Um Vulcão Em Plena Actividade........Televisiva
Texto: Carlos A Henriques
Inauguração Ponte da Arrábida
A construção da segunda ponte para circulação rodoviária que passou a ligar a margem sul do rio Douro (Vila Nova de Gaia) com a margem norte, ou seja, com o Porto, assim como a “auto-estrada” que lhe dava acesso, a qual se iniciava em Carvalhos, tiveram um impacto do mesmo tipo ao verificado um século antes com a inauguração dos caminhos de ferro na zona Norte.
A ponte que foi construída entre 1956 (25 de Outubro) e 1963 (22 de Junho-Inauguração), sendo os ante-projectos (5) e o projecto final do Professor Eng. Edgar António de Mesquita Cardoso e a responsabilidade da construção do Eng. José Pereira Zagallo, apresentava à data o maior vão à escala mundial, concretamente de 270 metros, para pontes em arco de betão armado, sendo a flecha do arco de 52m, elevando-se o tabuleiro a 72 m acima do nível médio do leito do rio.
A viagem do Presidente da República, Almirante Américo Tomas, para a cerimónia de inauguração iniciou-se em Lisboa a bordo da fragata Álvares Cabral, a qual ao chegar à Afurada constituiu-se em cortejo fluvial constituído por traineiras e barcos de outra natureza, tendo subido o Douro.
O programa contemplou várias actividades, as quais foram acompanhadas em directo pela RTP e pelas suas equipas, sendo a responsabilidade da cobertura de Vasco Hogan Teves, nomeadamente do Telejornal emitido pela primeira vez dos estúdios do Monte da Virgem.
Como nota de rodapé, um dos repórteres de imagem envolvido, Artur Moura, graças ao seu trabalho sobre a construção da ponte da Arrábida, que culminou com a inauguração, foi condecorado mais tarde pelo Ministro da Obras Públicas, Eng. Arantes de Oliveira.
O 1º Homem na Lua
A chegada do primeiro Homem à Lua a 21 de Julho de 1969, em Portugal, e 20 nos EUA, foi um acontecimento à escala mundial, tendo a Televisão dado uma cobertura global desta proeza, mostrando os primeiros passos de Neil Armstrong e a reprodução da sua voz com a frase que ficou registada para a História da Humanidade:
“Um pequeno passo para o Homem, mas um grande passo para a humanidade”
Depois foi a vez do segundo astronauta pisar o solo lunar, Edwin Aldrin, tendo-se mantido em órbita lunar um terceiro astronauta, respectivamente, Michael Collins.
José Mensurado e a Apollo 11
No estúdio D da RTP, todo o processo foi acompanhado, durante 18 horas, pelo Jornalista José Mensurado, assim como pelo, então, Operador de Câmara Fernando Amaro, tendo cabido a Vasco Hogan Teves a coordenação geral desta extraordinária transmissão.
Para “encher chouriços”, José Mensurado recorria ao som em auscultadores do relato do jornalista Walter Cronkite, do canal norte-americano CBS, o qual estava acompanhado em estúdio por cientistas e especialistas em aeronáutica.
Walter Cronkite (CBS)
De acordo com as palavras de José Mensurado: “Independentemente do que ia ouvindo da CBS, fui fazendo as descrições possíveis sobre a Lua. O significado que tem para nós, a poesia, o luar...”, e chegou mesmo a socorrer-se de uma reportagem “fabulosa” de Norman Mailer, publicada num jornal norte-americano, sobre o Saturno V, “o foguetão que atirou com a Apolo 11 para o espaço”. Mas também teve tempo para se emocionar. Além da chegada do Homem à Lua, um dos momentos que mais sensibilizou José Mensurado foi ver a Terra do espaço, culminando:
“Quase subconscientemente tive a sensação de que estava a entrar, embora como Jornalista, para protagonista da História”
A Morte de Salazar
A 27 de Julho de 1970 morre o Prof. Dr. Oliveira Salazar, após quase dois anos de convalescença devida à “célebre” queda da cadeira, ocorrida a 3 de Agosto de 1968 no Forte de Santo António, no Estoril, representando esta o início da queda do regime.
