O Vaticínio de Um Director de Fotografia
2015-02-20
Texto: Tony Costa
A grande novidade a tirar deste ano das nomeações para a melhor Direção de Fotografia é que nenhuma, ao contrário de anos anteriores, é marcadamente fotografia de pós-produção.
Nas duas últimas edições os vencedores “Vida de Pi” e “Gravidade” foram filmes marcadamente laboratoriais, cuja imagem foi quase na totalidade feita em computador.
Este ano regressa-se às origens e centrando-se na essência do trabalho do Diretor de Fotografia.
Mas, para além desta observação há uma outra novidade a apontar, ou seja, a nomeação do filme polaco “Ida” se não é inédito, é pelo menos raro que um filme fora do grande circuito comercial e ainda por cima falado noutra língua que não a inglesa, seja nomeado para Óscar de Melhor Fotografia.
Junta-se-lhe, também, outra nomeação para Melhor Filme Estrangeiro onde, sinceramente, acho que terá mais possibilidades, tendo em conta que o filme russo “Leviathan”, apesar de ser mais consistente, tem contudo o handicap de a Rússia não andar de boas relações com o Ocidente devido às questões Ucranianas.
Este fator tem sempre o seu peso, tal como acontece com o tema do filme polaco, pois abordar um caso sério e muito forte da história da Polónia, no caso particular da forma como os polacos não tomaram uma posição clara contra os nazis na questão judaica durante a II Guerra Mundial.
Director de Fotografia: Lukasz Zal and Ryszard Lenczewski
Mas é da fotografia que quero falar e este é, sem dúvida, o meu filme favorito.
Mas será estranho que a Academia Americana, por vezes tão conservadora, vá premiar um filme onde a estética fotográfica é absolutamente dominante na narrativa.
O preto-e-branco e o formato 4:3 são “excessos” artísticos que podem jogar contra o filme. Porém o facto de ser nomeado dá, à partida, uma merecida homenagem à fotografia sublime de um filme que faz da composição extremada de planos fixos em 4:3 e contra as regras na sua marca profunda.
É um belíssimo filme, a não perder, pelo que aconselho o seu visionamento a qualquer estudante ou profissional de imagem.
Será que Roger Deakins quebrará o enguiço com este filme modesto fotograficamente mas muito competente, chamado “Invencível”?
Parece que não há outro nomeado mais azarado que o britânico Deakins, pois já foi nomeado por 12 vezes e nunca ganhou, dando a entender tratar-se de uma missão impossível, mas, na verdade a Academia pode ter isso em conta mesmo que o filme não tenha o fulgor de outros que Deakins fotografou, nomeadamente “True Grit”.
Director de Fotografia: Roger Deakins BSC, ASC
Se lhe tocar o prémio é uma homenagem da Academia àquele que é o mais reconhecido Diretor de Fotografia da atualidade.
Independentemente de vencer ou não o prestígio e o talento de Deakins sairá intocável.
Outro britânico, Dick Pope, surpreende-nos com uma sublime fotografia que mais se assemelha às pinturas do próprio protagonista. Mas foi traído pela deficiente e pouco talentosa equipa de efeitos especiais que destruíram o filme no trabalho de estúdio quando este visita a sua amante à beira mar.
Director de Fotografia: Dick Pope BSC
Os planos da janela são claramente falsos na perspectiva a na tonalidade da luz.
Mais um filme em 4:3, o formato renascido das cinzas depois do 1:85 e do anamórfico. O combate ao formato televisivo de 16:9 está aí. “The Grand Budapest Hotel” é outro, à semelhança de “Ida”, que também possui uma estética marcada e forte.
Director de Fotografia: Robert Yeoman
O estilo centrado, uma cópia de Stanley Kubrick, trás a este filme um estilo pictórico muito interessante mas nada de verdadeiramente extraordinário ao ponto de poder arrebatar o galardão máximo.
Para o galardão fica o badalado “Birdman”, muito certamente aquele que a Academia irá escolher entre “Ida” e o filme de Deakins.
Para o filme de Angelina Jolie a atribuição será uma espécie de homenagem ao homem que já lá foi por 13 vezes e saiu sem nada ou para “Aida” pela sua originalidade de uma nomeação nesta categoria fora do universo americano e pela tema forte que aborda. Para além, claro, da sua sublime fotografia a preto-e-branco.
Director de Fotografia: Emmanuel Lubezki AMC, ASC
Mas, “Birdman”, apesar de não ser uma originalidade o facto de ser feito como se de um único plano se tratasse, Hitchcock, em “A Corda”, já o fez e em circunstâncias bem mais difíceis, mas porque a técnica mesmo subtil, como no caso deste filme, onde se esconde o reflexo da câmara no jogo de espelhos poderá ser o favorito da Academia.
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