía Nazareth (Junho 2015)
Fontes: Autobiografia “Adriano Nazareth - 30 Anos de Televisão” (Adriano Nazareth - Queiroz Neves & Ca. Lda-1988), “História da Televisão em Portugal-1955/1977” (Vasco Hogan Teves - Editorial TV-Guia - 1998), Artur Moura, Antero Nunes, Vasco Hogan Teves, Álvaro Nazareth (sobrinho), Adriano Baia Nazareth (neto), Revista Maria, Revista Plateia, Revista TV, Revista TV Guia, Revista Flama, Revista Nova Gente, Revista Rádio & Televisão, Jornal do Norte, Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Diário de Lisboa, Diário da Manhã, Diário Popular e memória do Autor.