O AVC
A natureza da vida, o seu desenvolvimento e o final físico da mesma tem sido motivo de profundos mas não conclusivos estudos. Há quem fale no destino pré-concebido de cada um, há quem faça referência à sorte a que nos submetemos durante um determinado espaço temporal terreno, passando após a morte física a um estado de existência espiritual e ainda os que acham que após a morte física nada mais existe daquilo que foi uma vida vivida mais ou menos intensamente, de um modo reservado, ou, pelo contrário, entregue ao conforto e bem estar do seu semelhante.
Com o Eng. Jaime Filipe só havia o outro, e se esse outro fosse um cidadão com deficiência, então a entrega era total, no sentido de lhe proporcionar aquilo que a adversidade da vida, tanto à nascença como durante o seu percurso, não lhe poupou.
Aqui chegados não resistimos a apontar a ironia do “destino” ou da “sorte da vida”, dado que tendo dedicado a quase totalidade da sua existência a uma causa para si suprema, ele próprio viria a passar os seus últimos seis anos e dois meses de vida numa cama na condição de tetraplégico, movimentando unicamente de um modo controlado a abertura e fecho dos olhos, devido a um AVC (Acidente Vascular Cerebral) ocorrido em 1986, tendo como desfecho a sua morte a 9 de Agosto de 1992.
A edição de 7 de Junho de 1986 do Inventiva relatava deste modo tão dramática ocorrência:
“Eng. Jaime Filipe
Presidente da APC gravemente enfermo
O Eng. Jaime Filipe deu entrada no Hospital de Santa Maria no dia 5 de Junho passado, onde continua internado em estado que suscita as maiores reservas. Acompanhamos com preocupação e profunda tristeza a sua prolongada doença, testemunhando aos seus familiares a nossa solidariedade, em especial a sua mulher, Sr.ª. D. Lina, que sempre o tem acompanhado com inexcedível dedicação, nomeadamente nesta Associação.”
Hitchcock e a Tabela de Leitura
Ao longo dos anos 80, do século passado, a RTP 1 transmitiu uma série denominada por “Hitchcock Presents”, na qual o Mestre do Cinema de “suspense” Alfred Hitchcock, ele mesmo, fazia questão de apresentar numa breve introdução e no final para efeitos de conclusão, pequenos filmes de “suspense”, alguns escritos e realizados por si, outros não, mas sempre com a sua supervisão.
Em 1985 a RTP passou nesta série o filme “Breakdown”, uma curta metragem (23 minutos), realizada em 1955, na qual o personagem principal, após um acidente de viação fica tetraplégico, ficando a mexer, unicamente, um dedo da mão direita, embora fique com os sentidos da visão, audição e cheiro intactos, assim como a capacidade total de raciocínio.
O filme tem um final dramático pois Hitchcock coloca o espectador no papel do acidentado, que o mesmo é dizer, a sentir por dentro o mesmo tipo de sentimentos e aflições daquele, pois a sua esperança residia na única hipótese que tinha de comunicação, ou seja, através dos movimentos do seu dedo. Porém, ao longo de todo o processo, desde que a equipa de socorro até à chegada e tratamento no hospital, devido a razões várias, o dedo nunca fica numa posição visível de modo a denunciar que se encontrava vivo e não no estado de corpo morto.
Perante o problema levantado por este filme, Jaime Filipe pôs os neurónios a funcionar no sentido de encontrar uma resposta pronta e eficaz para que um acidentado deste tipo pudesse comunicar com o mundo exterior, carecendo apenas da parte do tetraplégico a capacidade de mexer um dedo, um olho, a ponta do nariz ou outro órgão visível, na base binária, ou seja, “tudo ou nada” ou “sim ou não”.
Por exemplo:
No caso de apenas ser capaz de fechar e abrir um olho, bastava usar um código no qual para “dizer sim” bastava fechar e para “dizer não” abrir.
