A Imagem da Rádio no Cinema e Televisão
Foto © Álvaro Tavares - Global Notícias
Nota Prévia
Desde tenra idade que a voz de Artur Agostinho nos conduziu a uma avaliação correcta entre o que então se designava por “vozes da Rádio” e as outras vozes, pois para além do carácter do modo como as comunicações eram feitas no sentido de conterem todo o tipo de informação necessária, tendo em atenção a ausência da imagem, com aquela dicção reservada apenas aos grandes, a que se juntava a melodia sonora da amizade e do profissionalismo.
Muitas foram as ocasiões em que nos cruzamos na RTP, nomeadamente na série de concursos que brilhantemente conduziu como “Quem Sabe Sabe”, “Ou Sim Ou Não”, “Quem tudo Quer Tudo Perde” e muitos outros, contudo foi no talk show “Curto-Circuito”, realizado no Teatro Monumental em Lisboa, em que a proximidade e a partilha de sentimentos mais fortes se fizeram sentir.
Foto © Arquivo DN Artur Agostinho, com Glória de Matos e Laura Soveral, na estreia do programa da RTP "Curto-Circuito", a 24 de Fevereiro de 1970
O meu Amigo Artur Agostinho era mesmo meu Amigo.
Origens
Lisboeta, nascido no dia de Natal em 1920, no bairro de Campolide, tendo-lhe sido atribuído o nome de Artur Fernandes Agostinho, fez a instrução primária na capital assim como frequentou o Liceu Camões, baluarte de grandes nomes da história de Portugal, tendo tido a vontade de um dia vir a ser engenheiro, razão que o levou a matricular-se no IST (Instituto Superior Técnico).
Contudo, a sua cabeça não estava virada para as engenharias electrotécnicas ou de outra natureza, pois os palcos do Teatro, como aconteceu, ainda na fase de amador, no Campolide Atlético Clube, assim como as ondas radiofónicas, na Rádio Luso (1938), foram mais fortes, pelo que acabamos por perder mais um engenheiro e a ganhar um comunicador de primeira água nas várias vertentes como a Rádio, Cinema e Televisão.
Para Artur Agostinho, num conselho dado a um grupo de estudantes:
“Mais vale perder um ano lectivo ou dois do que tirar um curso e viver amargurado toda a vida a pensar que se enganaram”
A Família
Nascido no seio de uma família remediada, casou com Maria Teresa, com a qual partilhou 58 anos de vida, teve duas filhas e um neto, contudo, a carreira de Artur Agostinho não lhe disponibilizou o tempo que achava ter sido necessário para um acompanhamento mais próximo dos seus entes queridos, afirmando:
“Procurei sempre suprir a falta dos momentos de ausência com a força dos momentos que dei”
O Locutor da Rádio...E Não Só
Já na qualidade de semi-profissional passa sucessivamente pelas estações de Rádio existentes em Lisboa, concretamente, a Rádio Peninsular e o Clube Radiofónico de Portugal, as quais faziam parte dos chamados Emissores Associados de Lisboa, conjuntamente com a Rádio Graça e a Rádio Voz de Lisboa, partilhando estes a mesma frequência de emissão ao longo de 24 horas, por períodos de 4 a 6 horas, em sistema rotativo.
A sua prestação faz-se notar o que leva os responsáveis do Rádio Clube Português (RCP) a convidá-lo para colaborar em determinados segmentos de emissão, recebendo em troca algum dinheiro para comprar tabaco e ir aos fins-de-semana ao Cinema, situação que se mantém até 1945, ano em que recebe um convite para trabalhar na Emissora Nacional (EN), actual RDP (RadioDifusão de Portugal), assumindo-se, a partir daqui, como profissional da Rádio, ou seja, radialista dos “sete costados”.
O mote estava dado e, graças à sua grande capacidade de comunicação, rapidamente é solicitado para outras tarefas, no caso da Rádio para Jornalista desportivo, e no Cinema como Actor.
Foi precisamente no campo das transmissões desportivas, nomeadamente no futebol, ciclismo e hóquei patins, nas quais introduziu um modo muito pessoal no modo como estas passaram a ser, mesmo até quando estava no relvado a sua equipa de eleição, o Sporting Clube de Portugal, colocando a verdade acima de qualquer conceito clubístico. A transmissão da final da Taça das Taças da UEFA e o fabuloso golo, marcado de canto pelo Morais, está registado com a sua voz no Museu do seu clube de sempre.
