Texto: Carlos A Henriques
Apesar de o 3D, tanto em Cinema como Televisão, ter entrado num período menos favorável, a presente edição da IBC deu alguma esperança de retoma a médio prazo, contribuindo para tal, fundamentalmente, o aligeiramento do workflow empregue, o qual facilita o trabalho das equipas envolvidas tanto na rodagem como pós-produção, resultando a disponibilização de conteúdos em maior quantidade, assim como algumas soluções para o visionamento doméstico auto-estereoscópico, que o mesmo é dizer, sem a necessidade de recurso aos famigerados óculos.
Um outro aliciante para uma captação de imagem mais perfeita reside no desenvolvimento de dispositivos, conhecidos no meio pela designação “calculadores de captação 3D”, a partir dos quais se obtém, por exemplo, a indicação correcta das distâncias interaxiais, ou seja, as existentes entre os eixos ópticos das objectivas empregues, a partir de parâmetros requeridos pelos sistemas, o que nos permite definir com precisão a zona de conforto do 3D.
O recurso a estes calculadores dá realidade ao sonho do mais exigente Estereógrafo, correndo, para a aplicação 3D Movie, em qualquer iPhone, o que facilita todo o trabalho sem consumo de tempo, podendo o mesmo ser com diversas marcas de câmaras profissionais como acontece com a Arri Alexa normal, M e XT, a SI-2K, Red One, Grass Valley LDX, Sony F65/55/5, BlackMagic Ursa, para além da grande panóplia de câmaras DSLR (Canon e outras).
Fundamentos: Como Funciona 3D
Ao assistir-se, numa sala de Cinema, ou em casa num televisor, a um produto audiovisual com a característica 3D, o que se vê é uma imagem resultante da fusão pelo cérebro de duas imagens, correspondendo uma ao observado pela câmara respeitante ao olho esquerdo e outra ao olho direito, dando a percepção da profundidade. Graças às texturas apresentadas por cada uma das imagens, assim como as distâncias relativas entre estas, o cérebro consegue calcular, com grande precisão, essas mesmas distâncias.
O cérebro recorre a uma série de outras características como, por exemplo, perspectiva, foco, ocultação, contraste, paralaxe de movimento e outros factores para a determinação da distâncias. Contudo, nos 10 metros mais próximos às objectivas o parâmetro mais importante é o ângulo existente entre os olhos quando se observa, na realidade, um dado objecto.
O cérebro recorre a um lote variado de outras características para a determinação da distância entre objectos como, por exemplo, a escala dada pela textura, perspectiva, focos, ocultação, contraste, paralaxe de movimento e demais elementos. Contudo, nos 10 metros mais próximos de observação o elemento fundamental é o ângulo formado entre as direcções para onde os olhos se estão a fixar.
Esta característica é conhecida pela designação de estereópsis ou disparidade da retina ou binocular.
Ao criarem-se imagens 3D no Cinema ou Televisão, a característica explorada é precisamente a profundidade da estereópsis, o que vai criar no cérebro o entendimento da profundidade observada.
Mas, dado que a estereópsis só funciona dentro dos 10 metros mais próximos dos olhos, é esta a distância máxima que os olhos podem abarcar sem que estes se encontrem paralelos, o que obriga o cérebro a recorrer a outras características para distâncias superiores.
É óbvio que se podem captar imagens tridimensionais a 100 metros de distância ou superior, só que as imagens serão comprimidas para uma distância equivalente a 10 metros, o que provoca uma sensação estranha no visionamento das mesmas, pois os elementos em cena passam a ser vistos como miniaturas face ao fundo onde estão inseridas.
Um bom Estereógrafo terá que recorrer a outras características de modo a dar uma boa indicação da cena enquadrada como acontece com o enquadramento de uma linha férrea no qual a imagem dos carris parte de uma posição próxima, guiando os olhos para as distâncias de maior porte. A imagem de uma estrada resulta, de igual modo, muito bem, face à continuidade que esta apresenta rumo ao infinito.