Sendo portador de visão e audição bastava, agora, recorrer-se a uma folha onde se faziam quatro filas com as 23 letras do alfabeto português, e com um apontador, ou seja, um dedo, lápis ou outro objecto, fazer o varrimento entre linhas e ao chegar à linha onde se encontrava a letra a escrever fazia-se o avanço ao longo da mesma até se alcançar a letra pretendida.
Dada a condição a que ficou votado após a ocorrência do AVC, o Eng. Jaime Filipe foi o primeiro acidentado a utilizar o seu próprio invento, dado que os únicos órgãos com capacidade de serem por si controlados eram os olhos.
Prémio Eng. Jaime Filipe
A atribuição do Prémio Engenheiro Jaime Filipe destina-se a dar o reconhecimento oficial, tanto a pessoas singulares como empresas, com um valor pecuniário de 5.000€, à melhor concepção tanto no campo da autonomia como no da integração social da pessoa deficiente, prestando-se, deste modo, uma homenagem à figura da pessoa que se antecipou às mais evoluídas ideias sobre Engenharia de Reabilitação.
O Prémio Engenheiro Jaime Filipe surge de um conjunto de medidas de prevenção e promoção da autonomia das pessoas em situação de dependência, tendo como objectivos gerais:
As concepções inovadoras devem contribuir para a:
Contudo, os objectivos específicos deste Prémio vão no sentido de:
Entre 2001 e 2009 tanto a promoção como a atribuição deste Prémio esteve a cargo do ISS (Instituto de Segurança Social), tendo transitado tal cargo, em 2010, para o INR (Instituto Nacional de Reabilitação).
A propósito da entrega do prémio em 2003, transcrevemos as palavras da Dra. Irolinda Soares (SNRIPD) na cerimónia oficial:
“Cabe-me este ano a honra de evocar a memória do Eng. Jaime Filipe por impossibilidade do Dr. Camilo Rodrigues, Director do CIDEF (Centro de Inovação para Deficientes), o fazer como nos anos anteriores. E cabe-me esta honra não apenas porque participei no Grupo de Trabalho que criou este Prémio, mas também porque tive o privilegio de conhecer o Eng. Jaime Filipe quando iniciei o meu trabalho no Secretariado Nacional de Reabilitação, em 1980, e de beneficiar da sua enorme experiência em projectos e tecnologias dirigidos às pessoas com deficiência.
Nessa altura, o Eng. Jaime Filipe exercia o cargo de Presidente da Associação Portuguesa de Inventores, actualmente a Associação Portuguesa de Criatividade, e já havia criado, nessa Associação, o Centro de Inovação para Deficientes. Numa época em que a investigação e desenvolvimento em tecnologias de reabilitação, no nosso País, era praticamente inexistente, o Eng. Jaime Filipe dedicou a sua enorme capacidade inventiva à procura de soluções para atenuar ou eliminar as dificuldades com que quotidianamente as pessoas com deficiência se deparam. Inventou, por exemplo, um equipamento que permitia às pessoas cegas lerem a escrita a negro, através de impulsos eléctricos, e que viria, anos mais tarde, a ser patenteado e comercializado nos Estados Unidos da América, sem que daí viesse a ter qualquer vantagem financeira. E inventou também, entre outros equipamentos, plataformas elevatórias que permitiam às pessoas com dificuldades de mobilidade ultrapassar barreiras arquitectónicas. Com estes e com outros inventos na área da reabilitação apresentou-se em Salões Internacionais de Invenção, tendo sido galardoado com vários prémios e medalhas de ouro.
Mas o Eng. Jaime Filipe não se limitou a investigar e desenvolver produtos e equipamentos. Preocupou-se igualmente em sistematizar e transmitir os seus conhecimentos. Foi ele quem organizou os primeiros cursos de informática para cegos, com o apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian, e foi ele também quem criou e manteve actualizado, durante anos, um ficheiro pormenorizado de ajudas técnicas existentes no mercado internacional.
O Eng. Jaime Filipe gozou do reconhecimento internacional, correspondendo-se com diversos institutos de reabilitação sendo membro de alguns deles, de entre os quais se destaca a “Rehabilitation Society of North America”, a “American Credit” e a “Rehabilitation International”.