Segundo, Artur Agostinho:
“Fui chamado para fazer relatos quando um relator faltou”
As façanhas na década de 60 por parte do Benfica na Taça dos Clubes Campeões Europeus (bi-campeão europeu) e o comportamento da Selecção Nacional no Mundial de Futebol de 1966, em Inglaterra (3º lugar), tiveram na voz de Artur Agostinho a via correcta para uma imagem radiofónica de qualidade superior, só ao alcance de alguns.
Naquela época o acompanhamento das equipas de futebol era parte integrante da missão de relator, recordando, a propósito, Artur Agostinho:
“Ficávamos no mesmo hotel, viajávamos no mesmo autocarro para os estádios onde decorriam os jogos, íamos às cabinas saber a constituição das equipas, almoçávamos na mesma sala. Posso afirmar sem quaisquer dúvidas de que éramos quase uma família”
Há quem considere que Artur Agostinho tinha, nos relatos que fazia, um estilo inconfundível na sua narração, cuja explicação dada pelo próprio para tal facto se devesse a:
“Naturalidade, ou seja, ser autêntico, verdadeiro, genuíno e ter uma linguagem idêntica aqueles que me ouviam, quero dizer, estabelecia uma compatibilidade entre o emissor, aquele que fala, e o receptor, que o mesmo é dizer, aquele que ouve”
Graças à sua excelente dicção e ao timbre inconfundível, acumula na Rádio a função de Jornalista/Repórter/Locutor/Apresentador com a de Actor, tendo participado em várias peças de teatro, dito radiofónico, muito em voga naquele período.
Entre os programas de Rádio o destaque vai para os célebres “Serões Para Trabalhadores”, patrocinados e incentivados pelo regime vigente, contribuindo tal prestação e outras, como o acompanhamento de visitas presidenciais e ministeriais a África, Brasil e outros locais, para uma conotação com o período politico que se vivia na altura.
Com a Revolução do 25 de Abril é saneado de todos os locais onde presta serviço, com excepção da Emissora Nacional dado que tinha pedido, por questões de ordem pessoal, a rescisão do contrato que tinha com a empresa pública de Rádio em 1969.
Contudo, quando regressou do exílio em 1981, é-lhe oferecida a possibilidade de voltar a trabalhar na EN, agora com a designação de RDP (Rádio Difusão Portuguesa), tendo sido destacado para a Rádio Comercial, nome do antigo Rádio Clube Português após nacionalização do mesmo, onde se manteve até à idade de reforma, como Director, a qual só se veio a verificar no limite que a lei permitia, ou seja, aos 70 anos.
Recebe o convite da Rádio Renascença (RR) para dirigir o Departamento de Desporto em 1981 onde se manteve até 1983.
De acordo com Ribeiro Cristóvão, comunicador de alto gabarito, criador do programa desportivo “Bola Branca”, na RR:
“O Artur Agostinho foi para mim não apenas um mestre mas também um excelente companheiro, tendo estado sempre a meu lado durante todas as horas tendo-me transmitido ensinamentos os quais seria impossível recolher de qualquer outra figura do jornalismo português. A sua figura foi um marco importante do último século na área do jornalismo, sobretudo na do jornalismo desportivo”
Várias ouvimos da boca de Artur Agostinho dizer que estava grato à “sua” querida Rádio, pois todos os possíveis sucessos que teve ao longo da vida a ela se ficaram a dever, considerando a reportagem que fez em 1960, com o seu amigo Augusto Cabrita, um barreirense dos “sete costados” sobre a cidade marroquina de Agadir, a propósito do terramoto que a destruiu na totalidade, como aquela que o marcou mais em toda a sua carreira de radialista.
Cinema.......O Outro Modo de Comunicar
Estávamos em plena era do chamado período de ouro do Cinema português, com António Lopes Ribeiro e a sua empresa a “Produções António Lopes Ribeiro” a darem trabalho a muitos Técnicos e Actores.
Dentro da corrente que se vivia nos anos 40, eis que surge “Capas Negras”, um filme com a assinatura na realização de Armando de Miranda, tendo este convidado Artur Agostinho para desempenhar o papel de Manecas, um jovem estudante de Coimbra, e Amália Rodrigues para o seu primeiro filme e logo como protagonista, ao lado de Alberto Ribeiro.