As cerimónias fúnebres tiveram direito a directos por parte da RTP, em especial no dia do funeral em campa rasa no cemitério da sua terra natal, ou seja, Santa Comba Dão, cabendo a Vasco Hogan Teves, uma vez mais, a coordenação geral desta operação histórica para o País.
Montagem na moviola com Manuel Varela
O primeiro “1º de Maio”
A Revolução levada a cabo a 25 de Abril de 1974 pelos chamados “Capitães de Abril” devolveu aos portugueses, entre outras, a liberdade de manifestação, cabendo ao 1º de Maio, que se seguiu na semana seguinte, o modo mais significativo de dizer “presente” por parte da maioria dos portugueses, correspondendo esta à mais espontânea euforia colectiva a que Portugal assistiu.
Com a coordenação geral entregue a Vasco Hogan Teves, a RTP esteve presente nos locais mais significativos, tanto em directo como em diferido, resultado do trabalho de toda a equipa envolvida mais um marco histórico da Televisão em Portugal.
Alberto Lopes, Oliveira Pinto, Jose Mensurado, Vasco H. Teves, Adriano Cerqueira, Lucilio Narciso e Ribeiro Soares (Telejornal)
Outros Destaques Enquanto Jornalista/Quadro Superior da RTP
A par da sua actividade normal enquanto Jornalista e Responsável pelos Serviços Noticiosos, nomeadamente o Telejornal, a sua deslocação ao estrangeiro como representante da RTP foi frequente, razão pela qual apresentamos, de seguida, apenas referência às de maior relevância como, por exemplo, à Reunião, em Madrid, Espanha, em conjunto com a RTVE - Televisão Espanhola, para análise dos serviços prestados pelas agências de actualidades que trabalhavam em suporte filme (Março - 1965), assim como à reunião realizada em Londres, Reino-Unido, em Fevereiro de 1966, cujo tema foi a análise crítica dos serviços prestados pela prestigiada UPITN (United Press International Television News).
Entrevista ao jogador de futebol Carlitos (Lourenço Marques, Moçambique-1964), com José Manuel Tudela (Repórter de Imagem) e Palmeiro Rocha (Operador de Som)
Por inerência de funções fez parte do “Grupo de Estudos de Actualidades TV” da UER/EBU (Union European de Radiodifusion/European Broadcasting Union), assim como do “Sub-Grupo de Desenvolvimento Futuro” do mesmo Organismo, levando-o a deslocações frequentes para a sua participação em reuniões de trabalho, no período compreendido entre Setembro de 1969 e Fevereiro de 1974, à grande maioria dos países europeus
No âmbito da OTI (Organização da Televisão Ibero-Americana) foi o representante da RTP pela criação do SIN (Serviço Ibero-Americano de Notícias), o qual passou a ter existência efectiva a partir de Fevereiro de 1971, tendo sido a RTP considerada como Organização fundadora.
Genéve (1970)-Grupo Notícias TV (Eurovisão)
Participou, ainda, em reuniões do “Sub-Grupo ad-hoc” para o “Intercâmbio Com a América Latina” (Grupo de Estudos de Actualidades TV), em Madrid (Novembro-1971) e Barcelona (Julho-1972), assim como em várias reuniões para contactos com estruturas da RAI (Rádio Televisão Italiana) em Roma (Fevereiro-1972), assim como em Abril de 1974, como representante do Director-Geral de Programas em Bona (Alemanha), na reunião da Comissão de Programas da UER/EBU.
Lançamento novo mapa-tipo (1983)
As Relações Exteriores
A mudança dos serviços noticiosos da RTP para as chamadas “Relações Exteriores” teve como consequência imediata a disponibilização de toda uma carteira de conhecimentos e contactos, tanto a nível nacional como internacional, resultando numa ligação mais facilitada entre os organismos com quem a empresa tinha uma actividade de partilha de interesses e objectivos comuns.