O Eng. Jaime Filipe, que exercia a sua profissão como técnico de som na RTP, foi também o autor do primeiro programa televisivo regular sobre o tema da deficiência. Nesse programa, intitulado “Novos Horizontes”, pela primeira vez em televisão foi utilizada a língua gestual.
Após um trágico acidente, este homem, que dedicou a sua vida plena de generosidade à causa das pessoas com deficiência e à busca de soluções para melhorar a qualidade de vida destas pessoas, viu-se confinado à ínfima possibilidade de comunicar com os outros unicamente através do movimento das pálpebras. Teve a seu lado, neste trágico período, como já tivera antes, o apoio abnegado e incondicional de sua Mulher, Senhora D. Lina Filipe.
A atribuição do nome de Eng. Jaime Filipe a este Prémio constitui uma modesta mas sentida homenagem de reconhecimento a quem tanto deu em prol das pessoas com deficiência.”
Por ocasião do 1º Encontro de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade, realizado na UTAD em Novembro de 2005, em que se falou, entre outros interessantes temas, na necessidade de criação da Licenciatura em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas, a qual se veio a concretizar no ano lectivo 2009/10, a organização do Prémio Eng. Jaime Filipe optou por dar a conhecer no decurso deste evento o vencedor do mesmo respeitante aquele ano.
Curso de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)
A figura do Eng. Jaime Filipe muito presente na actividade da UTAD, levou esta instituição oficial de Ensino Superior, através da acção militante do Prof. Dr. Francisco Alexandre F. Biscaia Godinho e da sua tese de Doutoramento, à criação de uma licenciatura na área da Engenharia de Reabilitação e Acessibilidades Humanas com os seguintes objectivos:
“Formar técnicos capazes de utilizar a tecnologia ao serviço da melhoria das condições de vida das populações com necessidades especiais - pessoas com deficiência, idosos e acamados.
O plano curricular da licenciatura da UTAD aposta na interdisciplinaridade e atravessa áreas que vão desde as tecnológicas (Informática, Engenharia Mecânica, Electrónica e Automação, Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade) até às ciências sociais (Reabilitação, Gerontologia, Gestão, Serviço Social).
A Licenciatura em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas é um curso de 1.º ciclo que entrou em funcionamento em 2007 de acordo com o modelo de Bolonha, com a duração de três anos (seis semestres) e com 180 ECTS.
Actualmente só existem duas Licenciaturas desta natureza na Europa. A segunda foi criada em 2009 na Universidade de Coventry no Reino Unido.
Em Julho de 2010, a UTAD formou os primeiros licenciados europeus em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas.
A Profissão:
A Engenharia de Reabilitação é a profissão ou actividade orientada para a aplicação da ciência e da tecnologia na melhoria da qualidade de vida das pessoas com necessidades especiais, nomeadamente pessoas com deficiência e idosos. Envolve a Funcionalidade Humana, a Acessibilidade e a aplicação de qualquer tipo de tecnologia em diversas actividades humanas e meios de participação social como o acesso a tecnologias e serviços, educação, emprego, saúde e reabilitação funcional, mobilidade e transportes, vida independente e recreação.
Um profissional de Engenharia de Reabilitação trabalha habitualmente como membro de uma equipa multidisciplinar, assistindo outros profissionais na resposta às necessidades de indivíduos com alguma incapacidade.
As actividades de Engenharia de Reabilitação incluem:
1. Invenção e Adaptação;
2. Ensino, Investigação e Desenvolvimento;
3. Avaliação (Necessidades, Acessibilidade);
4. Produção, Comercialização e Marketing;
5. Selecção de Tecnologia;
6. Prestação de Serviços;
7. Instruções de Uso;
8. Manutenção e Reparação;
Este Curso tem como saídas profissionais:
Tendo em conta os domínios de aplicação, as saídas profissionais envolvem:
Mestrado em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas
O Mestrado em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) tem como principal objectivo preparar profissionais de Engenharia ou áreas afins para exercerem a sua actividade no campo da reabilitação e do apoio a pessoas com deficiência, idosos ou outras pessoas com incapacidade.