A sinopse deste melodrama leva-nos a :
Em Coimbra, o quintanista de Direito José Duarte e a tricana Maria de Lisboa vivem um idílio, que termina quando, concluído o curso e julgando-se traído, ele segue para o Porto, recusando-se a aceitar as cartas da jovem que, mais tarde, é presa na capital nortenha, por ter abandonado um filho. Será defendida pelo advogado José Duarte que, capacitando-se da verdade e da sua injustiça, alega que uma mulher não é criminosa, só por deixar uma criança à porta do pai...
(José de Matos-Cruz, O cais do Olhar)
Contracenar com Amália Rodrigues, Alberto Ribeiro, Vasco Morgado (pai), Barroso Lopes, Humberto Madeira e António Sacramento não é tarefa para qualquer um, contudo teve uma excelente prestação.
A experiência cinematográfica é de novo vivida em “O Leão da Estrela” (1947), um filme de Arthur Duarte, fazendo aqui de motorista, ao lado de António Silva e da carismática Milú, Maria Eugénia, Curado Ribeiro, Laura Alves, Erico Braga, Óscar Acúrcio e Maria Olguim, aparecendo nos cartazes na 7ª posição com o nome artístico “Arthur Agostinho”.
Filmografia
“Cais do Sodré”-Voz Off (1946-Alejandro Perla)
“O Leão da Estrela” (1947-Arthur Duarte)
“Capas Negras” (1947-Armando de Miranda)
“Aqui, Portugal” (1947-Armando de Miranda)
“Cantiga da Rua” (1950-Henrique Campos)
“Sonhar é Fácil” (1951-Perdigão Queiroga)
“O Tarzan do 5º Esquerdo” (1958-Augusto Fraga)
“Dois Dias no Paraíso” (1958-Arthur Duarte)
“Encontro Com A Vida” (1960-Arthur Duarte)
“Portugal Desconhecido”-Voz off (1969-Manuel Faria de Almeida)
“O Testamento do Senhor Napumoceno-Voz off (1997-Francisco Manso)
“A Sombra dos Abutres”-Voz Off (1997-Leonel Vieira)
“Tudo Isto É Fado” (2003-Luís Galvão Teles)
“A Escada” (2005-Jorge Paixão da Costa)
A Televisão
Com o arranque das emissões Televisão em Portugal, a 7 de Março de 1957, lá vem a solicitação, por parte da RTP (RadioTelevisão Portuguesa) para que participe em vários programas, nomeadamente nos concursos, que à data eram concebidos pelos profissionais da casa e não formatos desenvolvidos pelos outros e adaptados à nossa realidade, tal como aconteceu com o primeiro grande sucesso, o qual foi apresentado em parceria com Gina Esteves, deu pelo nome “Quem Sabe, Sabe”.
Este concurso, estreado na RTP a 5 de Abril de 1957, foi um acontecimento profusamente divulgado na imprensa da época, tendo-se rodeado, por tal facto, numa enorme expectativa, sendo o mesmo criado com a imaginação de dois grandes nomes da RTP, nomeadamente Artur Varatojo e Baptista Rosa.
O tema do concurso andava à volta de perguntas no âmbito da chamada “cultura geral”, a um grupo de concorrentes, seis por sessão, cabendo ao vencedor a oferta de um aparelho de televisão, prémio excelente tendo em conta o custo dos televisores naquela época.
Como nota histórica, um dos vencedores do concurso foi o padre Dr. Raul Machado, o qual, face à competência demonstrada nas respostas às perguntas feitas, revelou-se um óptimo comunicador tendo sido, por tal razão, convidado para apresentar um programa de sua autoria que à época fez enorme sucesso, o famoso “Charlas Linguísticas”.
Ainda na RTP a representação foi outra vertente a que Artur Agostinho se dedicou nomeadamente em “O Senhor Que Se Segue”, uma comédia em parceria com Camilo de Oliveira e Carmen Mendes, “O Despertador” programa de humor e variedades, assim como na adaptação para TV da peça “O Morgado de Fafe Em Lisboa”, na qual foi protagonista.
Foto © Arquivo DN Artur Agostinho, no "Noves Fora Nada" com Artur Varatojo, autor do concurso da RTP "Noves fora nada", a 18 de Novembro de 1981
Entre os vários concursos há ainda a destacar o “Noves Fora Nada”, “Ou Sim Ou Não” e “Quem Tudo Quer Tudo Perde”.