Equipa "Exposição 30 Anos RTP"
Por inerência de funções esteve envolvido em todos os “Festivais RTP da Canção” no período de 1975 a 1994, nos “Jogos Sem Fronteiras” de 1979 a 1994, “Festival OTI da Canção” (Lisboa-1987), “Exposição 30 Anos RTP” como Consultor principal, MAT (Mostra Atlântica de Televisão) de 1989 a 1992 (Açores), assim como no lançamento da RTP Internacional (Lisboa-1992), na “Gala Internacional de Futebol RTP/Bola” (Estoril-1993/94) e no “1º Grande Prémio RTP do Fado” (Lisboa e Porto-1994).
Equipa Relações Exteriores Festival RTP da Canção
As Representações
Ao longo dos seus 40 anos de serviço, várias foram as ocasiões em que teve que representar a RTP, destacando-se para o efeito a sua participação numa Comissão constituída sobre a égide da Secretaria de Estado da Comunicação e da Secretaria de Estado da Emigração para o estudo da produção, realização e difusão de programas para as comunidades portuguesas no Mundo (1977), assim como nas reuniões do “Acordo Cultural Luso-Espanhol” (1977), do “Acordo Cultural Luso-Brasileiro” (1979) e do “Acordo Luso-Italiano” (1980).
Matias Fernandes, Luís Andrade, Vasco H. Teves e Manuela Furtado (Auditório RTP-1994)
Visitas de Estudo no Estrangeiro
A actividade televisiva implica visitas às estações estrangeiras não só para ver como localmente são resolvidos problemas comuns, assim como dar também os seus inputs, dado ser mais fácil uma avaliação de quem está fora da “floresta”, assim como angariar novas ideias de importância vital para as actividades futuras.
Nesse sentido, deslocou-se aos Estados Unidos da América do Norte, onde, a expensas do governo americano, fez, entre Julho e Setembro de 1966, uma série de visitas de costa-a-costa, tendo permanecido em 27 cidades.
De igual modo, a convite do governo Alemão, deslocou-se a 4 cidades na então República Federal da Alemanha, em Dezembro de 1973.
O Centro de Formação
As relações de Vasco Hogan Teves com o Centro de Formação da RTP teve sempre duas vertentes, ou seja, enquanto Formando assim como Formador.
Na primeira vertente frequentou, entre outras as seguintes Acções de Formação: “Seminário Sobre Comunicação” (Fevereiro/Março 1977), “Aperfeiçoamento de Chefia” (Novembro 1977), “Management Development Seminar” (Janeiro 1982), “Seminário de Quadros” (Fevereiro 1984), “Formação Pedagógica de Formadores” (Novembro 1987) e “Curso de Gestão Dinérgica-Alta Direcção” (Junho/Julho 1989).
Enquanto Formador participou num elevado número de Acções de Formação com destaque para os da área da Produção/Realização, Jornalismo, Relações Públicas e Operacional (Áudio e Vídeo).
Livro "RTP 50 Anos de História (2007)
Os Livros
Homem de Televisão e Jornalista conferiam-lhe uma capacidade suprema de visão do mundo à sua volta, tanto no campo social, politico, assim como no institucional, que o levaram a produzir imenso material escrito, algum em forma de livro, tal como atesta a lista abaixo:
Autoria
1) “América do Norte e Central”, da colecção “O Mundo Em Que Vivemos”, edição Verbo Juvenil (Lisboa - 1966);
2) “Enciclopédia Geográfica – América do Norte e Central”, edição Verbo, S. Paulo, Brasil (1968);
3) ”Vamos Falar de Televisão”, feita em parceria com o Prof. Dr. Lopes da Silva (RTP), colecção “Biblioteca Básica Verbo - Livros RTP, Nº 29”, edição Verbo (Lisboa - 1971);
4) “Datas e Factos da História do Mundo”, colecção “Biblioteca Básica Verbo - Livros RTP”, Nº 96, edição Verbo (Lisboa - 1972);
Lançamento Livro "História da Televisão Em Portugal-1955/1979" (Editora TV Guia-1998)
5) “História da Televisão Em Portugal” – 1º volume, 1955/1979, edição TV Guia Editora (1998);
6) “RTP 50 Anos - História da Televisão em Portugal-1957 a 2007” (edição RTP não comercializada - 2007).