Diferencia-se da formação ao nível de Licenciatura pelo aprofundamento e alargamento de competências científicas e técnicas adquiridas na formação inicial e/ou em vivências profissionais, de forma a capacitar o profissional para cargos de maior responsabilidade científica e técnica, bem como o possível envolvimento em trabalhos de investigação no domínio da Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade e a continuação de estudos ao nível de doutoramento em áreas afins às Ciências de Reabilitação, Tecnologia e Engenharia.
Simpósio “Vida e Obra do Eng. Jaime Filipe”
No dia 30 de Maio de 2014, inserido nas comemorações dos 40 anos do Ensino Superior em Trás-os-Montes e Alto Douro, teve lugar no Edifício de Engenharias I da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), um Simpósio versando a vida e obra do Eng.º Jaime Filipe.
Para a UTAD a organização deste Simpósio teve um significado muito especial dado ser a única Universidade em Portugal e a segunda no Mundo, na formação de raiz de Engenheiros de Reabilitação ao nível de Licenciatura e Mestrado.
A Organização proporcionou também aos visitantes uma exposição documental e de tecnologias de apoio reportadas à época dos inventos do Eng. Jaime Filipe como aconteceu, p.ex., com o OPTACON ainda em excelentes condições de funcionamento.
Laboratório Jaime Filipe na UTAD
A UTAD aprovou a proposta de atribuição da designação “Laboratório Jaime Filipe” ao principal da Laboratório do CERTIC, criado em Março de 2001.
Além da prestação de serviços à comunidade e apoio à investigação, neste laboratório tem sido ministrada formação académica a centenas de alunos da UTAD de vários cursos. Prevê-se que assim continue no futuro. É também o espaço especial dos alunos do curso de Engenharia de Reabilitação – o único existente no país.
Esta homenagem teve lugar durante o Simpósio “Vida e Obra do Eng. Jaime Filipe”. Para este laboratório foi usado o logótipo adoptado no CIDEF pelo Eng.º Jaime Filipe nos anos 80, que simboliza para a UTAD a reabilitação da "chave da vida" ou seja, resgatar a dignidade da vida.
Este foi o primeiro logótipo usado na RESNA no final dos anos 70.
Condecoração
A importância da sua actividade a favor da engenharia de reabilitação, assim como a entrega sem limites à causa dos deficientes, levou no dia 22 de Maio de 1991, o então Presidente da República, Dr. Mário Soares, a agraciá-lo com o grau de “Grande-Oficial da Ordem de Mérito”.
Dado que à data da Condecoração se encontrava hospitalizado, o então Ministro do Emprego e Segurança Social, Dr. Silva Peneda, deslocou-se àquelas instalações no dia 22 de Maio de 1991 para na presença de sua mulher e mais familiares, do Presidente da RTP de então, Dr. Coelho Ribeiro e Amigos, proceder à entrega das respectivas insígnias.
Depoimentos
Para que o conhecimento sobre o Homem a quem a Humanidade muito deve fique mais sólido, reproduzimos alguns depoimentos, alguns dos quais proferidos por pessoas que não tiveram o prazer de com ele terem convivido, mas, apenas, terem tido acesso à sua grande obra de investigação no domínio da Engenharia de Reabilitação.
Maria da Luz
(Jornalista, à data, do Jornal “Diário Popular”)
Foi em 5 de Junho de 1986 que Jaime Filipe, director do Centro de Formação da Radiotelevisão Portuguesa, homem dotado de múltiplos talentos – pintor, compositor, inventor galardoado com várias medalhas de ouro em Genebra e Bruxelas – deu entrada no Hospital de Santa Maria, atingido por doença súbita, diagnosticada como esquemia. Dali transitaria, mais tarde, para o Centro de Reabilitação de Alcoitão, onde se encontra desde então, paraplégico total.