São estas palavras da sua autoria:
"Quando me apercebia que um concorrente precisava de dinheiro, tentava ajudá-lo o mais possível, sem que isso se tornasse objecto de crítica por parte dos outros"
O sucesso do primeiro talk show apresentado na Estação Pública, o “Zip-Zip”, com Raul Solnado, Carlos Cruz e Fialho Gouveia (1969), sugeria a continuação de talk-shows dada a preferência manifestada pela audiência, pelo que com Baptista Rosa na escrita do guião e na necessária produção, eis que arranca em 1972, no Teatro Monumental, em Lisboa, um programa apresentado por Artur Agostinho, Glória de Matos e Laura Soveral, denominado por “Curto-Circuito”. Da equipa faziam ainda parte nomes como Alexandre O’Neil, Fernando Lopes, João Soares Louro, Joaquim Letria, Luís Villas-Boas, Manuel Figueira e Pedro Osório.
Foto © A. Marques - Global Notícias Artur Agostinho com Raul Solnado, a 05 de Junho de 1963
Dizia frequentemente que:
"Quando sentia que a actividade na Rádio estava a ser saturante, dedicava-me mais à Televisão. Depois aliviava o trabalho televisivo virando-me para a Publicidade. O facto de não ser funcionário de nenhuma destas empresas permitia-me algum espaço de manobra"
Participou como Apresentador em dezenas de outros programas, destacando-se para o efeito “O Senhor Que Se Segue” e “No Tempo Em que Você Nasceu”, assim como entrevistado tanto na RTP (“Sexta à Noite”, com José Carlos Malato) e (“Grande Entrevista” com Judite de Sousa), assim como na SIC (“Alta Definição”- com Daniel Oliveira) na qual afirmou:
““Gostaria ser recordado como tendo sido um gajo porreiro”
Na RTP a uma pergunta de Judite de Sousa sobre a sua grande capacidade de enfrentar com relativa facilidade as várias tarefas que lhe foram surgindo ao longo da vida, a resposta não se fez rogada, e, com algum entusiasmo na voz, afirmou:
“Com 90% de transpiração e 10% de inspiração (talento), pois sempre gostei de trabalhar nesta actividade, portanto satisfazia-me a curiosidade de saltitar de especialidade em especialidade”
Para Rui Tovar, ex-Jornalista desportivo da RTP:
“No domingo 7 de Janeiro de 1984, tive a honra de surgir pela primeira vez, lado a lado com ele, no "Domingo Desportivo". O Artur Agostinho e o Orlando Dias Agudo eram os apresentadores do programa - ele já foi "pivot" de Informação na televisão, ao contrário do que por aí já se disse e escreveu - e eu apareci a comentar o Benfica - V. Guimarães dessa jornada. Foi uma noite inesquecível!
Ainda na RTP, apresentou o programa “Quem Te Viu e Quem TV”, no qual se apresentavam as biografias de personalidades do mundo artístico e cultural português.
Nas Novelas
O seu gosto pelo Teatro leva-o a participar em várias novelas através das quais se dá a conhecer aos mais novos, cujas referências deixadas no passado tanto na Rádio como na Televisão e Cinema voltaram a estar de novo em destaque.
Nesta qualidade as referências vão para:
“Ganância” (SIC-2001)
“Sonhos Traídos” (TVI-2002)
“Tu e Eu” (TVI-2006)
“Perfeito Coração” (SIC-2009)
No que respeita à representação:
“Gosto dos papéis que me obrigam a vestir a pele de um personagem que não tenha nada a ver comigo”
Seriados
Esteve envolvido em vários seriados como “Ana e os Sete” (TVI-2004), “Inspector Max” (TVI-2004), “O Clube das Chaves” (TVI-2005 e +TVI-2013) e ainda ”Quando os Lobos Uivam” (2006), tendo participado na “Casa da Saudade” (RTP-2000) e “Pai à Força” (RTP-2009).
O Teatro de Palco
O seu sonho de criança de vir um dia a fazer teatro de palco como profissional nunca foi concretizado, tendo feito, porém, algumas experiências como amador no clube do seu bairro o Campolide Atlético Clube.