Os espectadores ao olharem para o ecrã, seja na sala de Cinema ou em casa perante um televisor, mais não fazem do que convergirem os olhos para os elementos presentes em ambas as imagens, o que obriga, no acto de captação, a um procedimento correcto de modo a conduzir, devidamente, o movimento dos olhos no visionamento, de modo a ter-se a correcta percepção da profundidade.
Tal é conseguido através da correcção da distância entre os eixos ópticos das câmaras, ou seja, da chamada distância interaxial, tendo tal procedimento que se verificar plano-a-plano.
Para uma profundidade natural na qual se tem uma agradável percepção visual, a distância interaxial deverá ser corrigida de acordo com a profundidade que está a ser captada. Se tal não acontecer, na fase de visionamento ir-se-á forçar cada um dos olhos a verem para além ou para aquém do que foi considerado normal durante a rodagem, o que irá provocar cansaço visual e mesmo até dores de cabeça aos espectadores.
Como Funciona Um Calculador 3D?
O calculador 3D procede ao cálculo correcto da distância interaxial (por vezes designada, de um modo não correcto por distância interocular) a partir de um reduzido conjunto de parâmetros.
O interface com o calculador é deveras acessível, sendo os elementos primários a fornecer constituídos pelas distâncias mínimas e máximas aos objectos presentes em cena, assim como os elementos respeitantes às câmaras a usar como, distância focal das objectivas, dimensões dos sensores, tamanho das dimensões onde vai ser feito o visionamento (numa sala de cinema é normal contar-se com cerca de 12 metros, havendo, contudo, ecrãs de maiores e menores dimensões), assim como a profundidade efectivamente desejada.
Chama-se a atenção para a questão das dimensões do ecrã, dado que, para além dos múltiplos tamanhos em salas de cinema, a panóplia dos mesmos quando se passa a equipamentos domésticos como, televisores, computadores de mesa e portáteis, telemóveis e televisores portáteis, é deveras impressionante, tendo que haver, para cada situação, o devido tratamento.
Caso não se saiba as dimensões dos sensores, terá que se fazer um pesquisa junto do fornecedor/fabricante, ou, então, recorre-se ao Google, bastando para tal a marca e o modelo da câmara ou câmaras usadas.
Na introdução dos pontos mais próximos e afastados há que ter em atenção o facto de o mais próximo não dever ser inferior a um metro da objectiva, caso contrário irá haver uma aproximação demasiada, o que causa desconforto ao espectador, assim como o mais afastado, o qual irá constituir o fundo, se for, por exemplo, uma montanha a indicação deverá ser algo em torno dos 2.000 metros.
Caso se opte por uma distância mais próxima inferior a um metro, partindo do princípio que a câmara ou câmaras utilizadas permitam, faça-o por um período que seja o mais curto possível, senão vai ter que suportar os protestos dos espectadores, e estes intensas dores de cabeça.
A captação de imagens 3D é um processo criativo, sendo o calculador 3D uma ferramenta para o guiar no que pode ou não fazer sem que a sua audiência sofra das suas opções, funcionando este como um Estereógrafo, contudo a composição final deverá ser sua, não deixando a um software insensível as decisões que deve ser você a tomar.
Esta é a razão pela qual se recomenda o uso deste tipo de aparelhos em situação de teste, o que o torna mais familiarizado com as várias opções a que vai estar sujeito durante a rodagem a sério.
Relativamente à monição de rodagem a recomendação vai para um monitor cujo tamanho esteja o mais próximo possível das dimensões do ecrã onde vai ser visionado o produto final.
É óbvio que o uso de um ecrã com 12 ou mais metros não é, deveras, recomendável, caso se esteja na rodagem de um filme para passar em salas de Cinema, devendo optar-se pelo chamamento ao bom senso e ao praticamente viável.
Philip Bloom - DOP
Contudo, se estiver a rodar num local onde existe um ecrã com as dimensões parecidas ao que vai usar publicamente, tente a sua utilização, pois garantimos que terá resultados surpreendentes.