Recordar um Amigo
Peço desculpa. Aos amigos – foram tantos – que porventura o esqueceram, e também aos que entendem que a fatalidade atinge um ser humano não é coisa suficientemente importante para ser impressa. Peço ainda desculpa a ele próprio, que não me incumbiu do recado.
Mas, porque se completam precisamente hoje três anos sobre o dia em que o maior infortúnio que pode atingir um homem o atingiu a ele, eu peço aqui desculpa para o recordar.
Recordar o bom amigo, fraterno e generoso, alegre e solidário com o sofrimento alheio, a ponto de dedicar a vida inteira a minorá-lo. Dias e noites de estudo, na procura desesperada de soluções para ajudar deficientes motores, visuais, auditivos.
Como epitáfio a um ser vivo, um papel colocado sobre a sua cama diz assim: . Prisioneiro dentro de si próprio , o Jaime Filipe conserva intactos a vista, o ouvido e o raciocínio que lhe dá a dimensão exacta do seu drama.
A ti, meu amigo, ficou-te apenas a inteligência reflectida no olhar, a sensibilidade que te corre nas lágrimas. A nós, que te amamos, a dor e uma esperança que não pode morrer.
Prof. Dr.Francisco Godinho
(Coordenador da Licenciatura em Engenharia de Reabilitação da UTAD)
Que poderei eu dizer, tendo em conta que não o conheci pessoalmente? Bom, parece-me que sei muito bem o que o inquietava permanentemente enquanto profissional activo: uma paixão, uma obsessão em transformar para melhor a vida de pessoas com deficiência, através da tecnologia, complementada pela sua divulgação. Neste papel, foi contemporâneo e esteve à altura dos pioneiros da Engenharia de Reabilitação nos países mais desenvolvidos. Continua a ser uma personalidade de topo e inspiradora para quem partilha a mesma paixão em Portugal.
Dr. Carlos Pereira
Nos finais da década de setenta do século passado tive o privilégio de conhecer o Engenheiro Jaime Filipe e com ele colaborar em muitos programas na RTP 2. Entre nós de imediato se estabeleceu uma relação de empatia, que perdurou no tempo e me leva a apresentar este breve testemunho.
Esta colaboração ainda se estendeu durante algum tempo depois de 1980, e pouco a pouco foi enfraquecendo, ao que se presumiu na altura, por alguma resistência no interior da RTP, pois tanto eu como outras pessoas que o Engenheiro Jaime Filipe convidava para os programas “Novos Horizontes” éramos puros amadores, que na prática coarctavam algumas hipóteses de trabalho aos verdadeiros profissionais da casa.
Mas há que realçar que esta opção por pessoas com deficiência para apresentarem as edições semanais dos “Novos Horizontes” tinha subjacente uma ideia muito pessoal na abordagem dos temas, que estavam francamente vocacionados para tudo o que fosse inovação e inventiva, pondo de lado qualquer forma tradicional de se encarar os problemas da deficiência e da reabilitação.
Segundo o Engenheiro Jaime Filipe, ninguém melhor do que as pessoas com deficiência para transmitirem uma imagem positiva, conferindo uma nota optimista e esperançosa tão necessária naquela época em que se desenhavam profundas mudanças na sociedade portuguesa.
Era esta faceta inovadora que caracterizava fortemente a maneira de Jaime Filipe estar na vida, pois defendia com muito entusiasmo as ideias que pretendia implementar, contagiando todos os que com ele colaboravam.
De algum modo tinha uma disponibilidade para tudo o que era futuro e melhoria da qualidade de vida, elegendo com alguma premonição a área da reabilitação como campo fértil e aberto a novos inventos e ao lançamento de muitos projectos que os criativos portugueses iam promovendo.
Infelizmente a terrível doença que veio apressar o seu fim cortou muito cedo tudo aquilo que Jaime Filipe pretendia fazer, mas a sua personalidade e as actuações que conseguiu introduzir neste meio da reabilitação foram de tal modo importantes que justificam totalmente esta homenagem.
É com saudade que aqui o recordo, agradecendo-lhe as convicções que me transmitiu e o entusiasmo com que me contagiou.