Contudo, esteve a beira de o fazer a convite do empresário Vasco Morgado (pai) para interpretar um papel, conjuntamente com Vasco Santana, no Teatro Monumental na peça “Um Fantasma Chamado Isabel”. Após alguma resistência da sua parte anuiu ao convite, só que quinze dias depois da resposta positiva a morte de Vasco Santana cortou, definitivamente, a possibilidade de pisar o palco na qualidade de Actor.
Jornalismo
Para além da Rádio na qualidade de Jornalista, a sua acção estendeu-se, também, à imprensa escrita, tendo sido Director do Jornal desportivo Record (1963 a 1974).
Para Nuno Magalhães, Director-Adjunto do Record à data de sua morte:
“Foi uma grande honra ter o prazer de o conhecer e de conviver com ele nestes últimos 9 anos da vida dele"
Lembrando que Artur Agostinho:
"Nunca perdeu o espírito jornalístico que o lançou na área"
Sobre o Prémio Artur Agostinho, criado pelo Jornal para prestar homenagem ao melhor desportista do ano:
“Guardo na memória algumas viagens que fizemos com ele para entregar o Prémio de que ele é patrono aqui no "Record" - o Prémio Artur Agostinho - e que entregámos a vários desportistas como aconteceu com o Pauleta, Scolari, Rui Costa, Ronaldo, Figo e o José Mourinho”
Concluindo:
“Durante alguns anos teve uma intervenção importante no então semanário Record, mudando a periodicidade do jornal - passou a bissemanário - e admitiu mesmo sair 3 vezes por semana - naquela que foi uma das suas lutas"
Em 2006 torna-se Director do “Jornal do Sporting”, tendo colaborado, ainda, nos jornais “A Bola”, “O País”, “Tribuna”, “Norte Desportivo” e “Mundo Desportivo”.
A propósito do desafio que lhe foi lançado para dirigir um dos títulos mais antigos deste género na Europa, o “Jornal do Sporting”, disse:
“Voltar a dirigir um jornal não estava nos meus horizontes. Já não tenho idade para grandes sacrifícios"
Contudo, o coração falou mais alto, e, para orgulho dos sportinguistas, o sim foi a resposta mais desejada.
No Brasil fundou o jornal “Mundo Esportivo Português” o qual complementava a sua actividade na Rádio Globo na qual tinha um programa desportivo vocacionado para a comunidade portuguesa radicada naquele país.
A Politica
Tal como aconteceu com a grande maioria de comunicadores notáveis por ocasião do 25 de Abril de 1974 como, Amália Rodrigues, Manuel Caetano, Pedro Moutinho, Henrique Mendes, entre outros, a conotação destes com o poder derrubado foi imediato.
O biografado foi preso sem culpa formada durante três meses, tendo resultado esta situação na impossibilidade de arranjar trabalho em Portugal, pelo que optou rumar ao Brasil em 1975, na esperança de recuperar localmente o universo entretanto desaparecido.
A sua actividade em terras de Vera Cruz foi iniciada num banco, na qualidade de Relações Públicas, o qual passado pouco tempo foi intervencionado pelo estado brasileiro, contudo foi de imediato contactado pelo BES que à data se estava a instalar no Brasil, para exercer as mesmas funções, tendo passado algum tempo nessas funções, porém o seu gosto pelas Ondas Hertzianas viu num convite feito pela Rádio Globo a possibilidade de fazer um programa desportivo virado para a comunidade portuguesa radicada no Brasil.
Na TV TUPI participou num programa, também virado para a imigração portuguesa chamado “Portugal Sem Passaporte”, no qual teve a oportunidade de “olear” de novo a sua prestação televisiva e reencontrar a linha de carreira temporariamente interrompida.
Ainda sobre prisões há uma história rocambolesca, passada no Barreiro, em 1959, concretamente a 4 de Outubro, quando um Capitão da GNR local o conduziu ao posto local e o prendeu por este ter desobedecido às ordens recebidas de descarregamento de material de reportagem num determinado local, junto ao estádio D. Manuel de Mello onde o Desportivo da CUF, então na primeira divisão nacional, ia jogar e Artur Agostinho fazer para a Emissora Nacional o respectivo relato. Presente a tribunal o mesmo foi absolvido e restituída à liberdade, tendo tal decisão caído muito mal junto do citado Capitão GNR envolvido no caso.