"RTP 50 Anos de História" (2007)
Para além das autorias colaborou, também, na “Verbo-Enciclopédia Luso - Brasileira de Cultura” (Editorial Verbo - Lisboa) com 56 entradas (a partir de 1968), na “Polis - Enciclopédia” (Edição Verbo, Lisboa), assim como na “Lexicoteca - Moderna Enciclopédia Universal”, volume 17 (Edição Circulo de Leitores, Lisboa - 1988), “Agenda RTP”, edições de 1989 e 1997, textos em três colectâneas para uso escolar, respectivamente “Janela Aberta” (1970), “As Letrinhas” (1997) e “Sol a Sol” (1982).
Neste campo há ainda a destacar o Prefácio do álbum de desenhos “Desenhar o Tempo”, de Domingos Oliveira (Outubro de 2004), assim como textos de apresentação de exposições artísticas, como aconteceu com Domingos Oliveira, João Terramoto, Lena Gal, Maria Emília Araújo (sua colega de trabalho na RTP) e Olavo Moreira.
Traduções e Mais Escrita
Responsável pela tradução de 4 livros de origem francesa e espanhola, dos quais se destaca “Árvores de Fruto” (Livraria Popular de Francisco Franco-1978) e “A Moderna Criação de Coelhos” (Livraria Popular de Francisco Franco-1978).
A sua ligação à escrita e ao audiovisual leva-o a escrever textos para Produções Cinematográficas, em especial Documentários (1962/3) e para um “Jornal de Actualidades Cinematográficas” (1966), muito em voga naquela data a anteceder a apresentação dos filmes de fundo.
Face às capacidades denotadas no campo das letras a convite da Editorial Verbo participa como Colaborador, a tempo parcial, no Gabinete de Edições no período compreendido entre 1966 e 1967.
Da longa lista de colaborações dispersa por 46 jornais e revistas de Portugal, Brasil, Espanha, Suíça e Moçambique, destacamos 3 suplementos especiais da revista “TV Guia”, sendo o primeiro dedicado ao 25º aniversário da RTP (1982), o segundo à 20ª edição do Festival RTP da Canção (1983) e o terceiro sobre a “Exposição 30 Anos RTP” (1988) o qual foi usado, também, como catálogo da mesma Exposição.
No jornal “Diário de Noticias” colaborou no concurso “30 anos a Ver TV”, na selecção fotográfica e escrita de textos, o qual decorreu de Janeiro a Abril de 1988, assim como foi o autor de um suplemento especial dedicado aos “30 Anos RTP”, também em 1988.
Prémios
A área do “conto” e “ensaio”, praia onde sempre se sentiu bem, conduziu ao reconhecimento devido, em múltiplas situações, como aconteceu em 1951 com o 1º Prémio, na categoria de “conto”, do concurso literário “Chama de Maio”, atribuição feita pela Mocidade Portuguesa. Relativamente a este Prémio recebeu, em edições anteriores, duas Menções Honrosas, a de “Conto e Ensaio” (1949) e mais duas de “Ensaio e Teatro Radiofónico” (1950).
Louvores
A ligação “familiar” de Vasco Hogan Teves à sua RTP levou sucessivos Conselhos de Administração da casa à atribuição de 6 louvores em razão de bom desempenho profissional, respectivamente em Março e Junho de 1961, Fevereiro de 1968, Fevereiro de 1969, Maio de 1972 e Dezembro de 1994.
57º aniversário RTP (2014)
Conclusão
Ao elaborar a presente biografia de Vasco Hogan Teves não foi minha intenção deixar o tema esgotado, pois sobre esta figura da Televisão Pública em Portugal apenas fizemos um pequeno lembrete, dado que a sua “história” completa levar-nos-ia à escrita de um livro cuja lombada seria de dimensões deveras elevadas.
Mas o registo da nossa amizade, que a acção do tempo apenas tem tornado mais forte, está feito, para já, ficando para mais tarde outros voos, e, quem sabe, a “História Completa”.
Fontes: Memória do Biógrafo, Revistas TV-Guia, a cumplicidade de seu filho, Frederico Hogan Teves e de sua mulher Maria Teresa Larcher Hogan Teves, “História da Televisão em Portugal de 1955/1979” (Vasco Hogan Teves), “RTP 50 Anos de História” (Vasco Hogan Teves) e blogue “O Lauletano” .