No ano seguinte voltou ao mesmo local para relatar, de novo, um jogo da I Divisão Nacional e tinha à sua espera o não convencido Capitão da GNR, o qual reteve o nosso Artur Agostinho para um intenso interrogatório, tendo este como lema “suspeita de actividades subversivas e preparação de uma manifestação contra a actuação, em termos gerais, da GNR local”. Escusado será dizer que a sua libertação se concretizou muito depois de o jogo ter terminado, tendo o relato ficado sem efeito.
O seu "gooooooooooolooooooo", foi ouvido pela primeira vez nos finais dos anos 40, num jogo disputado entre o S. L. e Benfica e o F. C. do Porto e repetido centenas de vezes por todos os estádios nacionais, assim como pelo mundo onde a presença portuguesa, a nível de clubes ou de selecção, se fazia sentir.
O Escritor
A ideia de passar à escrita a sua experiência enquanto homem vivido, exilado e retornado, resultou num total de sete livros, a saber:
“Até na Prisão Fui Roubado” (1976-Memórias)
“Português Sem Portugal” (1977-Memórias)
“Ficheiros Indiscretos” (2002-Memórias)
“Os Abutres” (2004-Romance)
“Ninguém Morre Duas Vezes” (2007-Romance)
“Bela, Riquíssima e Além Disso.....Viúva” (2009-Romance)
“Flashback-Uma História da Vida Real” (Ésquilo-2011-Resumo de Memórias)
A Agência de Publicidade
Dando azo à sua grande capacidade de convencimento do auditório que o seguia em qualquer situação, fundou em 1948 a primeira agência publicitária do país, ou seja, a Sonarte.
Em 1981 após o seu regresso de exílio do Brasil, retoma a posição que tinha na Sonarte quando abandonou o País.
Condecoração
Em 2010 foi condecorado com o grau de “Comendador da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada”.
No acto da condecoração disse:
“Sinto-me privilegiado por fazer o que gosto e pertencer a uma grande família constituída por elementos da comunicação social, mas também dos rapazes do futebol do meu tempo, actores e cantores”
Rematando, após a cerimónia para um grupo de amigos:
“Realmente hoje foi um dos dias mais felizes da minha vida, felicidade, emoção, alegria, todas as coisas boas da vida me aconteceram hoje, incluindo a entrega da comenda e por causa da entrega da comenda”
Como demonstração de amizade e respeito pelo Homem e pelo profissional, assistiram à cerimónia dezenas de figuras directamente envolvidas com o desporto, como foi o caso de Eusébio, teatro e música ligeira, com a presença de Simone de Oliveira, assim como à Rádio e Televisão com os testemunhos de António Sala e Júlio Isidro.
Premiado
Em 2010 “Globo de Ouro SIC/Caras de Mérito e Excelência”
No uso da palavra, afirmou:
“Não importa ter muitos anos de idade desde que tenhamos memória”
Tendo concluído com a afirmação:
“Temos que ser sinceros. Eu gostei de receber o Globo. Acho que isto me faz bem”
Homenagens
A direcção Festival de Cinema do FamaFest, que decorreu em 2006 em Famalicão, prestou-lhe homenagem, apelidando-o de “Homem de Cultura”.
A RTP-Memória no dia de Natal de 2010, ou seja, no 90º aniversário de Artur Agostinho, prestou-lhe uma singela homenagem num programa de 60 minutos com o título:
“Parabéns Mestre Artur”
no qual participaram através de depoimentos a família mais chegada, amigos como Mário Zambujal, João David Nunes, Maria Helena d´Eça Leal, Manuel Barbosa, Júlio Isidro, Baptista Bastos, Virgílio Castelo e Ribeiro Cristóvão, sem esquecer gente do futebol - como os ex-internacionais Hilário (Sporting) e Simões (Benfica), tendo sido da responsabilidade de Elsa Estrela a Produção e de Filomena Fragoso a Realização.
Prémio Artur Agostinho
Nos últimos anos da sua vida regressou ao jornal desportivo Record na qualidade de colunista.
No sentido de ser feita a distinção do desportista do ano a Direcção do Jornal criou o “Prémio Artur Agostinho” o qual passou a ser atribuído a partir de 2005.
Fontes: História da Televisão em Portugal (Vasco Hogan Teves - TV Guia Editora - 1998), Dicionário do Cinema Português (Jorge Leitão Ramos - Editorial Caminho - 2011), Semanário Expresso, Semanário SOL, Lusa, Infopédia, Blogue Alma Lusa e Memória do Biógrafo